30 janeiro 2010

1, 2, 3, Chávez tas ponchao!



Em circunstâncias normais, este vídeo teria sido postado na sessão "vídeos" do blog. No entanto, ele comporta tantas reflexões que achei melhor postá-lo aqui mesmo. Não li absolutamente nada a respeito desse vídeo na chamada "grande imprensa" que, na média, cobre mal a crise na Venezuela. Trata-se de uma final de beisebol entre os times Caracas e Magallanes, de Valencia. O evento ocorreu no dia 24, desse mesmo mês, no Estádio Universitário, em Caracas. Um grupo de estudantes começa a gritar "1, 2, 3, Chávez tas ponchao", uma gíria que quer dizer "fora do jogo". A palavra de ordem tomou o estádio e foi repetida num coro de milhares de vozes. Esse grito foi intercalado com outro: "Sucio/ sucio/ sucio": "Sujo/ sujo/sujo". Uma manifestação semelhante já havia acontecido em Valencia, e a polícia desceu o sarrafo na população indgnada. No domingo, apesar da presença de policiais da tropa de choque (vê-se um deles no vídeo), nada pôde ser feito. Era impossível descer o porrete no estádio inteiro.

Imagens assim não podem mais ser exibidas na TV da Venezuela. Chávez tem o controle de 75% da radiodifusão. E o que resta de transmissão privada está subordinada a uma lei ditatorial, que dá ao tirano o poder de simplesmente retirar a emissora do ar, como fez na semana passada com seis TVs a cabo, inclusive a RCTV Internacional. A TV de sinal aberto do grupo já havia sido cassada. E Chávez pode alegar o que bem entender. No caso em particular, afirmou que elas desrespeitaram a lei quando se negaram a transmitir um discurso seu a militantes bolivarianos. Mas há também a possibilidade de acusá-las de incitamento à subversão. Em suma: o Bandoleiro de Caracas intervém quando e onde quiser.

Sufocados, levando porretada nas ruas, impedidos de se organizar institucionalmente, proibidos de se reunir em praça pública sem prévia autorização, os venezuelanos que discordam do governo encontraram uma maneira de informar ao mundo a sua luta por democracia: o jogo de beisebol. Os protestos são filmados e ganham o mundo. Também tem sido assim no Irã, onde a imprensa vive sob severa censura. Nesse caso, as novas tecnologias, como celulares, acabam sendo aliadas da democracia.

O governo Chávez está se deteriorando e o regime assume, cada vez mais, características de um ditadura militar — a despeito de todos os truques vagabundos por ele empregados para alegar que está no poder porque foi eleito. A infra-estrutura venezuelana entrou em colapso. O país enfrenta racionamento de água e de energia. Os mercados "estatais" estão com as gôndolas vazias e a população está estocando comida; a inflação, que já era alta, cresceu por causa da desvalorização da moeda; Chávez prossegue com suas nacionalizações, o que se tem traduzido por aumento da ineficiência; a indústria está desaparecendo, e a agricultura, na prática, acabou. Ele se sustenta com o assistencialismo agressivo que a receita do petróleo permite, o apoio de milícias armadas e o suporte, por enquanto ao menos, dos militares. Acuado pelo óbvio desastre que é seu governo e por rachas na cúpula bolivariana, ele ameaça radicalizar.

Ao visitar o Fórum Social Mundial, reunido em Porto Alegre, Lula saudou os "governos progressistas" da América Latina. Certamente a Venezuela estava entre eles. Embora tente negar às vezes, o petista é hoje o mais importante aliado incondicional de Hugo Chávez no mundo. Incondicional, sim; não adianta negar. Não há maluquice que este delinqüente tenha proclamado que não tenha recebido o apoio sem reservas do governo do Brasil: do alinhamento escancarado com as Farc, fornecendo-lhe dinheiro e armas, à tentativa de patrocinar um golpe em outro país, com tentou fazer em Honduras. A mais recente contribuição de Lula ao tirano foi patrocinar a aprovação no Senado do ingresso da Venezuela no Mercosul — que, note-se, dispõe de uma cláusula que exclui países que não respeitem a democracia.

O mais curioso e que os delinqüentes nativos — refiro-me aos nossos — que pregam a "democratização" dos meios de comunicação querem uma legislação semelhante à venezuelana. E, sendo assim, é claro que sonham com uma democrata à moda Chávez para poder aplicá-la com eficiência. Vejam ali no que deu a democracia chavista: a população opta por protestar em estádios porque, nas ruas, tem de enfrentar soldados armados.

A Venezuela é a pátria dos sonhos daqueles fedidos e fedidas do Fórum Social Mundial. Eles dizem: "Um outro mundo é possível". É claro que é. A depender dessa gente, pode ser muito pior e Chávez é a prova! A minha fórmula é outra: outros mundos são sempre possíveis, mas nenhum é aceitável fora da democracia representativa e do estado de direito.

E isso deixa as esquerdas, velhas e novas, fora do jogo.

29 janeiro 2010

Ainda o Haiti

Acabo de ler um texto escrito pelo professor e pesquisador da Unicamp, Omar Ribeiro de Thomaz, sobre o Haiti. Meu primeiro contato com a obra do professor Thomaz, ocorreu após o seu regresso de Inhambane, província de Moçambique. Lá, o professor acompanhou um grupo de pessoas levadas pela Frelimo - Frente de Libertação de Moçambique - para trabalhar em campos de reeducação. Na ocasião, o professor Thomaz prestou uma excelente contribuição a sociedade ao descrever os horrores dos campos de reeducação moçambiquenhos. Infelizmente, o mesmo não pode ser dito da sua descrição do desastre que assolou o Haiti.

Em seu texto, o professor Thomaz afirma que "a missão das Nações Unidas foi incapaz de ir além de resgatar seus próprios mortos e feridos [...] e o que vemos são haitianos ajudando haitianos". Um retrato bem diferente daquele que os correspondentes internacionais, das mais diferentes agências de jornalismo, nos ajudaram a pintar. Diego Escosteguy, um dos correspondentes brasileiros no Haiti, afirma que a população está vivendo em "estado natural", condição que teria prevalecido na humanidade antes do estabelecimento das formas mais rudimentares de organização social. Gangues armadas saqueiam, roubam, estupram e matam. Grupos de haitianos desabrigados pelo terremoto se entrelaçam nas calçadas formando enormes tapetes humanos, de modo a passar a noite com um mínimo de segurança. É um quadro aterrador mesmo para um país que, antes de ser arrasado pelo terremoto, já era um dos mais abalados pelo banditismo e pela miséria. Thomas Hobbes teria agora em Porto Príncipe a chance de ver a realidade de um mundo sem lei em que a vida humana é "solitária, miserável, sórdida, brutal e curta". A catástrofe natural fez emergir no Haiti o que há de pior na espécie humana e endossou as palavras do filósofo inglês que disse que "o homem é o lobo do próprio homem".

Felizmente, a tragédia do Haiti também fez brotar o que a espécie humana tem de melhor: a solidariedade. Horas depois do dimensionamento da magnitude da tragédia, partiram ofertas de ajuda de todas as partes do planeta, da vizinha República Dominicana à distante Turquia, da pobre Bolívia a potências econômicas como os Estados Unidos e a Alemanha. Logo se somariam aos 9000 homens da força permanente da ONU no Haiti, comandada pelo Exército brasileiro, milhares de bombeiros e dezenas de equipes médicas de quase uma dezena de nacionalidades. As doações em dinheiro, alimentos e remédios superaram em volume e rapidez aquelas feitas em outros desastres naturais de larga escala. A Cruz Vermelha recebeu em uma semana o dobro das doações recolhidas durante todo o ano de 2009. Qualquer analista minimamante arguto e compromissado com a verdade, sabe que esses homens fizeram e estão fazendo bem mais do que "resgatar seus próprios mortos e feridos". Os EUA, por exemplo, tão logo souberam da tragédia enviaram vários navios da Guarda Costeira e um porta-aviões com 19 helicópteros, 51 leitos hospitalares e, três centros cirúrgicos e capacidade para tornar potável centenas de litros de água. Os americanos também enviaram uma força tarefa com mais de 2.200 fuzileiros e um navio hospital. Infelizmente, para os haitianos, o esforço humanitário promovido por outros países foi ofuscado pela inssensibilidade daqueles que tentaram e, ao que tudo indica, continuam tentando, fazer de uma catástrofe natural um fato político.

Como se não bastasse ter ignorado a ajuda internacional, o professor insinua que a culpa pela demora na ajuda é culpa das potências estrangeiras. Prestem atenção no trecho em que ele diz "nos perguntávamos do porquê da demora de disponibilizar comida e remédios já no aeroporto de Porto Príncipe para as centenas de milhares de pessoas que se aglomeravam nos campos de refugiados improvisados por todos os lados, a resposta era que não existiam canais locais capazes de serem mobilizados para a tarefa". De fato, não haviam canais locais capazes de serem mobilizados para essa tarefa. O gargálo logistíco era uma das maiores dificuldades para a ajuda humanitária que chegava ao país e só foi resolvido após a chegada dos militares americanos. Sob o comando dos EUA, o aeroporto de Porto Princípe que recebia uma média de 35 vôos por dia, passou a receber mais de 200. Ainda assim, existem aviões que esperam até 24 horas para pousar. Como se vê, há um motivo mais do que satisfatório para a demora na prestação de ajuda e, por alguma razão que nem Freud é capaz de explicar, o professor e os seus alunos preferiram ignorá-la.

Na segunda parte, que provavelmente foi escrita por Otávio Calegari Jorge, o texto se dedica a tratar dos "culpados" pelo terremoto. O professor e seu aluno partem da premissa cunhado por Eduardo Galeano de que os povos americanos são pobres, porque foram explorados. A tese de que o Haiti foi vítima da cobiça de potencias estrangeiras que conspiraram para que o país se tornasse aquilo que é hoje, beira o rídiculo. Alguém aí tem uma boa hipótese para explicar por que três países — nada menos do que EUA, França e Canadá — se uniriam para conspirar contra o Haiti? Será que se sentiam ameaçados pelo modelo haitiano? Estariam interessados nas riquezas do Haiti? Será que o professor e o seu aluno acreditam que se o Haiti ainda fosse governado por Jean Baptiste Aristide, os efeitos do terremoto teriam sido menos notáveis e dantescos? É evidente que um terremoto produz efeitos diferentes no Haiti e no Japão, mas não podemos ignorar a realidade do Haiti e o estado de pobreza em que vivem os seus cidadãos.

O professor e seu aluno seguem falando sobre o "demantelamento do estado haitiano". Francamente, não sei o que significa isso. Sob o regime de François Duvalier, mais conhecido como Papa Doc, o estado haitiano foi ao zenite. Com seus tontons macoutes, Papa Doc se infiltrou nos aspectos mais provincianos da vida pública, eliminou desafetos, instaurou um regime de terror e estatizou praticamente toda a economia. Essas medidas foram desastrosas para o Haiti, que ao final do governo, era a nação mais pobre das Américas e tinha um dos piores índices de desenvolvimento humano do mundo! As coisas não foram muito diferentes sob o regime de Jean-Claude Duvalier, o Baby Doc, que deu continuidade aos planos do seu pai de estatizar toda a economia submetendo-a aos seus desmandos. Aqui entre nós, se o Haiti tivésse sido vítima "de profissionais engravatados que aplicavam a mesma receita em qualquer lugar: desregulamentação, estado mínimo, livre comércio", hoje o país seria própsero e muito parecido com o Chile. Todo mundo sabe que a punjança economica do Chile não se deve ao governo de Salvador Allende, mas sim as reformas de Augusto Pinochet. O Milagre do Chile, expressão chunhada pelo economista americano Milton Friedman, permitiu um maior desenovolvimento economico em comparação ao restante dos países americanos. Mas como isso foi possível? Após chegar ao governo, em 73, Pinochet encontrou um país com uma inflação de 342% ao ano, reservas de caixa inexistentes e um PIB baixíssimo. Para sanar estes, e outros problemas, Pinochet delegou a responsabilidade pelas finanças do país a um grupo de jovens economistas recem formados que passaram a ser conhecidos como "Chicago Boys". Estes jovens traziam na bagagem ideias como economia livre de regulmentação estatal, capitalismo laisses faire, estado mínimo e câmbio flutuante. Em outras palavras: o que salvou o Chile da banca rota foi justamente aquilo que o autor, ou autores, do texto afirmam que levou o Haiti a falência. Não acredito que homens como o professor Thomaz e seu aluno sejam ignorantes neste tema; acredito sim, que eles adaptaram os fatos para que se ajustassem as suas premissas.

Protestos e mais protestos

Desde a semana passada, quando Chávez decidiu fechar 6 emissoras de TV à cabo, o governo venezuelano vem enfrentando protestos. Ao que tudo indica, Chávez está dando os primeiros passos rumo a seu destino. Ou melhor, seu destino começa a das os primeiros passos em direção a ele. Aterrorizados com a sanha expropriadora de Hugo Chávez, a imprensa foi as ruas e decidiu cobrir os protestos organizados pelos estudantes. Finalmente, os jornalistas venezuelanos aprenderam a lição de Martin Niemöller:
Um dia vieram e levaram o meu vizinho, que era judeu
Como não sou judeu, não me incomodei
No dia seguinte vieram e levaram o meu outro vizinho, que era comunista
Como não sou comunista, não me incomodei
No terceiro dia vieram e levaram o meu vizinho católico
Como não sou católico, não me incomodei
No quarto dia vieram e me levaram
Mas já não havia ninguém para reclamar
Felizmente, o povo venezuelano acordou antes que não houvesse mais ninguém para reclamar dos arroubos totalitários de Hugo Chávez. Mas derrotar a tirania não é uma tarefa fácil.
Chávez, já convocou as polícias regionais para reprimir os estudantes e, na prática, ameaçou os governadores: se isso não for feito, os distritos sofrerão uma intervenção federal. Chavito acusa os estudantes de quererem incendiar o país e de estarem a serviço da "direita" e dos "fascistas". É isso mesmo! Na Venezuela a culpa pelos fracassos do governo é sempre dos subalternos, como se o sistema não fosse absolutamente centralizado nas mãos de Hugo Chávez. O Simon Bolívar do século XXI tem sempre que culpar alguém pelo desastre do regime, porque para ele, falíveis são seus auxiliares, não ele e o sistema miserável que infligiu ao país. Aliás, essa tranferência de responsabilidade é uma carcterística dos líderes de esquerda. Há pouco tempo, quando a imprensa internacional descobriu que Cuba havia se tornado entreposto da cocaína colombiana, Fidel e Raúl mandaram matar uxiliares, como o general Arnaldo Ochoa, o "culpado".

Enquanto isso, Lula, o nosso liberticida, assegura que "há liberdade até demais na Venezuela". O presidente brasileiros ignora - por má-fé ou ignorância - que o projeto de poder de Hugo Chávez sempre foi acabar com as emissoras privadas de rádio e TV ou entregá-las a "empresários" bolivarianos. Na prática, o que Chávez está realizando na Venezuela é o que Dilma Rousseff, Paulo Vanucchi e Franklin Martins querem realizar aqui. Esse poder discricionário para punir emissoras é tudo o que querem os caudilhos da Confecom, da Conferência de Cultura e do falso Programa Nacional de Direitos Humanos — apenas um roteiro dos delírios esquerdopatas da turma que quer Dilmova na Presidência da República. É bom que se diga que o Brasil está ficando cada vez mais parecido com a Venezuela. Fala-se, inclusive, em aumentar ainda mais o controle estatal sobre as emissoras; típico de ditaduras e de ditadores.

Resta saber se a imprensa brasileira terá a mesma coragem que a venezuelana. Resta saber se os nossos jornalistas terão a decência de se insurgir em nome daquilo que é correto: a liberdade, enquanto direito fundamental do homem.

28 janeiro 2010

Dilma e as creches

Esse mês começou mal e, ao que tudo indica, vai terminar ainda pior. Na segunda-feira a comitiva presidencial passou por por São Paulo e inaugurou outra peça de ficção chamada PAC. Em seguida, Lula e seus asseclas seguiram para o Rio, onde o presidente inaugurou uma creche. Em qualquer lugar do mundo, a inaguração de uma creche é vista como algo rotineiro, que dura menos de meia hora. Convenhamos, meia-hora é tempo suficiente para o descerramento da placa, o pronuciamento de meia dúzia de palavras do prefeito e os agradecimentos de um parente do homenageado. Nesta semana, pela primeira vez a inauguração de uma creche foi estrelada pelo presidente da República e transformada pelos oradores em marca de estadista.

Lula, que se considera o maior dos governantes desde Tomé de Sousa, não podia desperdiçar a chance de promover a sua candidata as custas do herário mais uma vez. Mas não foi o ato de inauguração da creche que me chamou a atenção e sim a fala da candidata petista, Dilma Rousseff. De acordo com a página da Casa Civil, o mais imparcial site de notícias de todo o país, a ministra Dilma Rousseff anunciou que um das prioridades do PAC 2 será o investimento em creches. Segundo a ministra/candidata/homenzarrão Dilma Roussef:
"Graças ao PAC 2, teremos creches para todas as crianças desse país. Porque a diferença entre as famílias com mais posse e as sem posses está justamente na creche".
Como eu, que adoro falar sobre educação, não me dei conta de uma verdade tão solerte? Tenho uma filha de oito anos, matriculada em uma escola particular. Ela é criança, logo, pelo que entendi da proposta da Dilma, a escola dela será fechada e ela terá de ir para uma creche do PAC. Todas as demais escolas infantis particulares deste país serão abolidas porque todas as crianças brasileiras, "com mais posse ou sem posses", irão para creches do PAC. E ainda há quem ache que falar mal é só uma questão de estilo e que isso não tem efeito na vida prática…

E por que creches para todos?

"Nós sabemos e aprendemos que temos que olhar o indicador social. Olhar para que todos os brasileiros tenham proteção. Olhar cada uma das famílias brasileiras. Porque todos tem direito a mesma oportunidade e oportunidade começa aí, na creche".
No fantástico mundo de Dilma, as pessoas sabem antes de aprender. Mas isso não vem ao caso. Pelo que captei nas entrelinhas, nas creches do PAC 2, haverá recrutadores de RH para prospectar os melhores talentos ainda no berço. E essa, meus caros leitores, é a candidata de Lula a presidência da república. Francamente, pensar em uma mulher como ela ocupado o posto que hoje pertence a Lula, é como pensar na Marlene Mattos ocupando o posto da Xuxa.

27 janeiro 2010

Os neogolpistas

Enfim terminou a ópera bufa de Honduras. Com a posse de Porfírio Lobo, o país deve voltar ao prumo e normalizar as relações comerciais com os seus vizinhos. É provavel que Zelaya deixe Honduras pela porta dos fundos, como convêm a um pretenso golpista. O colunista da Veja, Augusto Nunes, já havia previsto esse desfecho no texto "A tarde de janeiro em que Zelaya resolveu cair fora da pensão". Já posso até imaginar o qui pro có que isso irá gerar! Provavelmente Lula vai telefonar para os EUA e perguntar se a "Uáite Rause" vai mesmo reconhecer o pleito hondurenho que deu a vitória a Porfírio Lobo. Ao ouvir que sim, Lula vai soltar um "iú ar a san ófi a bítichi" que aprendeu com Celso Amorim e o ministro Marco Aurélio "Top Top" Garcia. Não será surpreendente se Lula proibir Barack Obama de chamá-lo de Cara e romper relações de vez com os EUA.

Fiz essa breve digressão para falar de um drama que assola toda o mundo moderno e que, parece, não vai ter fim tão cedo: o neogolpe. Antigamente, os ditadores eram mais sinceros. Ou acatavam a democracia ou lhe davam um pé no traseiro. Eram raros os que procuravam fingir alguma forma de simpatia pelo regime democrático. Quando ficavam com o saco cheio de eleições, acabavam com elas e pronto. Em muitos países africanos e asiáticos ainda é assim. Nos comunistas, também não há essa frescura de eleições livres (os comunas só apreciam a liberdade de escolha nos países onde ainda não estão no poder).

Hoje em dia, vemos a notável desfaçatez com que líderes da América Latina que nascem populistas avançam depressa para a tentativa de consolidar ditaduras: Chávez na Venezuela; Rafael Correa no Equador; Evo Morales na Bolívia... Zelaya, em Honduras. Mas não é um mal só deste continente. Vejam a Rússia (um país governado por um misto de nacionalismo soviético e capitalismo de mercado). Vladimir Putin, uma espécie de czar pós-moderno, manobrou o aparato democrático para lhe dar uma vitória que corresponde a nada menos de 80% da Duma (considerados dois partidecos que o apóiam).

Não podendo se reeleger como presidente, Putin organizou uma máquina eleitoral que garantiu a sua permanência no cargo de primeiro-ministro e lhe deu condições de "eleger" o seu substituto na Presidência. E assim, Medvedev chegou ao poder! A rigor, o czar pós-moderno da Rússia preparou o caminho para se eternizar no poder e fez isso sem disparar um tiro sequer. Os índicios de que houve fraude nas eleições russa foram tão escandalosos que na Chechênia, onde a população possui um ódio mortal dos sovietes, o partido do "czar" obteve uma maioria superior a 99% dos votos! É evidente que houve fraude, e das grossas. Mas quem se atreve a contestar o novo ditador?

Vivemos dias um tanto bárbaros. Os países nos quais a democracia está realmente consolidada e onde ninguém ousa questionar os seus princípios — EUA, Japão e aqueles antes chamados de Europa Ocidental — vivem as suas próprias crises: ou de ameaça de recessão (no caso dos EUA) ou de baixo crescimento (no caso dos outros) e, curiosamente, dependem da estabilidade desse mundo periférico. Há muito está combinado que não se vai cobrar democracia à China — este um caso escandaloso de ditadura. E também não se vai bulir com a Rússia.

Mesmo nos países antes sob a chamada influência americana, testam-se formulas particulares de democracia, como se o regime fosse uma obra aberta, que pudesse ir perdendo características essenciais sem, no entanto, jamais deixar de ser democracia. Chávez foi derrotado no referendo que decidiria a reforma constitucional venezuelana, mas isso não impediu que ele fizésse, por meio de um decreto, as alterações que julgava necessário na Constituição. Assim, o Simon Bolívar do século XXI, garantiu a sua permanência no poder por sabê-se lá quanto tempo.

Processos semelhantes ocorreram em países como Equador, Bolívia, Honduras e Nicarágua. Quer dizer, as coisas foram um pouco diferentes na Nicarágua. Lá o presidente eleito decidiu fazer uma leitura seletiva da Constituição e ordenou ao judiciário que apagasse um trecho que inviabilizava a sua reeleição. Não houve referendos e nem plebiscitos; houve apenas um ardil para escamotear o desejo de poder do governante local.

A principal característica dos novos ditadores é rejeitar os instrumentos a que recorriam as ditaduras. Ao contrário: precisam do concurso das urnas e do endosso das maiorias para construir suas tiranias. E nem se ocupam de incendiar o Reichstag ou de marchar sobre Roma. O seu trabalho consiste em ir desmoralizando as instituições e mudando-as um pouco por dia. Como diria Boris Casoy: "Isto é uma vergonha"!


23 janeiro 2010

O Haiti se tornou uma grande feira das vaidades

Se não fossem os Estados Unidos, a hecatombe no Haiti teria tido consequências ainda mais devastadoras. Nenhum outro país teria condições de fazer tanto em tão pouco tempo. No dia seguinte ao terremoto, 1 000 soldados já seguiam para a capital, Porto Príncipe. Drenaram a pista do aeroporto e instalaram uma torre de controle improvisada, substituindo a danificada no desastre. Foi a medida mais importante para começar a resolver o maior desafio da ajuda humanitária ao Haiti: o gargalo logístico. O país ocupa metade de uma ilha, e a infraestrutura de transportes, já precária, literalmente desapareceu. Ao contrário do grande tsunami de 2004 na Ásia, que se espalhou pelas zonas costeiras de doze países, no Haiti foi tudo concentrado em Porto Príncipe e adjacências, que viraram uma espécie de porta-aviões avariado - com centenas e centenas de voos em volta.

A intervenção de emergência feita pelos americanos no aeroporto, que até o ano passado atendia no máximo a cinco voos internacionais diários, permitiu acomodar até 150 aeronaves por dia. Mesmo assim, centenas de aviões foram desviados para a vizinha República Dominicana. Os americanos enviaram ao todo 20 000 soldados para, na prática, assumir o coração da ajuda humanitária: desentupir as vias de acesso e distribuir comida - e também, pela intervenção extensa, prevenir um eventual êxodo pelo mar rumo à Flórida. A presença maciça mexeu com o ego de diplomatas brasileiros e europeus, fazendo aflorar o ranço do anti-americanismo patólogico. A certa altura, os americanos foram acusados de restringir o acesso ao aeroporto que eles mesmos colocaram em operação. Houve atrasos inexplicáveis e outras complicações desesperadoras, mas, se alguém estiver no meio de um desastre épico e puder escolher quem irá ajudar, vai preferir Barack Obama ou Hugo Chávez? A escolha é óbvia e apenas os militantes de esquerda, ansiosos por fazer de uma catástrofe natural um fato político sem precendentes, não percebem isso.

É preciso ressaltar que em questão de horas, os EUA mobilizaram mais recursos do que a ONU e o resto do mundo jamais conseguiriam mobilizar. Ainda assim, eles apanham por isso. Também apanhariam caso tivéssem cruzado os brazos e optado por não fazer nada. Apesar disso, alguns sites noticiaram que a presença dos EUA no Haiti, tem um caráter imperialista e neocolonialista. É óbvio que há um quê de delírio coletivo nessas notícias, de surrealismo. Isso evidencia o quão forte é o antiamericanismo, uma forma de recalque que explode na guerra ou na paz, estejam os EUA numa missão tipicamente militar — e o país estará sempre errado, claro — ou numa ação humanitária, como é o caso. O governo americano enviou 20 mil homens ao país devastado. As tropas da ONU, compostas por soldados de 19 países, incluindo o Brasil, somam hoje 9 mil. Depois de um grande esforço, as Nações Unidos aprovaram o envio de outros 3.500 (800 do Brasil), que vão se juntar aos 1.266 que lá estão.

A sugestão de que os americanos de comportam como "imperialistas" numa situação como essa é ridícula. O Brasil lidera as tropas da ONU, é verdade. Mas está preparado para assumir o comando de uma operação com essas dimensões? Quando falo em "preparo", não me refiro à formação desse ou daquele indivíduos. É uma questão de logística e de experiência firmada em ações em terra estrangeira. Não podemos nos esquecer que os norte-americanos lideraram o esforço pela reconstrução do Japão e da Alemanha, após a Segunda Guerra Mundial. E o Brasil? O que fez?

Liderar implica em assumir custos que, muitas vezes, não são nada modestos. Para manter a sua suposta hegemonia no Haiti, o governo brasileiro vai ter que "abrir os cofres", tirando dinheiro de ministérios como o da saúde e do planejamento. Isso nos remete a uma outra questão: desde quando saúde e planejamento se tornaram questões permutáveis? Desde que Lula decidiu pagar qualquer preço para ter a tão sonhada cadeira no Conselho de Segurança da ONU. Graças a essa aventura digna de um megalomaniaco, o presidente assinou uma MP que repassa R$ 375 milhões para ajuda ao Haiti. Dadas as circunstâncias em que vivemos - e a pressa dos petistas em ajudar os haitianos - começo a desconfiar que boa parte desse dinheiro vai para cofres de ONGs que acabarão por repatriá-lo.

Devemos nos perguntar se realmente adianta mandar milhões de dólares para o Haiti? Afinal, aquele país vem recebendo ajuda humanitária há anos e, ainda assim, continua sendo pobre e malfazejo. Segundo Bret Stephens, do The Wall Street Journal, devíamos mandar somente o essencial para lidar com os problemas imediatos e, de resto, deixar os haitianos se virarem por conta própria. Sthepens raciocina a partir de um relatório do Banco Mundial que informa que toda a ajuda fornecida pela instituição ao país entre 1986 e 2002 não deu resultados satisfatórios devido à esbórnia que são as instituições no país. Baseia-se também na declaração de um economista queniano a Der Spiegel, segundo o qual "os países [africanos] que arrecadaram mais auxílio internacional para desenvolvimento econômico são os que revelam piores performances".

De 2004 para cá, o governo federal gastou quase R$ 400 milhões para financiar as operações em solo hatitiano. É bom o Brasil ter juízo e começar a atinar para os custos dessa empreitada. Afinal, a tarefa está se mostrando tão dispendiosa quanto uma guerra e não tem surtido efeito algum. Ademais, anotem aí: restaurada alguma normalidade, começarão os conflitos políticos , pois terremotos não matam velhas rivalidades. Temos condições para isso? Agora, tudo é solidariedade; os brasileiros estão engajados a exemplo do que acontece com o resto do mundo, mas será sempre assim? Convém devolver este debate à terra. Se o Brasil quer mesmo ser o grande protagonista da reconstrução do Haiti, estes R$ 375 milhões, saudados como uma enorme contribuição — e dadas as nossas condições, isso é verdade — são só o começo de um poço sem fundo. Mesmerizada pela tragédia, boa parte da imprensa se nega até a pensar em fazer as contas; parecieria coisa de gente mesquinha…

Ocorre que o nosso país também tem as suas próprias urgências e deveria se dar por satisfeito com o fato dos EUA terem se apressado em pôr a sua fantástica máquina de guerra a serviço da ajuda humanitária. E àqueles que reclamam que a ação está "excessivamente militarizada", uma pergunta: existe, no mundo, alguma organização civil capaz de fazer o que os militares americanos já estão fazendo lá? Os recalcados poderiam moderar o seu ódio. Se não por respeito à lógica, ao menos por respeito às vítimas. E convém os brasileiros começarem a pensar que a tarefa se estende muito além desse delírio de onipotência que toma conta do governo Lula.

22 janeiro 2010

Apenas um retrato

Em tempos de tragédia, o papel da primeira-dama se torna ainda mais importante. Por conta disso, resolvi tirar um retrato 3 x 4 das esposas do nossos líderes, não todas claro, e exibi-lo para o deleite dos meus leitores.

Dona Santinha era mulher opiniática, mas ficava longe da política. Guardava-se para as coisas da religião, baixando pareceres burilados em conversas com parceiras de corte, costura e carolice, que reunia em tertúlias no Palácio Guanabara ou nas audiências sem testemunhas com dignitários da Igreja Católica. Ao casar-se com o tenente Eurico Gaspar Dutra, a carioca Carmela Telles Leite, viúva de outro militar, tinha 30 anos e dois filhos. Já ostentava o apelido que canonizou em vida essa feroz guardiã dos bons costumes. Em 1946, não lhe foi difícil induzir o marido presidente, devoto de Santo Antônio, a decretar o fechamento dos cassinos do Brasil.

Darcy Vargas, primeira-dama antes e depois de Carmela Dutra, a Dona Santinha, nunca perdeu tempo com essas coisas. Padroeira da linhagem dedicada ao trabalho social, a mulher de Getúlio consolidou a Legião Brasileira de Assistência e criou a Casa do Pequeno Jornaleiro. Tais iniciativas parecem tímidas demais se confrontadas com a inventividade tentacular da Comunidade Solidária dirigida por Ruth Cardoso, a única entre todas com profissão definida, luz própria e mente brilhante. Mas o Brasil do casal Vargas, pobre e injusto como todos os Brasis, era mais singelo.

Getúlio Vargas viajou para o Exterior uma única vez, e não foi além da Argentina. O presidente Fernando Henrique Cardoso somou mais horas de vôo que muito comandante de jato. FH divertiu-se com espetáculos refinados em distintos idiomas. A Getúlio bastava um bom teatro rebolado, sobretudo se a estrela era Virginia Lane, "A Vedete do Brasil". Virginia contou que, embora não tratasse de política nos encontros com Getúlio, teve a honra de conviver intimamente com "o maior estadista da República". Não revelou os quesitos que fundamentaram seu julgamento nem o peso atribuído a cada um.

Darcy e Ruth figuram na ala amplamente majoritária das primeiras-damas afinadas com a sobriedade requerida pelo posto. Embora diferentes no nível cultural, no grau de influência exercida sobre o marido em conversas a dois, no interesse por assuntos públicos, o temperamento reservado agrupa na mesma página da História mulheres como Sarah Kubitschek, Eloá Quadros, Scylla Medici, Lucy Geisel e Marli Sarney, além de Darcy Vargas, Santinha Dutra e Ruth Cardoso. Maria Tereza Goulart, a mais jovem, mais bela e mais injustiçada entre todas, foi apenas a perplexidade em palácios inseguros. E há, magnificamente jeca, o bloco das deslumbradas.

A madrinha é Yolanda Costa e Silva. Em Paris, às margens do Sena, Yolanda disse ao general Arthur, presidente eleito, uma das frases do século: "Quem diria, hein, Costa? Nós aqui e você Presidente da República" (chamar o marido pelo sobrenome é o cúmulo da cafonice). Dulce Figueiredo requisitava o avião presidencial para decolar rumo ao Rio e dançar em festas abrilhantadas pela presença do ator Omar Shariff. Rosane Collor levou para o centro do poder o sertão alagoano.

Marisa Letícia Lula da Silva não tem similares. Instalar a primeira-dama num gabinete do Planalto foi idéia de Duda Mendonça, convencido de que isso sublinharia a imagem do casal unido. Duda não aparece por lá faz tempo. Marisa continua, cada vez mais à vontade. Como quer distância de programas sociais, falta serviço e sobra tempo para tudo. Para entrar sem bater no gabinete do marido, para infiltrar floridas estrelas vermelhas nos jardins do Alvorada e da Granja do Torto tombados pelo Patrimônio Histórico e, sobretudo, para viajar com o presidente.

Como Lula se tornou o maior campeão de milhagem da História da República, Marisa Letícia divide com o marido o recorde que inspirou o título pelo qual será lembrada: Primeira Passageira. Pousos e decolagens pelos cinco continentes a aconselharam a restringir o mapa dos passeios a paragens especialmente glamurosas. A África está fora desde 2007. É diminuto o espaço reservado à América Latina e aos países do Leste europeu. A primeira-dama fez a opção preferencial por Paris e Roma. Não fala nenhum outro idioma, mas conseguiu a cidadania italiana e o passaporte que lhe permite viajar ─ em silêncio ─ pelo mundo civilizadíssimo.

Nunca houve uma primeira-dama assim. Nem haverá.

O paradoxo do governo brasileiro

Fala-se muito em Direitos Humanos no Brasil, mas as discussões são cada vez mais rasas e superfíciais. Neste momento, há um conflito armado em andamento na região de Darfur, no oeste do Sudão. Os protagonistas são os janjawid - milicianos recrutados entre os baggara, tribos nômades de língua árabe e religião muçulmana - e os povos não-árabes que vivem na região. O governo sudanês, representado por Omar Al Bashir, nega publicamente que apóia os janjawid, mas tem fornecido armas e assistência ao grupo miliciano. A postura de Al Bashir lembra a do general Bizimungu, em Ruanda, que ao invés de combater a milícia Interahamwe, colaborou - fornecendo armas e munição - e fazendo vista grossa ao genocídio dos tutsis. Darfur já deixou um saldo de mais de 400 mil mortos e 2 milhões de pessoas sem abrigo, é de longe uma das maiores tragédias da história da humanidade. Ainda assim, não se houve um pio a respeito do assunto.

O mundo tem feito um esforço ímpar para ignorar o sofrimento das vítimas em Darfur e o Brasil é parte desse esforço. No ano passado, o governo brasileiro enviou um representante para a Conferência de Durban, em Genebra, Suiça. Embora o mote da conferência fossem os direitos humanos, nenhuma das questões inerentes a vida foram abordados naquela ocasião. A ONU manteve o silêncio em torno de temas como a opressão das mulheres nos países de maioria islâmica; o genocídio em Darfur (que reclama uma vida a cada 8 minutos) e a opressão dos estudantes e homossexuais no Irã. Por alguma razão, os representantes brasileiros, sempre afeitos ao tema dos Direitos Humanos, não disseram uma só palavra em reprovação a atitude dos líderes da ONU. Imagino que a postura do Itamaraty, de ignorar temas relativos ao mundo muçulmano, tenha a ver com a tentativa brasileira de se aproximar de países como Irã, Líbia e Arábia Saudita. Ninguém sabe ao certo o que esses países tem a nos oferecer, mas o empenho dos diplomatas brasileiros em estreitar relações com seus governo é público e notório.

No ano passado, Lula foi um dos convidados de honra da 13ª Cúpula dos Países Árabes. O outro honorável convidado, era o fascínora Mahmoud Ahmadinejad. Na ocasião, o presidente tirou fotos ao lado de homens como Muhamar Khadafi, o ditador da Líbia, que persegue opositores e minorias etnicas há 40 anos. Pergunto-me se pode haver um lugar melhor para falar de democracia, direitos humanos e etc? Certamente que sim! Afinal, a maioria dos presentes naquela cúpula não sabe a diferença entre um regime democrático e uma montanha de cadáveres. O próprio Khadafi, que até outro dia planejava e executava ações terroristas, negou a maior parte das acusações que foram feitas contra o seu regime. Na verdade, ele só admitiu ter mandado explodir um avião com 270 passageiros civis a bordo. No entanto, o presidente líbio foi caridoso e se ofereceu para indenizar as famílias das vítimas.

Não chega a ser surpreendente! O nosso presidente não fica indignado em dividir o mesmo espaço com um homem como Omar Al Bashir, logo, não pode se furtar a tirar uma foto com uma assassino menor como Khadafi. Aliás, sob os auspícios do governo Lula, o país votou contra Israel no Conselho de Direitos Humanos da ONU, mas se negou a condenar o governo do Sudão por proteger uma milícia genocida. Como explicar uma fato dessa natureza? Será que os excessos cometidos pelo governo israelense são mais importantes do que Darfur e seus 400 mil mortos. A política externa brasileira é mesmo uma piada, quem dera que Nelson Rodrigues, um notável escanfandrista da alma brasileira tivésse vivido para ver isso!

Agora, o mesmo Lula que se negou a censurar o governo do Sudão para obeter uma aliança espúria com os países árabes e africanos que apóiam o facinoroso, reage as críticas dizendo que está a frente do processo de reconstrução do Haiti. Pelo visto, a sensibilidade dos nossos governantes é seletiva. Nenhum deles se importa com os sudaneses mortos e feridos, mas estão todos morrendo de dó dos pobres haitianos. Curioso, não acham? Não quero desmerecer o sofrimento da nação haitiana que padece sobre os escombros daquela que talvez seja a maior tragédia humanitária desde a criação da ONU, mas quero evidenciar o paradoxo contindo no humanitarismo do governo brasileiro. A capacidade de ignorar aquilo que não lhe convêm é própria dos brasileiros. Um sinal claro de que Mario de Andrade estava certo e somos todos meio Macunaímas.

Como se não fosse suficientemente aterrador acordar todas as manhãs e ignorar o sofrimento que graça nos quatro cantos do planeta, nós ainda manifestamos uma certa seletividade. E é esse relativismo macabro que mais me aborrece! O culto à beleza em detrimento da cultura e da saúde, não me aborrece tanto quanto esse relativismo. A perseguição insana ao dinheiro e ao patrimônio material, elementos mais requeridos do que o oxigênio e o sexo, não me aborrece tanto quanto esse relativismo. As garotas da laje e o público masculino que se masturba pelas mesmas, não me aborrece tanto quanto esse relativismo. Os "brothers" que têm o seu cotidiano ridículo bisbilhotado pelas câmeras e pelos olhos de uma abobada audiência televisiva, não me aborrecem tanto quanto esse relativismo. A idolatria aos seres idiotas (que neste caso, deveria se chamar "idiolatria"), não me aborrece tanto quanto esse relativismo. Nem o dinheiro nas meias, cuecas e soutiens dos corruptos me aborrece tanto quanto esse relativismo. Creio que isso se dá porque a minha moral não é flexível e eu não estou disposto a contemporizar sobre a vida humana com muitos vem fazendo por aqui.

21 janeiro 2010

Eles surtaram!

Como era de se esperar, a reação do PT à nota públicada pelo presidente do PSDB, Sérgio Guerra, não demorou. Na reunião ministerial de hoje, Lula fez um discurso curto, destinado a fazer barulho. Eis algumas frases ditas por Lula:

-Esse babaca do Sérgio Guerra (presidente do PSDB) não sabe o que está falando quando diz que nada acontece de bom no Brasil.

- Acho que o (José) Serra pode ainda desistir de ser candidato.

Como é impossível supor que Lula tenha feito um discurso diante de 40 ministros imaginando que não vazasse, fica claro que o presidente queria que essas frases fossem publicadas. Está claro que Lula acredita estar acima do bem e do mal, pois nada justifica um tratamento deste nível por parte de um presidente da República a um dirigente da oposição. Aliás, nada justifica um tratamente deste nível a quem quer que seja. Está cada vez mais claro que Lula não sabe a diferença entre um botequim e uma reunião ministerial. E se você pensa que a coisa parou por aí, está muito enganado. Na mesma tarde, Ricardo Berzoniev, presidente do PT, e José Eduardo Dutra, presidente eleito do partido, divulgaram uma nota atacando o senador Sérgio Guerra e o governador de São Paulo, José Serra. No trecho mais espantosamente significativo, eles afirmam:

"O que mais salta aos olhos é a hipocrisia do candidato do PSDB, que ao mesmo tempo em que afirma estar 'concentrado no trabalho' e que 'não vai entrar em nenhum bate-boca eleitoral de baixaria', usa o presidente do seu partido como um verdadeiro jagunço da política para divulgar uma nota daquele teor. O PT reafirma que pretende fazer um debate de propostas e projetos, em alto nível, que permita ao povo brasileiro escolher o caminho mais adequado ao nosso país."

Nota-se o "alto nível" dos petistas. E vejam o inconformismo desses dois democratas com o fato de Serra se recusar a entrar no bate-boca. Na nota, os petistas ainda acusam o PSDB de desespero. Por alguma razão, os tucanos estariam desesperados por terem um candidato com quase o dobro dos votos da petista Dilma Rousseff e que, hoje, venceria todas as simulações de segundo turno. Pode mudar? Pode, claro! Mas esse é o quadro de agora. E é isso o que os petistas tentam reverter com seu "alto nível".

Mas o mais formidável ainda está por vir. O PT sequer se preocupou em mascarar o preconceito antinordestino que a nota exala. O que remete a duas coisas: ou Kucinski dormiu no ponto ou ele confia na infalibilidade de Lula em seu asseclas a tal ponto que julga que eles não precisam de defesa. Mas, voltemos ao Nordeste:

Para os petistas, a pobreza do Nordeste é um celeiro de votos, que eles irrigam com o Bolsa Família. Na região, com raras exceções, o partido cooptou os velhos coronéis da política. O exemplo mais escancarado, e até humilhante (para ambos), é o beijador de mãos José Sarney. O gesto sabujo do velho político custa caro… aos maranhenses! Aqueles que não se deixaram levar pela converse mole dos petitas foram automaticamente rebaixados a categoria dos "jagunços". Também pudera! O que seria de Dilma se não pudesse levar adiante a sua estratégia do medo, dizendo em alto e bom som que "os tucanos querem acabar com o Bolsa Família"? É bom que se diga que o senador Sergio Guerra tem razão em chamá-la de mentirosa, pois o PSDB ainda não tem programa de governo e o seu virtual candidato ainda não disse uma só palavra sobre este assunto.

O PT é conhecido por se referir aos seus adversários como antinordestinos e outras cositas mas. Não é de hoje que o partido vem tentando dividir o país em dois, separando os ricos tucanos [sic], dos pobres e desvalidos petistas. Essa estratégia publicitaria de enésima categoria deve ser coisa daquele celerado do Franklin Martins. Só mesmo um lunático como ele para estabelecer uma estratégia eleitoral tão cretina quanto o confronto entre dois Brasis. Felizmente, sempre que o PT apostou na tese dos "dois Brasis", ele se danou: o Brasil do passado e o Brasil do presente, o Brasil do Norte e o Brasil do Sul, o Brasil branco e o Brasil preto, o Brasil rico e o Brasil pobre, o Brasil das empresas estatais e o Brasil das empresas privadas, o Brasil educado e o Brasil analfabeto, o Brasil dos nordestinos e o Brasil dos antinordestinos, o Brasil da imprensa independente e o Brasil da Confecom. Contra a campanha plebiscitária do PT, o PSDB já tem a campanha pronta. Basta dizer: "O Brasil é um só e nós não vamos entrar nessa estratégia suja e oportunista".

* * *

Em nota, o secretário nacional do PSDB, deputado Rodrigo de Castro (MG), declarou que pretende questionar na Justiça o comportamento indecoroso dos petistas. Leia abaixo a íntegra do documento:

Em respeito ao povo brasileiro, PSDB vai à Justiça contra os presidentes do PT

Por calúnia e difamação, a Executiva Nacional do PSDB vai interpelar, na justiça comum, Ricardo Berzoini e José Eduardo Dutra.

A acusação dos petistas contra o Presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), revela também, grave preconceito contra o povo nordestino. Ao promover o preconceito entre brasileiros, mostram que desconhecem o que é fazer política com independência, integridade e ter ética por convicção.

Defender a verdade, as ideias e os fatos de forma democrática, além de condenar o terrorismo político, é o que tem feito o presidente do PSDB. E o melhor, dentro da lei, do respeito ao dinheiro público e com o objetivo de esclarecer o povo brasileiro contra novas mentiras com objetivos meramente eleitoreiros.

Com tranquilidade, equilíbrio, sem baixarias e preconceitos, o PSDB vai continuar mostrando à opinião pública brasileira o que é democracia, respeito às ideias e, principalmente, o que é verdade e o que é pura propaganda.

Deputado Rodrigo de Castro

Secretário Geral do PSDB

Só não entendi porque cargas d'água o PSDB resolveu poupar o Lula desse vexame!

O Chile e o Brasil

Com a vitória da direita no Chile, os petistas começam a demonstrar preocupação com o resultado das eleições deste ano. Até ontem, ninguém duvidava que Lula iria transferir a sua popularidade para a virtual candidata do PT, Dilma Rousseff. No entanto, a vitória de Sebastian Piñera sobre Eduardo Frei, candidato de Michele Bachelet, tirou o grito de "já ganhou" da boca dos petistas. Michele Bachelet tem um índice de aprovação popular na casa dos 80% e sob muitos aspéctos, se parece com o nosso presidente. Com um índice de popularidade tão grande, era de se esperar que ela elegesse até um poste para o cargo de presidente do Chile. Apesar disso, a coalização de direita venceu (pela primeira vez desde a redemocratização do país). Como isso foi acontecer? Ora, existem inúmeras razões para o fracasso da esquerda chilena e uma delas é, sem dúvida, a queda na qualidade de vida.

Mary O'Grady, do Wall Street Journal, em um artigo de 20 de dezembro de 2009 (cuja tradução pode ser lida no site Ordem Livre), mostra que as reformas econômicas promovidas no país por Augusto Pinochet, foram tão bem sucedidas que seus primeiros sucessores optaram por não desfazê-las, de modo que o Chile se tornou uma espécie de garoto propaganda do liberalismo na América Latina. Infelizmente, a esquerda chilena não permaneceu muito tempo nesse caminho e a partir do governo socialista de Ricardo Lagos, antecessor de Michele Bachelet, a economia começou a mudar de rumo. Lagos atacou a flexibilidade de mercado em favor dos sindicatos, fazendo com que o Chile caisse 14 posições no ranking do Banco Mundial que mede o ambiente tributário e regulatório para os negócios. Além disso, o Chile caiu cinco posições em "empregar trabalhadores", e três em "pagar tributos". No quesito "fechar um negócio", permaneceu estável, em 114º no mundo. No ranking geral, o país caiu nove posições. Naturalmente, isso refletiu na sua produtividade. Durante o mandato de Lagos (então de seis anos), a produtividade cresceu míseros 0,12%, causando insatisfaçãos em diversos setores da sociedade. As coisas pioraram ainda mais sob o governo de Michele Bachelet. Em 2008, a produtividade caiu 2,4%. Em 2009, a previsão é de que caia mais 2,7%, o que levará a queda em seu mandato de quatro anos para -1,57%.

Esses números são sinais claros do desvio rumo ao intervencionismo socialista e mostram porquê Piñera chegou ao poder. Está claro que os chilenos não estão dispostos a entregar as suas conquistas econômicas ao comando discricionário de uma Concertación, em que os democratas-cristãos estão se inclinando cada vez mais para o populismo de esquerda. Na mentalidade dos cidadãos daquele país, a economia de mercado é superior ao arranjo estatal e isso fica ainda mais claro quando analisamos os números citados por O'Grady: "em uma pesquisa conduzida em agosto de 2009 pela Pontifícia Universidade Católica e pela empresa de pesquisas de opinião Adimark, 73% dos entrevistados afirmaram que a iniciativa pessoal e o trabalho duro são o caminho para sair da pobreza. Somente 26% afirmaram que o estado é responsável". Resumindo, é baixo o índice de PILAS* no Chile.

Com medo que o mesmo venha a se repetir no Brasil, os esbirros da imprensa de esquerda já começaram a dizer que os dois cenários são muito diferentes e que não é possível fazer qualquer comparação entre ambos. De fato, o liberalismo está para o Brasil como Plutão está para o Sol, mas essa não é a questão. Ninguém em sã consciência irá negar que Dilma é o nosso Eduardo Frei o que faz do Lula a nossa Michele Bachelet. Tanto lá quanto aqui, a situação acreditava que seria fácil transferir a sua popularidade para o candidato do governo. Erraram, e feio! Lula não foi capaz de transferir a sua popularidade nem mesmo para o próprio filme, que apesar de todo o auxílio estatal, continua atrás de produções como Alvim e os Esquilos 2 e O Mistério de Feiurinha. Se o presidente não consegue vender nem a Glória Pires no papel de Dona Lindu, como vai vender a Dilma como presidente do país?

* Perfeitos Idiotas Latino-ameircanos

'O Brasil (neo)Colonial' ou 'Com que cara chamarei as potências de Imperialistas'?

Nos últimos dias a mídia "de esquerda" públicou uma série de matérias sobre a atuação dos EUA no Haiti. A maior parte dessas matérias, endossava a teoria do pseudo-intelctual uruguaio, Eduardo Galeano, de que os países latino-americanos são pobres porque foram explorados pelos ricos. Trata-se de uma tese farsesca que desconsidera o papel do homem no desenvolvimento do espaço geográfico. Até parece que os países latino-americanos sempre valorizaram o trabalho, o mérito e o espírito de iniciativa. Até parece que os países latino-americanos tiveram bons governos, instrumentos políticos corretos e uma gestão fiscal rigorosa. Até parece que os países latino-americanos zelam pela segurança pública e pela estabilidade jurídica.

O terremoto que atingiu o Haiti, transformou o país no Inferno de Dante. Em nenhum outro lugar a frase bíblica "os vivos terão inveja dos mortos", pode ser melhor aplicada. Ao lado da pobreza crônica, os haitianos convivem com a destruição física. O terremoto interrompeu as linhas de abastecimento do país fazendo com que a fome a sede se instalassem em definitivo. Não restou nada aos cidadãos daquele país, exceto a caridade. Infelizmente, nem mesmo a caridade está livre daqueles que anseiam em transformar uma tragédia de proporções dantescas em um fato político. Vários artigos criticaram, ainda que de forma velada, a ação dos EUA. Segundo eles, a ação norte-americana precisa ser compreendida através das relações de poder descritas por Michel Foucault e Max Webber. Sem querer menosprezar as contribuições desses dois grandes expoentes do pensamento humano, gostaria de lembrar que o que está em jogo no Haiti não é a hegemonia do sistema capitalista (aqui representado pelos EUA), mas sim a sobrevivência dos miseraveis haitianos.

Para se ter uma ideia do rídiculo a que chegaram os países sul-americanos, recentemente o presidente boliviano acusou o presidente dos EUA, Barack Obama, de se aproveitar da tragédia para "invadir" um país já combalido. O Brasil, que pretende ocupar um papel de liderança entre as nações do Cone Sul, não ficou atrás. O país, que até pouco tempo abrigava na alma o complexo de vira-lata, resolveu mostrar os dentes em uma notável manifestação do complexo de rottweiler. A ciumeira das autoridades brasileiras em relação a rápida e decidida ação do governo norte-americano, é de causar arrepios. O ministro da defesa, Nelson Jobim, reagiu com a mais pura masturbação diplomática e classificou a ajuda prestada pelos norte-americanos como "assistencialismo unilateral". Qualquer pessoa que não tenha perdido o bom-senso, sabe que os haitianos não estão minimamente preocupados com a cor do assistencialismo. Tudo que eles querem é que funcione.

É claro que precisa haver coordenação, como cobra o chanceler brasileiro Celso Amorim, mas é bobagem resmungar sobre a relevância do papel que os EUA assumiram. É brigar com os fatos da vida! Os EUA podem mais do que qualquer outro país, o que é escandalosamente óbvio. Só na última semana, eles enviaram vários navios da Guarda Costeira e um porta-aviões com 19 helicópteros, 51 leitos hospitalares, 3 centros cirúrgicos e capacidade para tornar potável centanas de milhares de litros d'água por dia. É preciso destacar que os EUA tem mais de 10 mil soldados no Haiti e um esquadrão formado por 300 homens da área de saúde. Nenhum dos países americanos tem condições de enviar um décimo da ajuda fornecida pelos EUA, o que torna a sua reação ainda mais rídicula.

A tentativa de pintar os EUA como uma potência neocolonialista já começa a ganhar ares de piada. A ação dos norte-americanos evidenciou o fracasso da ONU e fez com que o governo brasileiro ficasse com cara de palhaço diante de toda a impressa internacional. Na medida que a situação das famílias haitianas se agravava, vimos os países sul-americanos perderem o controle e começarema dar vazão aos seus habituais desvairios. O presidente venezuelano, Hugo Chávez, acusou o "império yankee" de invadir o Palácio Presidencial e abrir pistas de pouso e decolagem à revelia do governo haitiano. Já o presidente boliviano, Evo Moralles, disse que irá à ONU denunciar um suposto projeto de poder dos norte-americanos no Haiti. O que Moralles não sabe é que o Brasil já fez isso. Na sexta-feira passada, a embaixadora do Brasil na ONU, Maria Luísa Viotti, disse que "estava em busca de informações sobre o caráter da presença das tropas americanas em Porto Príncipe". Pelo visto, as nações sul-americanas embarcaram mesmo na tese de que somos pobres porque fomos explorados pelos países estrangeiros.

Sejamos coerentes, o Haiti é um país atolado na miséria absoluta que foi dissolvido pela maior tragédia ocorrida desde a fundação da ONU há exatos 60 anos. Mergulhado no pesadelo incomparável, desprovido de tudo, o Haiti precisa de muito pão, mas por enquanto não precisa de circo. Já está mais do que na hora de levarem essas conversa rastaquera sobre relações de poder e neocolonialismo para outro lugar!

É hora de dar nomes aos bois

O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), emitiu uma nota criticando afirmações recentes da virtual candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff. Recentemente, Dilma afirmou que se os tucanos ganharem a eleição em 2010, vão extinguir o PAC e o Bolsa Família.

NOTA À IMPRENSA

Dilma Rousseff mente. Mentiu no passado sobre seu currículo e mente hoje sobre seus adversários. Usa a mentira como método. Aposta na desinformação do povo e abusa da boa fé do cidadão.

Mente sobre o PAC, mente sobre sua função. Não é gerente de um programa de governo e, sim, de uma embalagem publicitária que amarra no mesmo pacote obras municipais, estaduais, federais e privadas.

Mente ao somar todos os recursos investidos por todas essas instâncias e apresentá-los como se fossem resultado da ação do governo federal. Apropria-se do que não é seu e vangloria-se do que não faz.

Dissimulada, Dilma Rousseff assegurou à Dra. Ruth Cardoso que não tinha feito um dossiê sobre ela. Mentira! Um mês antes, em jantar com 30 empresários, informara que fazia, sim, um dossiê contra Ruth Cardoso.

Durante anos, mentiu sobre seu currículo. Apresentava-se como mestre e doutora pela Unicamp. Nunca foi nem uma coisa nem outra. Além de mentir, Dilma Rousseff omite. Esconde que, em 32 meses, apenas 10% das obras listadas no PAC foram concluídas - a maioria tocada por estados e municípios. Cerca de 62% dessa lista fantasiosa do PAC - 7.715 projetos- ainda não saíram do papel.

Outra característica de Dilma Rousseff é transferir responsabilidades. A culpa do desempenho medíocre é sempre dos outros: ora o bode expiatório da incompetência gerencial são as exigências ambientais, ora a fiscalização do Tribunal de Contas da União, ora o bagre da Amazônia, ora a perereca do Rio Grande do Sul.

Assume a obra alheia que dá certo e esconde sua autoria no que dá errado. Dilma Rousseff se escondeu durante 21 horas após o apagão. Quando falou, a ex-ministra de Minas e Energia, chefe do PAC, promovida a gerente do governo, não sabia o que dizer, além de culpar a chuva e de explicar que blecaute não é apagão.

Até hoje, Dilma Rousseff também se recusou a falar sobre o Plano Nacional de Direitos Humanos, com todas as barbaridades incluídas nesse Decreto, que compromete a liberdade de imprensa, persegue as religiões, criminaliza quem é contra o aborto e liquida o direito de propriedade. Um programa do qual ela teve a responsabilidade final, na condição de ministra-chefe da Casa Civil.

Está claro, portanto, que mentir, omitir, esconder-se, dissimular e transferir responsabilidades são a base do discurso de Dilma Rousseff. Mas, ao contrário do que ela pensa, o Brasil não é um país de bobos.

Senador Sérgio Guerra
Presidente Nacional do PSDB
Brasília, 20 janeiro de 2010

20 janeiro 2010

Mais um escândalo

Se não fosse por essa espécie de abdução coletiva a que estamos todos submetidos, com "O Cara" deitando e rolando sobre as instituições e a moralidade pública, o caso dos caças Rafale seria tratado como aquilo que é: UM ESCÂNDALO, talvez o maior do governo Lula. Eu explico: recentmente a Índia abriu uma concorrência internacional para a compra — ATENÇÃO!!! — de 126 caças. A Força Aérea Indiana se dispoem a pagar US$ 10 bilhões. por essas aeronaves; um valor nada modesto. Seis modelos participaram da primeira rodada de seleção: os americanos F 18 e F 16, o Eurofighter Typhoon, o russo MiG 35, o sueco Gripen NG e o Rafale. Só um caça foi descartado no começo da disputa: o Rafale. A Força Aérea Indiana justificou a sua decisão dizendo que o Rafale não cumpria os requisitos mínimos de desempenho técnico exigidos por eles.

Como vocês sabem, o Rafale é o caça que Lula decidiu comprar ao arrepio da recomendação da Aeronáutica, que é quem realmente entende do assunto. Lula, o Homem com o Isopor na Cabeça, é especialista em outros assuntos. Muitos indagarão: "Mas o escândalo está em ter a Força Aérea da Índia rejeitado o Rafale, que Lula quer comprar?" Não! Eu já chego lá.

Enquanto o Rafale esteva na concorrência, Nicolas Sarkozy, o camelô de aviões e marido de Carla Bruni, fez o mesmíssimo lobby que vem fazendo no Brasil. A diferença é que, na Índia, a avaliação é realmente técnica. Por lá, não basta apenas adular o imperador absolutista, dispensar-lhe rapapés, elegê-lo "o homem do ano", para embolsar alguns bilhões. Desde o começo da concorrência, informam os sites indianos que trataram do assunto, o Rafale era considerado a pior alternativa entre — atenção! — SETE MODELOS.

A chamada grande imprensa, que a canalha petralha acusa de ser "antigovernista" (podem rolar de rir), se interessou pelo assunto? Que eu tenha achado, só o Estadão Online publicou um despacho da Reuters no dia 16 de abril de ano passado. Depois o assunto sumiu. Como vocês sabem, a Força Aérea Brasileira também não quer o Rafale. Entre os três caças que avaliou, preferiu o sueco Gripen NG. Em segundo lugar, ficou o F-18. Em último, o avião francês. Como reagiu o governo do Homem do Ano do Le Monde? Considerou a hipótese de punir o que chamou de "vazamento" do relatório. Onde já se viu a Aeronáutica ficar se metendo com caças? Que absurdo!

Celso Amorim, um gigante da filosofia, ainda maior por dentro do que por fora, deu-se a especulações metafísicas: "Às vezes, o barato sai caro". Samuel Pinheiro Guimarães, o chefe da banda antiamericana do governo e da Sealopra, indagou se a gente compra um carro só pensando no preço… A mediocridade dessa gente é espantosa, especialmente quando tenta mimetizar Lula nas suas filosofadas e metáforas. O que, nele, aspira a um saber popular revela-se pelo que é na boca dos doutores: BOÇALIDADE PURA E SIMPLES.

E o escândalo? Bom, aí vai o escândalo de que falei anteriormente. Além do fato do presidente Lula ter anunciado o vitorioso quando a avaliação estava em curso, os aviões franceses irão custar aos brasileiros praticamente o dobro do que custariam para os indianos (caso não tivéssem sido descartadaso). A Dassault, que fabrica os Rafales, se ofereceu para vender 126 caças à Índia por US$ 10 bilhões. Preço médio de cada avião: US$ 79.365.079,36. O Brasil está disposto a pagar R$ 10 bilhões por 36 aviões — ou US$ 5.681.818.181. Dividindo-se esse valor em dólar pelo número de aparelhos, chega-se ao custo unitário: US$ 157.828.282,82. Ou seja: o dobro do que custaria para a Índia. Atenção: ESTAMOS FALANDO DO MESMO MODELO DE AVIÃO E DE CONCORRÊNCIAS FEITAS AO MESMO TEMPO. Se o leitor quiser conhecer mais detalhes sobre a concorrência indiana, pode dar uma olhada no site India Defence.

Agora entendo o que o sr. Samuel Pinheiro Guimarães quer dizer quando afirma que a gente não compra um carro só pelo preço. No caso, parece que se compra também para agradar o fornecedor, não é mesmo? E o que dizer do comentário de Amorim? Nem uma antítese tornada um clichê popular resiste a este monumento, logo involuindo para a tautologia: O CARO SAI CARO! Mas aí vem o papagaio de pirata petista, dizendo que os aviões irão custar o dobro do preço porque haverá a tal da "tranferência de tecnologia" e etc. Ora, não sejamos levianos! É só dar uma olhada, ainda que breve, nos termos da concorrência aberta pelos indianos para ver que a compra de 126 caças também previa a transferência de tecnologia.

É incrível que um dos maiores negócios do governo Lula, com jeito, história e números de maracutaia, se faça sob o silêncio cúmplice de boa parte da imprensa e, como não poderia deixar de ser, da oposição.

18 janeiro 2010

O PSDB é de direita?

Acaba de me deparar com um texto que afirma, com todas as letras, que o PSDB mente ao dizer que é um partido político de esquerda. Como não poderia deixar de ser, uma bossalidade como essa só poderia ter sido públicado por um site de esquerda. Segundo o autor do texto, um partido afeito as privatizações e que chama o Bolsa Família de esmola, não pode ser visto como parte integrante da esquerda nacional. É isso mesmo! Não contentes em deter o monopólio da razão, a rapaziada marxista quer deter o monopólio das siglas. Daqui para frente, caberá a eles dizer quais siglas são de esquerda ou não. Para essas pessoas, pouco importa o significado das letras 'SDB' (Social Democracia Brasileira), um partido avesso ao main stream dos esquerdistas não pode, em hipótese alguma, ser considerado de esquerda. Isso me fez pensar em um poema do Carlos Drummond de Andrade, chamado "Eu vi". Em sua primeira estrofe, o poeta diz: "Vi um homem chorar porque lhe negaram o direito de usar três letras do alfabeto para fins políticos". O homem, caríssimo leitor, pode perfeitamente ser José Serra ou Fernando Henrique Cardoso (membros fundadores do PSDB), pois graças aos intelectuais lulianos, consumou-se o esbulho das terminações políticas.

Qualquer brasileiro minimamente informado, sabe que o PSDB foi fundado por um grupo de dissidentes do PMDB, que estavam insatisfeitos com o governo Sarney. Dentre os fundadores do novo partido estavam Franco Montoro, José Serra, Mario Covas, Carlos Antônio Costa Brandão, Humberto Costa Brandão, Carmelito Barbosa Alves, Waldyr Alceu Trigo e Fernando Henrique Cardoso. Podemos dizer que o PSDB foi formado pela confluência de diferentes pensamentos políticos contemporâneos: dos trabalhistas o partido adotou a primazia do trabalho sobre o capital; dos pensadores católicos personalistas, o partido adotou a ética, a solidariedade e a participação comunitária e dos líderes políticos europeus do pós-guerra (a maioria socialista), o partido adotou a luta dos trabalhadores pelos direitos iguais e os programas sociais. Sejamos coerentes, é difícil chamar um partido com bases como essas de "direitista". Talvez seja um pouco de exagero classificar o PSDB como um partido político de esquerda, mas certamente podemos inclui-lo naquilo que Anthony Giddens chamou de Terceira Via. Mas os socialistas querem saber disso? Para eles o PSDB é de direita e ponto final.

Eles argumentam que as bandeiras do PSDB não são comuns à esquerda e que o partido está mais alinhado com o neoliberalismo (seja lá o que isso for) do que com a integração dos povos sul-americanos tão em moda ultimamente. Os autores dessa crítica, ignoram dados importantíssimos sobre a vida dos principais fundadores do partido. Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, era participante ativo dos grupos de estudos marxistas. Em 1950, um grupo de jovens professores e estudantes decidiu se reunir para ler "O Capital", a obra magna do comunismo. Esse grupo era formado por FHC, Octavio Ianni, Ruth Cardoso, Roberto Schwarz, Michael Lowy e outros, e teve um papel decisivo na discussão dos projetos de pesquisa da nova geração. Vale lembrar que a principal influência de FHC foi Florestan Fernandes (conhecido intelectual marxista). Na mesma linha, surge José Serra. O atual governador de São Paulo, foi presidente da União Nacional dos Estudantes durante o regime militar. Sob o seu comando, a entidade se dizia contra as multinacionais e a favor da Revolução Cubana. Em 1962, Serra fundou a Ação Popular (AP), com o apoio do Partido Comunista Brasileiro. Dizer que FHC e Serra são políticos de direita é, portanto, uma idiotice das grandes. Só mesmo os submentais da esquerda defenderiam uma asnice como essa!

Infelizmente, os botocudos não se dão por vencidos tão facilmente, e alegam que o PSDB de hoje não é o mesmo PSDB de ontem. E não é mesmo! O PSDB de hoje está ainda mais próximo da esquerda do que o PSDB de ontem. O partido é gramscista por excelência e defende um marxismo desenvolvimentista aos moldes do que era praticado nos anos 50. Como disse o próprio Serra à revista Piauí: "O governo Lula é de esquerda? Não dá para falar nisso. Com o significado do passado eu estaria à esquerda do PT".

De fato, o partido tem estado à esquerda do PT desde o primeiro governo do Fernando Henrique Cardoso. Ao contrário do que professa a esquerda xiita, houve um agigantamento do estado durante o governo FHC. Só em 2000, por exemplo, o estado cresceu 18% em relação a 1999. No geral, ao final dos 8 anos de governo FHC, o setor privado havia encolhido 24,3%. Allende e Gramsci não poderiam ter encontrado um discípulo mais aplicado do que o marxista chique do PSDB. E não para por aí! Se nos aprofundarmos em nossa análise, veremos que o governo FHC foi ainda mais a esquerda do que se pode imaginar. Além de ter havido uma explosão nos gastos do governo (que aumentaram, em termos nominais, mais de 220%) e na carga tributária (que saiu de 27% para 36% do PIB), o sociólogo tucano ainda criou inúmeras agências reguladoras com a função de impedir a livre concorrência e praticar o tabelamento de preços e tarifas. Suas "privatizações" foram todas mentirosas: os setores "privatizados" mantiveram seus monopólios garantidos pelo estado, de modo que o que houve foi apenas uma troca de gerenciamento. O governo - por meio das agências reguladoras - e cuidou de abolir qualquer risco de concorrência, que é o que um livre mercado genuíno impõe. Como se não bastasse, essa troca de monopólios (estatal para privado) foi feita com dinheiro do BNDES, sendo que os fundos de pensão de estatais (que, em última instância, são controlados por políticos e sindicalistas petistas) adquiriram participações em várias dessas empresas "vendidas". Não houve um único setor da economia do qual o estado tenha se retirado por completo o que faz com que pensemos que assim como a jabuticaba e a pororoca, as "privatizações" brasileiras também são um fenômeno único: elas aumentam a participação do estado na economia.

Tendo herdado um estado paquidérmico, Lula nem precisou pôr em prática a cartilha que o PT sempre pregou: o homem da Sorbonne já havia feito todo o serviço, dando um chapéu em seu colega ideológico. O PPR positivo de 2003 e 2004 foi apenas a consequência de um menor crescimento nos gastos do estado. Ou seja: o governo Lula seguiu aumentando os gastos, porém a uma taxa um pouco menor que a do governo FHC. O estado já estava tão inchado, que um simples crescimento menor dos gastos do governo naqueles dois anos já foi suficiente para fazer com que o setor privado respirasse um pouco.

Isso se deve ao fato de Fernando Henrique Cardoso e seu colega José Serra, terem estudado "engenharia social" na mesma escola que Saturnino Braga e Celso Furtado, a Cepal (aquela folclórica comissão para a América latina que surgiu no Chile, com a propósta de promover alterantivas viáveis ao modelo capitalista). Não nos enganemos, as diferenças da dupla tucana para a dupla petista existem, mas são muito superfíciais, o que faz com que tenhamos praticamente um monopólio da esquerda na política nacional. Não foi a toa que Lula anunciou, com o seu tom escatológico de sempre, que nas próximas eleições não teremos nenhum candidato de direita. E é verdade! PT e PSDB estão cada vez mais parecidos. Ambos desejam mais governo. Ambos rejeitam o livre mercado, o direito de propriedade privada, o capitalismo liberal. Talvez a única diferença marcante entre ambos é que no PT, o ranço ideológico é mais pronunciado. O partido tem mais sede pelo poder absoluto e mais disposição para atingir os seus objetivos.

Os petistas também acusam o PSDB de se referir, com uma frequência cada vez maior, aos programas assistenciais do PT como Bolsas Esmola (coisa de reacionário). Ora, não é de hoje que as ações afirmativas são vistas dessa maneira e não foram os políticos do PSDB que inventeram o termo. O primeiro a chamar essas políticas de esmolas foi justamente o presidente Lula, e o fez para o país inteiro, em alto e bom som. Essa é portanto, mais uma mentira convenientemente contada para dissuadir o eleitor de votar no PSDB.

Escolher entre Dilma e Serra é como fazer a escolha de Sofia: a derrota está anunciada antes mesmo da decisão. Mesmo que o resultado "desejado" seja alcançado, ele será visto como uma vitória pirríca, pois os dois partidos compartilham da mesma visão política e social. Isso acontece porque no mundo inteiro, mas muito especialmente na América Latina, as esquerdas tentam manter a população na jaula do Dia da Marmota. Trata-se de uma espécie de seqüestro moral: "Cuidado! Fulano ou Beltrano foram ligados à ditadura militar. Jamais votem neles!" Ou ainda: "Fulano e Beltrano são descendentes pólíticos da ditadura militar". Vamos parar com essa coisa de dizer que o PSDB é um partido de direita e assumir, de uma vez por todas, que na essência todos os partidos políticos brasileiros são iguais.

15 janeiro 2010

Vai ver ele surtou!

Sei que, para os lulistas religiosos, a ressalva preliminar que vou fazer não adiantará nada. Pode ser até tida na conta de insulto ou deboche, entre as inúmeras blasfêmias que eles acham que eu cometo, sempre que exponho alguma restrição ao presidente da República. Mas tenho que fazê-la, por ser necessária, além de categoricamente sincera. Ao sugerir, como logo adiante, que ele não está regulando bem do juízo, ajo com todo o respeito. Dizer que alguém está maluco, principalmente alguém tido como sagrado, pode ser visto até como insulto, difamação ou blasfêmia mesmo. Mas não é este o caso aqui. Pelo menos não é minha intenção. É que às vezes me acomete com tal força a percepção de que ele está, como se diz na minha terra, perturbado da idéia que não posso deixar de veiculá-la. É apenas, digamos assim, uma espécie de diagnóstico leigo, a que todo mundo, especialmente pessoas de vida pública, está sujeito.

Além disso, creio que não sou o único a pensar assim. É freqüente que ouça a mesma opinião, veiculada nas áreas mais diversas, por pessoas também diversas. O que mais ocorre é ter-se uma certa dúvida sobre a vinculação dele com a realidade. Muitas vezes - quase sempre até -, parece que, quando ele fala “neste país”, está se referindo a outro, que só existe na cabeça dele. Há alguns dias mesmo, se não me engano e, se me engano, peço desculpas, ele insinuou ou disse claramente que o Brasil está, é ou está se tornando um paraíso. Fez também a nunca assaz lembrada observação de que nosso sistema de saúde já atingiu, ou atingirá em breve, a perfeição, até porque está ao alcance de qualquer cidadão, pela primeira vez na História deste país, ter absolutamente o mesmo tratamento médico que o presidente da República.

Tal é a natureza espantosa das declarações dele que sua fama de mentiroso e cínico, corrente entre muitos concidadãos, se revela infundada e maldosa. Ele não seria nem mentiroso nem cínico, pois não é rigorosamente mentiroso quem julga estar dizendo a mais cristalina verdade, nem é cínico quem tem o que outros julgam cara-de-pau, mas só faz agir de acordo com sua boa consciência. Vamos dar-lhe o benefício da dúvida e aceitar piamente que ele acredita estar dizendo a absoluta verdade.

Talvez haja sinais, como dizem ser comum entre malucos, de uma certa insegurança quanto a tal convicção, porque ele parece procurar evitar ocasiões em que ela seria desmentida. Quando houve o tristemente célebre acidente aéreo em Congonhas, a sensação que se teve foi a de que não tínhamos presidente, pois os presidentes e chefes de governo em todo o mundo, diante de catástrofes como aquela, costumam cumprir o seu dever moral e, mesmo correndo o risco de manifestações hostis, procuram pessoalmente as vítimas ou as pessoas ligadas a elas, para mostrar a solidariedade do país. Reis e rainhas fazem isso, presidentes fazem isso, primeiras-damas fazem isso, premiers fazem isso. Ele não. Talvez tenha preferido beliscar-se para ver ser não estava tendo um pesadelo. Mandou um assessor dizer umas palavrinhas de consolo e somente três dias depois se pronunciou a distância sobre o problema. O Nordeste foi flagelado por inundações trágicas, o Sul assolado por seca sem precedentes, o Rio acometido por uma epidemia de dengue, ele também não deu as caras. E recentemente, segundo li nos jornais, confidenciou a alguém que não compareceria a um evento público do qual agora esqueci, por temer receber as mesmas vaias que marcaram sua presença no Maracanã.

Portanto, como disse Polônio, personagem de Shakespeare, a respeito do príncipe Hamlet, há método em sua loucura. Não é daquelas populares, em que o padecente queima dinheiro (somente o nosso, mas aí não vale) e comete outros atos que só um verdadeiro maluco cometeria. Ele construiu (enfatizo que é apenas uma hipótese, não uma afirmação, porque não sou psiquiatra e longe de mim recomendar a ele que procure um) um universo que não pode ser afetado por cutucadas impertinentes da realidade. Notícia ruim não é com ele, que já tornou célebre sua inabalável agnosia (”não sei de nada, não ouvi nada, não tive participação nenhuma”) quanto a fatos negativos. Tudo de bom tem a ver com ele, nada de ruim partilha da mesma condição.

Agora ele anuncia que, antes de deixar o mandato, vai registrar em cartório todas as suas realizações, para que se comprove no futuro que ele foi o maior presidente que já tivemos ou podemos esperar ter. Claro que se elegeu, não revolucionariamente, mas dentro dos limites da ordem (?) jurídica vigente, com base numa série estonteante de promessas mentirosas e bravatas de todos os tipos. Não cumpriu as promessas, virou a casaca, alisou o cabelo, beijou a mão de quem antes julgava merecedor de cadeia e hoje é o presidente favorito dos americanos, chegando mesmo, como já contou, a acordar meio aborrecido e dar um esbregue em Bush. Cadê as famosas reformas, de que ouvimos falar desde que nascemos? Cadê o partido que ia mudar nossos hábitos e práticas políticas para sempre? O que se vê é o que vemos e testemunhamos, não o que ele vê. Mas ele acredita o contrário.

Acredita, inclusive, nas pesquisas que antigamente desdenhava, pois os resultados o desagradavam. Agora não, agora bota fé - e certamente tem razão - depois que comprou, de novo com o nosso dinheiro, uma massa extraordinária de votos. Não creio que ele se julgue Deus ainda, mas já deve ter como inevitável a canonização e possivelmente não se surpreenderá, se lhe contarem que, no interior do Nordeste, há imagens de São Lula Presidente e que, para seguir velha tradição, uma delas já foi vista chorando. Milagre, milagre, principalmente porque ninguém vai ver o crocodilo por trás da imagem.

As vítimas do terrorismo de esquerda

As esquerdas alegam que o Regime Militar, ao longo de 21 anos, matou 424 dos seus militantes. É um número provavelmente inflado. Mortos comprovados são 293 - os outros constam como "desaparecidos" e se dá de barato que tenham sido mortos por "agentes do regime". Nessa conta, diga-se, estão quatro militantes da ALN-Molipo que foram mortos pelos próprios "companheiros". Ela também inclui os que morreram de arma em punho na Guerrilha do Araguaia.

O fato de terem morrido diversas pessoas sob a guarda do Estado, não dá aos militantes de esquerda o direito de agirem da mesma forma. Como diz o ditado: "Dois erros não fazem um acerto". Infelizmente, a esquerda não dava a mínima para sabedoria popular e matou nada menos que 119 pessoas, muitas delas sem qualquer vinculação com a luta política. Como se não bastasse, contribuiu para que se consolidasse uma outra brutal inverdade histórica, segundo a qual as ações armadas da esquerda só tiveram início depois do AI-5, de 13 de dezembro de 1968. É como se, antes disso, eles tivessem se dedicado apenas à resistência pacífica.

Antes do AI-5, que marcou o inicio da repressão, a esquerda matou 19 pessoas. Em muitos casos, os nomes dos assassinos são largamente conhecidos. Se vocês forem procurar na lista dos indenizados com a Bolsa Ditadura, muitos homicidas estão lá, sendo beneficiados por sua "luta política". Em nossa sociedade, o terrorista é alçado a condição de herói. As vítimas da esquerda não tem nem mesmo direito à memória, pois o seus nomes foram apagados da história pela Comissão da Mentira.

Quem se lembra de Paulo Macena? O vigia do Cine Bruni, no Flamengo, que morreu em uma explosão causada por uma bomba deixada por uma organização comunista? Alguém se lembra de Edison Régis de Carvalho? O jornalista que foi morto pela explosão de uma bomba no Aeroporto Internacional de Guararapes? E de José Gonçalves Conceição, o Zé Dico? Ele foi morto por por Edmur Péricles de Camargo, integrante da Ala Marighella, durante a invasão da fazenda Bandeirante, em Presidente Epitácio. Na ocasião, Zé Dico foi trancado num quarto, torturado e, finalmente, morto com vários tiros. O filho do fazendeiro que tentara socorrer o pai foi baleado por Edmur com dois tiros nas costas. Outro civil que não tinha qualquer relação com o regime era o bancário Osíris Motta Marcondes, morto enquanto tentava impedir um assalto terrorista ao Banco Mercantil, do qual era o gerente. Alguém se lembra de Noel de Oliveria Ramos? Noel era aposentado e foi morto com um tiro no peito em um conflito entre estudantes. Em 68, um grupo de estudantes se reuniu no Largo de São Francisco para distribuipanfletos a favor do governo e contra as agitações estudantis conduzidas por militantes comunistas. Gessé Barbosa de Souza, eletricista e militante da VPR de Dilma Roussef, se infiltrou no movimento e tentou impedir a manifestação com uma arma. Os estudantes, em sua grande maioria, não se intimidaram e tentaram segurar Gessé que fugiu atirando, atingindo mortalmente Noel de Oliveira Ramos e ferindo o engraxate Olavo Siqueira.

Esses são apenas alguns nomes de civis que não tinham qualquer relação com o regime e foram mortos covardemente pelos militantes de esquerda. Infelizmente, nenhum deles teve direito à justiça. Na realidade, nenhum deles teve direito à memoria.

Os mortos da ditadura

Algumas pessoas me perguntam se eu realmente acredito que o número de vítimas da ditadura não ultrapasse as centenas. É lógico que sim! Em "Dos Filhos Deste Solo", escrito pelo ex-ministro Nilmário Miranda e pelo jornalista Carlos Tibúrcio, os autores citam - com enorme boa-vontade - 424 casos de pessoas que teriam morrido ou que ainda são dadas como desaparecidas em razão do regime militar. Vale lembrar que esse livro é uma co-edição da Boitempo Editorial (aquela do caso envolvendo o jornalista Emir Sader) e da Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT.

No livro, foram computadas as vítimas de acidentes, os suicidios, as mortes no exterior e até os justiçamentos promovidos pela militância de esquerdas. Desses 424, apenas 293 pessoas morreram assassinadas. Esse número inclui os mortos na Guerrilha do Araguaia. O livro é tão preciso que Dá para saber até a distribuição dos mortos segundo as tendências:

ALN-Molipo – 72 mortes (inclui quatro justiçamentos)
PC do B – 68 (58 no Araguaia)
PCB – 38
VPR – 37
VAR-Palmares – 17
PCBR – 16
MR-8 – 15
MNR – 10
AP – 10
POLOP – 7
Port - 3

É muito? Digo com a maior tranqüilidade que a morte de qualquer homem me diminui, segundo frase famosa que já é um chavão. Mas 424 casos não são 30 mil — ou 150 mil, se fôssemos ficar nos padrões argentinos. Isso indica o óbvio: a tortura e a morte de presos políticos no Brasil eram exceções e não a regra. Regra ela foi no Chile, na Argentina, em Cuba (ainda é), na China (ainda é), no Caboja, na Coréia do Norte, na União Soviética, nas ditaduras comunistas africanas, européias… Só a ALN-Molipo deu cabo de quatro de seus militantes. Em nome do novo humanismo, claro!

A lei de reparação que está em curso no Brasil é extremamente generosa, tanto que alcança até alguns vagabundos que fizeram dela uma profissão, um meio de vida, arrancando dos pobres e dos desdentados indenizações milionárias e pensões nababescas. Quer revê-la, como se o drama dos mortos e desaparecidos fosse um trauma na sociedade brasileira como ainda é na argentina ou na chilena, é um completo despropósito. Pode, quando muito, responder ao espírito de vingança de alguns e gerar intranqüilidade para o resto da sociedade, a esmagadora maioria.

De resto, tão triste — ou até mais — do que a tortura com pedigree, aquela exercida contra militantes de esquerda no passado, é a que existe ainda hoje nos presídios brasileiros. Imaginem se cada preso comum acionar o Estado por conta de maus-tratos ilegais sofridos cotidianamente nas cadeias. Ocorre que essa gente não conta com a disposição dos militante para fazer proselitismo. Não existe uma comissão especial para cuidar do assunto. A esquerda, como sempre, só dá bola para o "seu povo", não para "o" povo.

14 janeiro 2010

Lula anteviu o fracasso do próprio filme

Não paro de me surpreender com as ações que o governo Lula tomou no final do ano passado, em especial no que diz respeito a produção e promoção cultural. Ontem eu escrevi sobre o Pro-Leitura, que irá instituir um novo imposto sobre os livros e onerar ainda mais um mercado já combalido. Hoje será a vez de um decreto direcionado a Ancine. Pois bem! No lusco-fusco do mês de dezembro, no apagar das luzes de um ano e no aceder das de outro, Lula editou o decreto nº 7. 061 - precisamente no dia 30 de dezembro:

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso IV, da Constituição, e tendo em vista o disposto no art. 55 da Medida Provisória no 2.228-1, de 6 de setembro de 2001, DECRETA:

Art. 1o As empresas proprietárias, locatárias ou arrendatárias de salas ou complexos de exibição pública comercial estão obrigadas a exibir, no ano de 2010, obras cinematográficas brasileiras de longa metragem, no âmbito de sua programação, observado o número mínimo de dias e a diversidade dos títulos fixados em tabela constante do Anexo a este Decreto.

Parágrafo único. A obrigatoriedade de que trata o caput abrange salas, geminadas ou não, pertencentes à mesma empresa exibidora e que integrem espaços ou locais de exibição pública comercial localizados em um mesmo complexo, conforme definido por instrução normativa expedida pela Agência Nacional do Cinema - ANCINE.

Art. 2o Os requisitos e condições de validade para o cumprimento da obrigatoriedade de que trata este Decreto, bem como sua forma de comprovação, serão disciplinados em instrução normativa estabelecida pela ANCINE.

Art. 3o A ANCINE, visando promover a auto-sustentabilidade da indústria cinematográfica nacional e o aumento da produção, bem como da distribuição e da exibição das obras cinematográficas brasileiras, regulará as atividades de fomento e proteção à indústria cinematográfica nacional, podendo dispor sobre o período de permanência dos títulos brasileiros em exibição em cada complexo em função dos resultados obtidos.

Art. 4o Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 30 de dezembro de 2009; 188o da Independência e 121o da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
João Luiz da Silva Ferreira

Que coisa comovente! Numa tabela em anexo, o decreto específica o número mínimo de sessões com filme nacional, dependendo do número de salas controladas por uma mesma empresa.

Falta agora a instrução normativa da Ancine. Mas notem: não contente em impor o filme nacional, o decreto atribui à agência o poder para definir o tempo em que um filme ficaria em cartaz em cada sala, entenderam? É isto: também nesse caso, a liberdade vai para a breca. O estado se torna o grande programador dos cinemas.

Chega a ser patético que esse decreto tenha vindo à luz na antevéspera da estréia do , dadas as expectativas, maior insucesso da história do cinema brasileiro: "Lula, O Filho do Brasil". Como fica evidente, quando o telespectador não quer, não há máquina de propaganda, dinheiro ou adesismo que dê jeito. O "maior lançamento da história" está sendo rejeitado até pelos camelôs.

Eu sei que, para o petismo, a idéia de que alguém possa ser livre para escolher isso ou aquilo é terrível. Mas daí a criar um mecanismo para obrigar as salas de cinema a exiberem aquilo que eles querem...

O resultado dessa pantomima é de uma obviedade assustadora. A Ancine recorrerá ao decreto e decidirá que "Lula, O Filho do Brasil", deve ficar em cartaz até bater algum recorde. O Estimado Líder não poder ser vítima da afronta dos telespectadores, da sua (deles) liberdade.

13 janeiro 2010

O Pro-Leitura

O ano acabou e só agora começamos a nos dar conta do que o governo aprontou durante o mês de dezembro. Como todos sabem, dezembro é o mês de recesso dos parlamentares, mas isso não impediu que o ministro da cultura, Jucá Ferreira, se aboletasse no senado federal munido de um projeto de lei que visa dar ainda mais poder ao governo federal. O recesso também não impediu a feitura de mais um projeto destinado a surrupiar parte do dinheiro dos impostos. Refiro-me ao Fundo Pro-Leitura. Vejamos o que está escrito na minuta do projeto de lei: "institui o Fundo Setorial do Livro, Leitura e Literatura - Fundo Pro-Leitura, cria a Contribuição de Intervenção de Domínio Econômico do Fundo Pro-Leitura e da outras providências".

A forma jurídica para a criação da receita é instituir uma Contribuição de Intervenção sobre o Domínio Econômico (CIDE) sobre o faturamento das editoras de livros. A brincadeira, se aprovada, vai gerar R$ 57 milhões de reais por ano, para que burocratas dedicados à causa da leitura possam dispor, ao seu arbítrio, dos recursos. Devemos lembrar que os impostos sobre as vendas são regressivo, concentradores de renda e normalmente, geram um nefasto efeito em cascata. Eles empobrecem não apenas os produtores (os editores), mas também o consumidor, que terá que arcar com o ônus desse absurdo jurídico. Cálculos mostram que um tributo de 1% sobre o faturamento se transforma em arrecadação de 2,1% graças ao maravilhoso efeito cascata. Vai ver é por isso que projetos como esse são sempre apresentados na surdina!

É sabido que o setor editorial vem amargando uma queda sucessiva na quantidade de exemplares vendidos, desde 1998. Da mesma forma, a receita real do setor também involiu. Instituir um imposto sobre uma atividade em crise é um contra-senso, um absurdo. Não é de hoje que as editoras vivem as turras com outras formas de transmissão de conhecimento, como o Kindle e a tecnologia que permite compactar livros e revistas em formato PDF. Com a criação de um novo imposto, esse processo vai se agravar ainda mais.

Argumentar que o setor foi desonerado do PIS/COFINS e que, portanto, poderia arcar com o ônus é uma tese absurda. Constitucionalmente a atividade editorial tem imunidade tributária e a cobrança do PIS/COFINS não passava de uma afronta à ordem constitucional. As contribuições nunca foram devidas pelo setor editorial. Fazer da nova CIDE uma contrapartida da suposta bondade pelo cumprimento da imunidade tributária é má fé. Não houve bondade alguma, apenas a correção de uma flagrante injustiça, revestida de total ilegalidade.

A posição conciliadora da vontade do governo com os interesses dos editores foi expressa por Sonia Machado Jardim, em artigo assinado no Estadão, publicado no dia 23 de julho do ano passado. Sonia é a presidente do SNEL – Sindicato Nacional do Editores de Livros. Sua proposta é simples: para a criação do Fundo, que se ponha contrapartida equivalente de recursos pelo governo. É claro que não elide o fato de que o setor está sendo roubado, mas ao menos dá uma satisfação aos que fazem parte do setor, manifestando no gesto o engajamento dos burocratas governamentais com a nobre causa do livro.

É difícil hoje em dia um sindicato patronal se colocar de forma contrária a uma vontade governamental. O poder de Estado pode ser esmagador. Então é preciso compreender o conformismo do SNEL diante da iminente injustiça; é como um refém diante do seu algoz. Evidentemente que a disposição do governo de colocar recursos orçamentários no Fundo é nula e a tramitação do projeto de lei deve ignorar solenemente o pensamento dos produtores de livros. Um pesadelo e tanto para as editoras, livrarias e consumidores.