29 setembro 2009

A ópera bufa que é Honduras

Nos últimos dias temos falando muito de Honduras. Honduras para cá, Honduras para lá... Como se fosse a coisa mais natural do mundo. Não é! Não dá para comentar um golpe, ou uma situação política, por mais grotesca ou absurda, sem atentar primeiro ao absurdo que é Honduras em si, mesmo sem golpes ou situação política explosiva. Este é o ponto! Eu cheguei a conclusão que as pessoas que discutem o golpe – e aqui eu me incluo - dão por pacífica a existência daquele país. Consideram que um país chamado Honduras é algo perfeitamente normal e cabível na ordem geral do planeta. Ora, nós deveríamos parar um momento para pensar. Como assim? Honduras? Um país chamado Honduras? A conclusão inevitável é que Honduras é uma aberração geo-política!

Aliás, toda a América Central é uma aberração. É produto de um erro geológico, um esquecimento que fez uma tripa de terra resistir a seu destino lógico, que seria a submersão no oceano. Sem ela, os oceanos Atlântico e Pacífico teriam ampla comunicação. Teria sido evitado o drama que foi a construção do Canal do Panamá, incluindo o escândalo financeiro da primeira tentativa de sua abertura, tão rumoroso que a palavra "panamá" virou sinônimo de maracutaia. A América do Norte e a América do Sul seriam dois continentes diferentes, com identidades ainda mais nítidas do que as que já possuem. Teriam nomes diferentes, em conseqüência. Com sorte, os americanos do Sul deixariam de se sentir órfãos do adjetivo "americano".

Voltando ao assunto: contempla-se o mapa e surge por inteiro o erro que é a América Central – um rabicho da América do Norte, ou, vista do ângulo oposto, um penacho, ou um topete rebelde, brotado da cabeça da América do Sul. Bem… Já que existe, poderia contentar-se em constituir-se numa ponte, uma passagem seca, e por isso uma boa alternativa de comunicação, entre a América do Norte e a do Sul. Não; foi-se além, e implantou-se ali… um país? Um único país, o que, vá lá, com boa vontade seria tolerável? Não; implantaram-se sete países. Sete! Existe até um chamado Belize. Eles acomodam-se mal, apertados uns contra os outros como num trem de subúrbio às 6 da tarde, e não é de espantar que, quando não tem conflitos políticos e diplomáticos entre si, como ocorreu nas guerras civis de El Salvador e Nicarágua, eles se enfrentam uns aos outros, como na Guerra do Futebol, entre o mesmo El Salvador e nossa espantosa Honduras, em 1969.

Okay! Reconheçamos que, caso não houvesse a América Central, não haveria conflitos que até possuem seu lado recreativo, infelizmente ensombrecido pela triste circunstância de também levarem à morte e à devastação centenas de milhares de pessoas. E caso não houvesse Honduras não haveria um espetáculo retrô, para encher de conforto a alma de um saudosista, como a deposição manu militari de um presidente, ainda mais que enriquecida por particularidades como arrancar o presidente do palácio de pijama, levá-lo ao aeroporto e despejá-lo, sempre de pijama, num país vizinho.

Tais aspectos não compensam o absurdo que é a mera existência da América Central. O simples fato de haver nações, com o conseqüente aparato de fronteiras, exércitos, nacionalismos e xenofobias, já é questionado pelos mais idealistas. Transportado para a América Central, o argumento multiplica-se por mil. Se fosse habitada por árabes e judeus, uns roçando as costas dos outros, ou indianos e paquistaneses, ou chineses han e chineses uigures, ainda se entenderia caber tanto conflito em tão exíguo cenário. Não; são países que falam todos a mesma língua, exceto Belize, são todos cristãos e possuem composições étnicas iguais, ou quase. A América Central é uma amostra eloqüente da forma, abusiva e abusada, como as nações brotaram e continuam brotando na face do planeta Terra.

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