O presidente Lula precisa escolher: Norberto Bobbio ou Hermann Goering. Bobbio passou a vida a afirmar que existem direitos humanos, e que estes encarnam conquistas civilizatórias que devem ser defendidas em qualquer tempo, em qualquer lugar. Goering passou todo o julgamento de Nuremberg afirmando que não cometera nenhum crime, apenas cumprira as leis alemãs, e que estas, por mais desumanas que parecessem a outros povos, só diziam respeito aos próprios alemães. Em nome de quê ─ perguntava aos juízes ─ vocês pretendem julgar os atos do governo nazista? A resposta que lhe foi dada é bastante simples: em nome de um conjunto de valores que encarnam a idéia de civilização.
Desses valores decorre a idéia de que existem direitos humanos ─ que não se aplicam apenas aos camaradas que, depois de matar dois ou três “lacaios da burguesia”, fogem da Itália para o Brasil. Aplicam-se a todos os cidadãos do planeta, inclusive aos infelizes cubanos. Foi em nome desses valores que se criou a ONU (com aquela desejável cadeira permanente no Conselho de Segurança…). É em nome desses valores que jornalistas do mundo todo denunciam, há meio século, o encarceramento e a morte dos cidadãos que ousam discordar do governo em Cuba, assim como denunciavam, no passado, as prisões e mortes sob a ditadura militar brasileira.
O presidente precisa decidir: ele agia como bandido quando lutava contra a ditadura ─ ou o direito dos cidadãos de resistir à tirania é um valor universal? O direito de greve deve existir em qualquer país ou só no ABC paulista? Qualquer dirigente sindical preso por leis ditatoriais tem direito de fazer greve de fome, ou esse é um direito exclusivo dos sindicalistas brasileiros que se chamem Lula? Que conselho Lula daria a Nelson Mandela se este, em vez de ser prisioneiro na África do Sul, tivesse a infelicidade de ser prisioneiro em Cuba? Lula precisa escolher: de que lado quer entrar para a História?
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