Um dos sintomas mais claros de antiamericanismo agudo é usar o termo estadunidenses para se referir aos americanos. A palavra existe e consta nos dicionários, mas é daquelas que ninguém usa. Ou melhor, ninguém usava, porque parece que a moda está pegando. Nesse modelo de isenção que é a wikipedia em português, o termo aparece 18 vezes no verbete Estados Unidos da América. Mas o que há de errado com ele? Ora, para deferedermos o uso, mas do que descabido, do termo estadounidense, precisamos ignorar a lógica e talvez até o bom-senso! Eu explico: o nome oficial do México, aquele país onde as pessoas ainda usam ponchos e sombreiros, é Estados Unidos Mexicanos. Portanto, há menos que estejamos dispostos a chamar os mexicanos de estadounidenses, tal como fazemos com os americanos, não faz sentido algum defender essa bobagem.
Além do mais, o uso da palavra estadounidense é sempre político, embora muitos não admitam. A explicação oficial é que americano é quem nasce nas Américas, portanto não seria uma designação suficiente. Norte-americano também não, já que o México e o Canadá também fazem parte da América do Norte. Daí a necessidade de criarmos uma palavra capaz de se referir especificamente aos americanos que nascem nos EUA. Parece lógico, mas não é! Esse imbróglio linguístico é lindo na teoria, mas inviável na prática. Para dar certo, teríamos que unificar de vez os gentílicos. Imaginem o caos que seria. Ao invés de ludovicenses, soteropolitanos e manauaras, teríamos sãoluisences, salvadorenses e manausenses.
Aproveitando o embalo, poderíamos também adotar riodejaneirense, paulistense, paulistanense, riograndedosulense, riograndedonortense, paraibense, pernambuquense, minasgeraisense, espiritosantense e por aí vai. Piauienses, cearenses, paraenses e paranaenses já estariam em conformidade, mas catarinenses talvez tivessem que mudar para santacatarinenses. Ainda a título de clareza, se essa estupidez colasse, não seríamos mais cariocas, e sim riodejaneirenses. Vai que os índios carijós se sentem órfãos do termo carioca que quer dizer "casa de carijó".
E pra que ficar restrito ao Brasil? Mudemos o nome da República da África do Sul (sugiro Mandelândia), afinal Namíbia, Botswana, Zimbabwe e Moçambique também são repúblicas e também ficam no sul da África. Percebem o tamanho da ignorância?
O fato é que já faz algum tempo que chamamos os americanos de americanos, um gentílico consagrado por Machado de Assis, que em seu famoso ensaio "Instinto de nacionalidade", chama Henry Wadsworth Longfellow, de "cantor admirável da terra americana". Não se trata de dizer que está certo porque Machado escreveu, mas de provar que esse uso está enraizado em nossa cultura.
Além do mais, o argumento que diz que todos devemos nos referir aos americanos como estadounidenses não possui sustentação lingüística alguma. Perguntem a um professor de português, qualquer um, se é estadounidense (sem hífen) ou estado-unidense (com hífen)? Dúvido que ele saiba a resposta, porque essa palavra é uma verdadeira aberração semântica. Enfim... É uma lógica que deixa de levar em conta um princípio básico das línguas: palavras podem ter mais de uma acepção. Americano é uma coisa sem, naturalmente, deixar de ser a outra.
Sempre existirão aqueles que, quase sempre por razões político-ideológicas, preferem o sabor vagamente espanholado do termo estadunidense (ou estado-unidense), mas daí a chamarem de vendido ou ignorante quem se atém à corrente principal da língua... Com isso eu não posso concordar!
Sugiro aos leitores darem uma fuçada na Internet e procurarem o artigo "Estadunidenses", de Demétrio Magnolli. Se não me falha a memória, esse artigo foi públicado num editorial do Estadão, em 2005.
2 comentários:
Vou me abster em falar de política, até porque não me parece o seu foco nesse precioso texto.
Mas...se formos entrar para a discussão linguística fica complica díssimo! As palavras em si muitas vezes falam mais que seu significado e a maneira que vc coloca tais palavras acabam tendo significado bem mais peculiar doi que consta nos dicionários. A coisa de dois dias li um Poema de um amigo Poeta onde ele pretendia criticar a postura de determinados críticos literários. Acontece que o poema original tinha a seguinte frase:"...que em tudo farão analogia..." e ele na hora de publicar resolveu trocar para "...que em tudo farão taxonomia..." Aparentemente é a mesma coisa, acontece que analogia pode ser feita de forma errônea e quando se fala em taxonomia se fala em bases científica. Ou seja sua crítica se tornaria palavras contra algo com bases, ou seja, Falácia. Ele não gostou, mas desistiu de publicar momentâneamente.
Parabéns por mais uma vez colocar o dedo nas feridas da sociedade.
Estados unidos, todo mundo usa este termo.
Mexico, todo mundo usa este termo.
Brasil, todo mundo usa este termo e não republica Federativa do Brasil .
Logo :
Estado-unidense
Mexicano
e Brasilience-republico-federense ( rsrsrsrsrsr ). Quero dizer brasileiro.
Eu sou brasileiro logo sou americano. Não sou a favor dos americanos com toda aquele complexo de superioridade, robarem o termo so para eles.
Esta abordagem faz a gente pensar mas não mudar meu ponto de vista. Um montão de palavras dessas e uma justificativa atrás da outa podemos defender qualquer coisas, inclusive pedofilia, pena de morte, etc.
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