02 fevereiro 2010

Quando o leitor faz TODA a diferença

Há alguns anos o matemático americano Aaron Levenstein, disse que "as estatísticas são iguais aos biquinís; o que elas revelam é sugestivo, mas o que elas escondem é essencial". Fiz essa breve digressão para falar sobre a mais recente pesquisa divulgada pela CNT-Sensus. A pesquisa mostra um crescimento da candidata petista, Dilma Rousseff, o que fez com que os vermelhinhos se assanhassem. Felizmente, Levenstein nos mostrou que o mais importante não é o que a pesquisa evidencia, mas sim o que ela esconde. E o que a pesquisa esconde? Para começar, existem duas formas distintas de ler a amostra: podemos destacar que José Serra venceria a disputa no primeiro turno ou chamar a atenção para o fato de Dilma ter crescido e estar "tecnicamente empatada" com o tucano. Qual dessas leituras vocês preferem? Imagino que os leitores desse blog sejam pessoas sensatas que prefiram se ater aos fatos ao invés de fazer conjecturas. Pois bem! Vamos aos fatos:

No cenário em que Ciro Gomes disputas as eleições, o que é improvavel, o números divulgados pelo CNT-Sensus são esses:
Serra tem 33,2%, Dilma tem 27,8%, Ciro tem 11,9% e Marina tem 06,8%. Os votos brancos e nulos somam 10,5% e os eleitores que não souberam responder ou não quiseram participar da amostra somam 09,9%. Com base nesses números, podemos dizer que Dilma e Serra estão tecnicamente empatados, desde que se faça uma conta favorável a candidata petista. Para conceber um cenário como este, a margem de erro de três pontos percentuais para mais ou para menos, teria que trabalhar a favor do PT. Serra teria que perder três pontos, ficando com 30, 2% e Dilma teria que ganhar três pontos, chegando a 30,8%. Como estamos lidando com provabilidadades, tudo é possível! Por isso vamos fazer o exercício inverso: uma conta a favor de Serra. Nesse caso, o candidato tucano ganharia três pontos, passando a ter 36,2%, enquanto a petista perderia três, ficando com apenas 24,8%.

Notaram? Um empate técnico" pode se transformar, num átimo, em uma diferença de quase 12 pontos a favor de José Serra ou 15 milhões de votos. Tudo depende da moral de quem interpreta a margem de erro da pesquisa. A essa altura, vocês já devem ter compreendido porque o título desse post é "Quando o leitor faz TODA a diferença".

Até aqui, estamos lidando com matemática e não com pilantragem. Não se pode exigir que os jornalistas saibam matemática, mas podemos exigir que eles não sejam pilantras e interpretem as pesquisas segundo as suas próprias conveniências. Para chegarmos a esse cenários idílico, não é preciso que os nossos jornalistas saibam fazer contas, basta que tenha ao menos um pouco de vergonha na cara. Mas, por que estou dizendo isso? Nos últimos dias surgiram dezenas, ou melhor, centenas de artigos supostamente isentos, evidenciando o crescimento de Dilma Rousseff é o seu "empate técnico" nas pesquisas.

Mas há um outro cenário, bem mais provavel, em que Ciro Gomes não disputa as eleições. Nesse cenário as coisas se complicam ainda mais para o PT, porque agora Serra vence a disputa no primeiro turno. Vejamos: sem Ciro, Serra tem 40,7% dos votos. Dilma tem 28,7% e Marina tem 9,5%. Os votos brancos e nulos somaram 11,4% e os leitores que não souberam responder ou não quiseram participar somaram 10,0%. Como Serra, sozinho, tem mais do que a soma dos votos de Dilma e Marina, ele vence as eleições no primeiro turno. Aí o petista eperançoso lembra que, com a margem de erro de três pontos, ele pode ter 37,7%; Dilma 31,5% e Marina 12,5%. Nesse caso, as duas candidatas teriam
Como Serra, sozinho, tem mais do que a soma de Marina e Dilma, ele vence no primeiro turno. Aí o petista esperançoso lembra que, com margem de erro de três pontos, ele pode ter 37,7%; Dilma, 31,5%, e Marina, 12,5%. Nesse caso haveria segundo turno, pois elas teriam 44% contra 37,7% do tucano. Mas e se ocorrer o contrário? Com a margem de erro de três pontos, Serra poderia ter 43,7% ao invés de 40,7%; Dilma poderia ter 25,5%, e Marina, 6,5%. Aí serão 32% das duas candidatas contra 43,7% do tucano e voltaríamos àquela diferença de quase 12 pontos.

Viram como há mais de uma interpretação para a mesma pesquisa? É exatamente por isso que os jornalistas deveriam se abster de interpretar e passar apenas a ler o que dizem as amostras. Essa história de "brincar" com os números para vender jornal, não é coisa de gente séria.

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