Nas últimas semanas, alguns analistas políticos como Mary Anastacia O'Grady e Alejandro Pena Esclusa, tem dado especial atenção aos pedidos de renuncia de Hugo Chávez. Analisando os seus textos, chegamos a conclusão que os tiranos, com raras exceções, também são vítimas de um clichê: começam a ser destruídos por seus próprios aliados. Enquanto as circunstâncias conspiram a favor de seus superpoderes, são tratados como deuses. Seus adoradores, no entanto, conhecem os pés de barro dos ídolos. Eles se associam aos tiranos em defesa dos seus próprios interesses.
O problema é quando o maluco realmente acredita ser Deus e começa a tomar atitudes destrambelhadas até segundo os critérios já bastante lassos de sua turma. Acontece sempre. Tiranos são necessariamente paranóicos e têm uma mentalidade essencialmente conspiratória. E, como Saturno naquele famoso quadro de Goya, engolem os próprios filhos. Como na mitologia, chega a hora da revolta.
Com Chávez, não foi diferente. Na semana passada, um grupo de ex-aliados do caudilho venezuelano pediu a sua renúncia em carta aberta. Segundo seus signatários, eles querem "evitar maiores males e desgraças ao país". Integram o grupo, intitulado Pólo Constitucional, Raúl Isaías Baduel, ex-ministro da Defesa; Luis Alfonso Dávila, ex-ministro de Relações Exteriores; Herman Escarrá, um dos redatores da atual Constituição, e até dois comandantes militares que tentaram, em companhia de Chávez, dar um golpe de estado em 1992: Yoel Acosta e Jesús Urdaneta.
O documento aponta as dificuldades que o país vem passando — falta de água, de energia, insegurança pública — e aponta a "escandalosa corrupção" como causa de todos os males. Dêem uma olhada nesse trecho:
"Todos os seus argumentos para chegar ao poder hoje o ilegitimam. O povo sofre com a insegurança, com menos liberdade e menos segurança jurídica e social; aprofunda-se a pobreza de nossa gente. Os serviços públicos — água, eletricidade e serviços urbanos — são um caos. A improdutividade conduz à escassez de alimentos; as obras de infra-estrutura do país estão deterioradas por falta de manutenção; a economia vive uma de suas crises mais profundas, apesar da abundância de petróleo (…). A corrupção, que constitui o estigma moral de um governo e foi bandeira de sua proposta política, causa hoje o enriquecimento ilícito mais obsceno que o país jamais presenciou. Funcionários, familiares e personagens conhecidas como 'os boliburgueses' [burgueses bolivarianos] saquearam governos, ministérios, prefeituras e empresas estatais".
Nem a oposição conseguiu ser tão dura com o bandido.
Sabem o que isso significa? Que Chávez está mais perto ainda do seu destino. Em breve, o Bolívar do século XXI será pendurado pelos tornozelos em praça pública; se não sair correndo, é claro. Seus antigos aliados querem deixar claro o seu descontentamente com o governo para vir a compor, no futuro, um governo anti-Chávez. Eles sabem que a atual oposição vai considerar essa aliança importante para derrotar o tirano. Tudo indica que o processo de deposição do ditador venezuelano está avançando mais depressa do que se imaginava.
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