15 janeiro 2010

Os mortos da ditadura

Algumas pessoas me perguntam se eu realmente acredito que o número de vítimas da ditadura não ultrapasse as centenas. É lógico que sim! Em "Dos Filhos Deste Solo", escrito pelo ex-ministro Nilmário Miranda e pelo jornalista Carlos Tibúrcio, os autores citam - com enorme boa-vontade - 424 casos de pessoas que teriam morrido ou que ainda são dadas como desaparecidas em razão do regime militar. Vale lembrar que esse livro é uma co-edição da Boitempo Editorial (aquela do caso envolvendo o jornalista Emir Sader) e da Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT.

No livro, foram computadas as vítimas de acidentes, os suicidios, as mortes no exterior e até os justiçamentos promovidos pela militância de esquerdas. Desses 424, apenas 293 pessoas morreram assassinadas. Esse número inclui os mortos na Guerrilha do Araguaia. O livro é tão preciso que Dá para saber até a distribuição dos mortos segundo as tendências:

ALN-Molipo – 72 mortes (inclui quatro justiçamentos)
PC do B – 68 (58 no Araguaia)
PCB – 38
VPR – 37
VAR-Palmares – 17
PCBR – 16
MR-8 – 15
MNR – 10
AP – 10
POLOP – 7
Port - 3

É muito? Digo com a maior tranqüilidade que a morte de qualquer homem me diminui, segundo frase famosa que já é um chavão. Mas 424 casos não são 30 mil — ou 150 mil, se fôssemos ficar nos padrões argentinos. Isso indica o óbvio: a tortura e a morte de presos políticos no Brasil eram exceções e não a regra. Regra ela foi no Chile, na Argentina, em Cuba (ainda é), na China (ainda é), no Caboja, na Coréia do Norte, na União Soviética, nas ditaduras comunistas africanas, européias… Só a ALN-Molipo deu cabo de quatro de seus militantes. Em nome do novo humanismo, claro!

A lei de reparação que está em curso no Brasil é extremamente generosa, tanto que alcança até alguns vagabundos que fizeram dela uma profissão, um meio de vida, arrancando dos pobres e dos desdentados indenizações milionárias e pensões nababescas. Quer revê-la, como se o drama dos mortos e desaparecidos fosse um trauma na sociedade brasileira como ainda é na argentina ou na chilena, é um completo despropósito. Pode, quando muito, responder ao espírito de vingança de alguns e gerar intranqüilidade para o resto da sociedade, a esmagadora maioria.

De resto, tão triste — ou até mais — do que a tortura com pedigree, aquela exercida contra militantes de esquerda no passado, é a que existe ainda hoje nos presídios brasileiros. Imaginem se cada preso comum acionar o Estado por conta de maus-tratos ilegais sofridos cotidianamente nas cadeias. Ocorre que essa gente não conta com a disposição dos militante para fazer proselitismo. Não existe uma comissão especial para cuidar do assunto. A esquerda, como sempre, só dá bola para o "seu povo", não para "o" povo.

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