Tudo voltou ao normal em Honduras. Metade da população com-pareceu à eleição do dia 29, vencida pelo candidato do Partido Nacional, Porfirio Lobo, com 56% dos votos. Três dias depois, o Congresso hondurenho vetou a restituição, ainda que simbólica, de Manuel Zelaya. O bigodudo, destituído da Presidência em junho, quando tramava mudar a Constituição, continua encastelado na embaixada brasileira, com assessor só para lhe passar o chapelão e fazer pose de importante. Foram 111 votos contra a sua volta, 14 a favor e nenhuma surpresa: o mesmo Congresso havia aprovado a sua destituição. Ao final, a crise que, segundo a diplomacia do governo Lula, lançaria o pequeno país no limbo eterno durou menos de seis meses. O mérito foi dos hondurenhos, que votaram pela normalização, e dos Estados Unidos, que promoveram um acordo altamente flexível pelo qual todas as partes antizelaystas fingiram que discutiriam sua volta para valer enquanto tocavam o projeto eleitoral. A influência nociva do venezuelano Hugo Chávez – cuja cartilha inclui o desrespeito às instituições democráticas e uma mudança nas leis para ganhar um mandato vitalício – foi cortada pela raiz e, felizmente, não se divisa nenhum projeto de repressão aos zelaystas. O lado triste foi o vexame desnecessário e desmoralizador da diplomacia lulista, que boicotou a saída eleitoral como se fosse uma praga inconcebível.
O argumento de que as eleições legitimariam o golpismo não cola por dois motivos. Primeiro, elas já estavam previstas antes da destituição de Zelaya. Segundo, porque foram tão aceitáveis quanto possível num país como Honduras, apesar das circunstâncias excepcionais. Até o assessor presidencial Marco Aurélio Garcia acenou com uma rendição inglória e o reconhecimento do "fato político" – mas até para reconhecer um fato ele fez papelão e acusou de "indelicada" e "improcedente" a comparação feita pelo presidente da Costa Rica Oscar Arias entre a boa vontade em relação à reeleição fraudada do iraniano Mahmoud Ahmadinejad e a intransigência à eleição em Honduras. O assessor bateu assim um recorde: em menos de uma semana, ofendeu dois ganhadores do Nobel da Paz, Arias e Barack Obama. Na nova política externa brasileira, até Tancredo Neves poderia ser chamado de ilegítimo, porque foi escolhido pelo general Figueiredo. Ou Patricio Aylwin, no Chile, Vicente Fox, no México, ou Lech Walesa, na Polônia.
Coube ao eleito Porfirio Lobo dar prova de maturidade e elegância. "O Brasil vai aceitar a realidade com o tempo", disse. "E a realidade é que as eleições reforçam nossa democracia." Agora, sobra o bolão sobre o destino de Zelaya: 1) mudará de cafofo, transferindo-se para a Nicarágua; 2) entrará no negócio de chapéus; 3) continuará até o fim dos tempos na embaixada brasileira, sem ninguém perceber.
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