17 novembro 2009

Tinha que ser o Chávez

Depois de eliminar a liberdade de cátedra, abolir o golfe (eita esportezinho burguês), recomendar que os cidadãos tomem banhos de apenas três minutos e poupem energia elétrica usando uma lanterna para ir ao banheiro, o nosso querido Chavito decidiu perseguir os venezuelanos que estão acima do peso. É isso mesmo! O imperialismo americano continua em questão, mas Hugo Chávez identificou uma nova ameaça à revolução socialista da Venezuela: a obesidade. Segundo o jornal britânico The Guardian, com a expansão das cinturas de seus compatriotas, Chávez os convocou para uma batalha contra a gordura, dizendo que a revolução precisa deles fortes e em forma.

"Há muitas pessoas gordas", disse, num discurso na televisão, e elas precisam de dieta e exercícios. "Fazer exercícios abdominais. Comer bem. É preciso aprender a comer". A intervenção de Chávez foi provocada por um estudo sugerindo que nas duas últimas décadas o sobrepeso médio dos venezuelanos passou de 6,3 para 14,5 quilos.

O mesmo estudo mostra que a nutrição no país melhorou e o presidente disse que a revolução assegurara três refeições diárias até para os pobres. "Agora estamos comendo melhor, mas precisamos ser cuidadosos", disse ele. Chávez, de 55 anos, declarou ter perdido quase 20 quilos com exercícios e dieta, embora permaneça nitidamente mais corpulento do que era quando assumiu o cargo há uma década. Chávez recomendou leite de soja e pasta de arroz em vez de macarrão de trigo.

Em discursos na TV, Chávez com frequência mistura os insultos contra o "império ianque" com conselhos para seus concidadãos lerem livros, evitarem o consumismo, pouparem água com banhos de três minutos, e economizarem eletricidade usando uma lanterna para as visitas noturnas ao banheiro. Combater a obesidade pode ser uma luta condenada ao fracasso, contudo.

Os venezuelanos são fanáticos por pratos que engordam como chicharrón (torresmo de porco) e gostam de encher arepas, uma espécie de empada de milho, com carne assada de porco e boi e de queijo. As refeições não são completas sem refrigerantes, cervejas ou rum com Coca-Cola.

Apesar das exortações do governo, a Venezuela é uma sociedade americanizada que vê nos jogos de beisebol um pretexto para comer cachorros-quentes e batatas fritas. As cadeias de restaurantes fast-food não encorajam a moderação. "Chega de dietas!", proclama um campanha publicitária em outdoor em Caracas, seduzindo motoristas com imagens de hambúrgueres, milk-shakes e bolos de chocolate.

A América Latina já sofreu com a desnutrição, mas o crescimento da renda e uma mudança nos estilos de vida - especialmente uma tendência ao consumo de comida de baixo valor nutritivo - produziram uma epidemia de obesidade. Na Venezuela, muitos dos que estão na mira de Chávez não veem nenhum problema na sua corpulência. Na praia, biquínis fio-dental são comuns até em mulheres visivelmente fora de forma. Uma das mais famosas misses da Venezuela, Alicia Machado, quase perdeu seu título de Miss Universo de 1995 por ganhar peso. Donald Trump, organizador do concurso, a chamou de uma "máquina de comer". Chávez tomou o cuidado de não se indispor com as mulheres e referiu-se mais aos "gordos" que às "gordas". "Não estou falando das mulheres, porque elas nunca ficam gordas." E acrescentou: "As mulheres às vezes encorpam".

Claro, a mais nova exortação de Hugo Chavez não tem absolutamente nada a ver com a crise no sistema de abatecimento venezuelano. Não é a falta de comida que inspirou o seu súbito ataque aos gordinhos, mas sim o sentimento altruísta de ver todos os seus cidadãos bonitos e saudaveis. Valha-me Deus! O que mais o paraíso socialista criado pelo Simon Bolivar do século XXI reserva aos venezuelanos? Digestão coletiva, como na Alemanha Oriental?

É como eu disse: o socialismo começa propondo a salvação da humanidade e termina numa grande mer... Bem, você sabem.

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