Mas os defensores dos direitos humanos não vêem isso ou, se calhar, não acham que haja qualquer desrespeito, afinal, se é contra um "anti-revolucionário" da ditadura do camarada bolivariano, vale tudo.
E as renúncias vêm seguindo-se umas às outras como um castelo de cartas ruindo. Apesar da lealdade ao bolivarianismo chavista e de continuarem sendo tão comunistas quanto antes, essas renúncias obedecem a uma revolta em não quererem se sujeitar ao domínio cubano. Há já muitos anos que os agentes cubanos ocupam postos de comando no Estado venezuelano, usurpando o legítimo direito dos cidadãos daquele país. A primeira invasão se deu em 2002, quando para destruir a greve geral da PDVSA (com o apoio do recém-eleito Lula, que enviou um navio com gasolina para o "cumpanhêro"), o ditador Chávez demitiu 22.000 funcionários especializados e os substituiu pelos cubanos que não entendem NADA de petróleo, o que está acabando com a estatal petroleira; introduziu as malfazejas "missões", com um contingente de mais de 20.000 agentes cubanos disfarçados de médicos, professores e técnicos desportivos; colocou como dirigentes de todas as Notarias (cartórios de registros civil e de imóveis) do país mais agentes cubanos, além de sua guarda pessoal - quase 100 escoltas, como seu mentor Fidel - e da infiltração nas Forças Armadas. Lembro-me do caso dos soldados incendiados por um lança-chamas, feito por um oficial cubano que em seguida foi mandado de volta à Cuba para abafar o caso. Na ocasião, apenas o Notalatina teve a coragem e a decência de fazer a denuncia.
Os cubanos ainda dominam as telecomunicações, o serviço de Inteligência, a internet, e a aduana do aeroporto de Caracas. É pouco? Pois bem, no dia 25 de janeiro houve uma reunião no Fuerte Tiuna, sede do Ministério da Defesa e onde também encontra-se o escritório dos comandantes das FARC, quando Chávez resolveu comunicar que iria dar nacionalidade venezuelana a quatro coronéis cubanos, promovê-los a generais de brigada e nomeá-los como chefes de unidades de elite do Exército venezuelano. Ramón Carrizales, o Ministro da Defesa não gostou e resolveu se rebelar informando aos aos comandantes das Forças os planos de Chávez. Estes por sua vez não admitiram de modo algum, gerando um clima ainda mais tenso que culminou com a renúncia de Carrizales. Seguiram a ele sua esposa, Yubirí Ortegay, Ministra do Ambiente, o presidente do Banco Central da Venezuela, Eugenio Vázquez, Jesse Chacón, Ministro da Ciência e Tecnologia (este por causa do envolvimento de seu irmão em escândalos bancários) e, finalmente, o ministro da Energia Elétrica, Angel Rodríguez. Todos alegaram "motivos pessoais" com exceção de Rodríguez, que não conseguiu resolver o problema dos cortes de energia e falta de água que estão à beira de colapsar. Não é estranho que tantos homens fortes do governo chavista tenham renuciado ao mesmo tempo e sem apresentar qualquer justificativa plausível? Que "motivos pessoais" serão esses?
Nos dias seguintes, 26 e 27, Chávez se reuniu com os Altos Comandos militares venezuelanos para tentar resolver a crise que se instalou no seio do seu governo. Além das renuncias, a crise foi provocada por uma série de exigências por parte da Chefatura da Missão Militar cubana na Venezuela. Segundo um informe dado pelo próprio Chávez na rede de TV estatal Telesur, Havana quer impor a Caracas uma agenda bem estruturada de medidas destinadas a "garantir e assegurar a estabilidade e permanência do regime bolivariano no poder". Está claro que os cubanos não confiam na lealdade dos altos comandos venezuelanos e farão de tudo para evitar que Chávez sofra com o clichê que comentei em um post anterior.
Segundo a advogada Rocío San Miguel, especialista em temas militares, "o novo Ministro da Defesa, que foi premiado com o cargo por haver permitido nos quartéis a palavra de ordem "Pátria, Socialismo ou Morte", está determinado a consolidar a Milícia Nacional Bolivariana, converter as FAN no braço armado da revolução e unificar a FAN remodelando seus componentes". Em menos de um ano foram criados 150.000 "milicianos operários" nas empresas públicas, além de 20.000 patrulhas socialistas integradas por 15 trabalhadores cada, o que daria um "exército" de 300.000 chavistas armados. A intenção de Chávez é criar uma Força Multinacional da ALBA, como já estão tentando criar no MERCOSUL, conformada pelos oficiais de Cuba, Nicarágua, Bolívia e Venezuela.
No programa de domingo passado, "Alô, Presidente", Chávez foi claríssimo em suas ameaças quando disse: "Hoje é impossível um golpe de direita na Venezuela, agora, uma rebelião de esquerda, que aprofunde as mudanças, é possível e eu poderia comandá-la, se me obrigam eu a comandaria. Não quero que siga no ritmo que estamos vindo".
Segundo dados de Capital Market Finance, a PDVSA (estatal venezuelana do petroleo) começou seu endividamento em abril de 2007; em outubro de 2009 já estava em US$ 3 bilhões e para tentar saldar essa dívida começou a emitir bônus. De abril de 2004 até o final de 2009, a dívida financeira da PDVSA alcançou a cifra de 476%. É admissível isso, quando a partir da gestão chavista o preço do barril de petróleo chegou a marcar US$ 140 e arrecadou nos 11 anos de Chávez no poder, nada menos que US$ 448.179 bilhões!
Por todas estas razões, o povo está se movimentando para pedir a renúncia de Chávez e conformou-se o Polo Constitucional, agrupamento que reúne todos os descontentes, baseados nos Artigos 333 e 350 da Constituição. Este agrupamento não é um partido político e reúne gente de todas as profissões (inclusive militares), donas de casa, empresários, trabalhadores de todas as áreas, sindicatos, agremiações estudantis. No áudio "Por que exigir a renúncia de Chávez?" Alejandro Peña Esclusa explica o que motivou pessoas tão distintas a se unirem em prol de um único objetivo: exigir a renúncia de Chávez, pois esperar pelas eleições de 2012 será suicídio, será a destruição total do país. O problema é que Chávez não vai renunciar, o que pode deflagrar um conflito civil. Tomara que alguns país decente intervenha antes que isso aconteça!
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