05 fevereiro 2010

Não à Carta de Hamburg

Nos anos eleitorais o número de assuntos relacionados a vida pública e a política do país, crescem assustadoramente. Obras que estava estagnadas há varios meses são inauguradas, denuncias são protocoladas e temas que permaneceram no ostracismo por todo o mandato presidencial voltam à baila. Para tratar de todos esses assuntos, o blogueiro precisa ser uma espécie de superman do jornalismo político. Como eu não sou nenhum super-herói, decidi mandar a Carta de Hamburg às favas para melhor atender aos meus leitores.

Para quem não sabe, a Carta de Hamburgo é um documento que defende os direitos de propriedade intelectual na Internet. Alguns blogueiros famosos, como Reinaldo Azevedo e Augusto Nunes, já aderiram a ela. Com a adesão os blogueiros ficam proibidos de fazer aquele famoso clipping com textos de grandes agências e conglomerados jornalísticos. Para muitas pessoas, isso soa como um verdadeiro absurdo, mas nem todo mundo é adepto do laissez faire. Ainda existem aqueles que defendem os direitos de propriedade intelectual na Internet.

De certa forma, eles estão certos. Afinal, os leitores de blogs vem em busca de uma visão diferente daquela que é fornecida pela mídia convencional. A maioria dos escritores que aderiu a Carta de Hamburg, foi contemplada com uma frequência maior de leitores e comentários. Suponho que isso aconteceu porque
a opinião pessoal do blogueiro, a sua interpretação, a realidade filtrada pelo seu olhar, é a razão de ser de um blog. Como costumo dizer, a principal tarefa de uma página pessoal não é dar um furo jornalístico, mas um furo de enfoque.

Para lhes ser franco eu também gostaria de agir assim, mas não podemos ignorar que esta cada vez mais difícil para o blogueiro amador se manter atualizado. A velocidade com que as informações são transmitidas tornaram o trabalho de acompanhar as notícias algo quase impossível. Há pouquíssimo tempo atrás, bastava ir à banca e comprar um ou mais jornais para se manter informado. Hoje, você precisa ler o jornal, acessar a Internet, verificar o Twitter, a caixa de emails, o Orkut, o MySpace e mais uma pá de coisas que ajudaram e continuam ajudando no processo de democratização da informação.

Do final do último século para cá, quase todas as coisas relacionadas a mídia antiga despareceram. Pergunte a um estudante do ensino médio se ele sabe quem foi Gutemberg? Pergunte se ele sabe o que são copyrights? É provavel que ele não faça a mais vaga ideia do que você está falando. Em contrapartida, ele está afinado com nomes como Napster, Peer to Peer, Tivo, YouTube, Podcast e Torrent. Num mundo tão compartimentado e abragente, o autor ou comentárista que não recorrer ao auxílio de outras fontes de informação, acabará defasado.

Para se ter uma ideia do quão rápido caminha a revolução digital, há alguns anos o Wall Street Jornal se tornou um jornal on-line. O Google lançou o Google News e todos os dias, mais e mais pessoas leem Ohmynews. Num mundo em que o Flicr se tornou o maior repositório de fotos da história e o YouTube de filmes, chega a ser surreal falar em propriedade intelctual na Internet. Vá lá... Viver em detrimento da sua própria capacidade intelectual, não repercutindo análises e notícias de outros comentáristas, é muito nobre, mas também é praticamente impossível.

Percebam a extensão desse processo: em 2007 a revista Life (que péssimo exemplo) fechou e virou Life.com. Pouco tempo depois, o The New York Times vendeu a sua rede de TV e declarou que "o futuro é digital". A BBC está indo pelo mesmo caminho e é provavel que daqui há alguns anos, não tenhamos mais o canal de informações mais importante do serviço de TV por assinatura. Para evitar que os leitores desse blog se percam em meio a essa torrente de informações que faz com que os artigos impresos nos jornais de ontem se convertam em notícias de ante-ontem, resolvi aderir aos clippings. Não estou nem aí se alguns dos meus colegas blogueiros vão dizer que isso é péssimo e que retira a autenticidade de um blog, para mim - e imagino que para vocês também - a única coisa que interessa são os fatos e se for preciso abdicar da tal da autenticidade para me manter atento a eles, que seja.

A propósito: eu continuarei públicando releases e fazendo o jabá de outros autores. Só que aviso que
é jabá e release, não é mesmo? Picaretagem é publicar "denúncia" forjada por petista como se fosse fruto do "jornalismo investigativo"… Quantos são os que publicam "releases" de "companheiros" sem avisar o leitor?

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