Estamos vivendo dias de madalenas arrependidas. Os jornais têm as páginas coalhadas de críticos do PT, mas quando olhamos suas biografias... Surpresa! Os críticos mais ferozes são justamente aqueles que ajudaram a fundar o partido; ativistas cujas barbas embranqueceram na militância e que só adiquiriram auguma relevância no cenário político brasileiro graças ao PT. O fato dos ratos estarem dando no pé é um sinal inequívoco de que o barco está afundando. Que o diga a revista Veja, que vem promovendo uma verdadeira guerra contra aqueles que até outro dia, se julgavam os únicos portadores autorizados da bandeira da ética.
- É que o partido, ao tomar o poder, mudou – gemem as madalenas.
Mudou coisa nenhuma! Como Dutra ressaltou em sua entrevista, o partido nunca teve uma identidade política definida. Sua sobrevivência sempre dependeu, e continua a depender, do seu caráter fisiologico. Desde sua origem, a legenda petista exibe um vasto leque de salafrários, que vai desde católicos a trotskistas, passando por marxistas soviéticos, maoístas, polpotistas, castristas... Enfim, todo aquele rebotalho do século passado.
A união de pessoas com pontos de vista tão distintos só pode ter acontecido em função de um único objetivo: a conquista do poder. Acontece que o partido chegou lá e agora fará de tudo para não ter que largar o osso. Encurralados pelas sutilezas da democracia representativa, os petistas não se pejam de acionar a máquina colossal do Estado para esmagar seus desafetos. Nem mesmo um simples caseiro, que teve a desgraça de ser testemunha das reuniões da máfia petista, foi poupado o que dirá aquelas pessoas digamos, mais audaciosas e cheias de si mesmas.
Em geral, as carpideiras são as viúvas do muro de Berlim que hoje atacam o partido com uma fúria ímpar, porque não admitem o desvio de tragetoria dos seus líderes. Ocorre que essas pessoas não podem alegar que se enganaram e afetar uma suposta indignação contra tudo isso que está aí, pois Lula e o seu partido são apenas um reflexo, pra lá de embotado, do socialismo do século passado. Além do mais, mesmo naquela época os dirigentes socialistas não eram exemplos de lisura. As primeiras denúncias da tirania e da corrupção soviética surgiram em 1929, com Panaïti Istrati. Continuaram nos anos 30, com Koestler, Orwell, Camus, Gide, Sábato, Ignazio Silone, Richard Wright, Louis Fischer, Stephen Spender e outros tantos, que foram imediatamente denunciados pelos comunistas como agentes do imperialismo. A denúncia maior ocorreu em 1949, com a affaire Kravchenko. Em 1956, há mais de 50 anos, tivemos o relatório Kruschev. Naturalmente, nem todos os petistas estão, como direi... Carpijando cadáveres. Alguns estão felizes com os rumos do seu partido, mas estes são mais lulistas do que petistas.
Aqueles que se julgam enganados, injustiçados, não tem razão de reclamar. Afinal, foram enganados porque quiseram, porque consentiram. Aqui, pelo menos, escolheram conscientemente um desqualificado, que passou boa parte de sua vida sustentado por um empresário, que como paga recebia favores das prefeituras petistas. Ninguém ignorava isto. Aliás, ninguém ignorava que o candidato à Suprema Magistratura da nação morava em uma cobertura, sem ter condições para tanto. Todos os eleitores de Lula fizeram ouvidos moucos às denúncias que salpicavam as páginas dos jornais e o resultado está aí.
Mas isso é só um detalhe. Digam, vocês não acham curioso que um partido composto majoritariamente por universitários tenha escolhido como líder um operário analfabeto? Eu acho, mas sei que a escolha não foi gratuita. Desde fins do século XIX, os europeus vem cultuando o mito de uma classe operária redentora e mitos, como bem sabemos, costumam ser mais fortes que as pessoas. Dotado de um arcabouço de ideias criados por homens como Antonio Gramsci e Theodor Adorno e tendo a tiracolo o apoio da Igreja Católica e das universidades, não é de se admirar que o partido tenha eleito um candidato como Lula.
E Dutra nisso tudo? Bem, Dutra parece não se ressentir do papel de porta-voz dessa camarilha e segue repetindo que nenhuma das sordidezas que a imprensa vem urdindo contra os petistas é verídica. Por exemplo: quando foi questionado pelo jornalista Fernando Mitre sobre o tal plano que pretende limitar a liberdade de expressão impondo uma forma de controle a industria da comunicação, o petista respondeu célere: "nada disso é verdade... se você ler o programa do partido, verá que não é isso que está escrito". Segundo ele, não há uma única palavra no programa de governo elaborado pelo partido para a candida Dilma Rousseff, que atente contra a democracia.
Eu bem que gostaria de crer nisso, mas infelizmente não posso. A frequência com que o partido avança contra as garantias fundamentais da democracia é espantosa. Recentemente a direção nacional do PT editou um jornal chamado "Movimentos", cujo editorial é assinado por ninguém menos que o próprio José Eduardo Dutra.
Lê-se lá, segundo informa na Folha Ranier Bragon:
"Os movimentos sociais organizados precisam se manter atentos, pois o 'ovo da serpente' está intacto e as mesmas elaborações teóricas, sentimentos de superioridade e defesa de privilégios que animaram os golpistas de 1º de abril de 1964 ainda estão presentes nos corações e mentes da elite".
E onde estariam os golpistas? A turma de Dutra explica, ainda segundo a Folha:O texto principal do jornal, de 12 páginas, fala que "os articuladores e reais mentores da ditadura" estão "encastelados em entidades patronais, nos meio de comunicação que a ditadura lhes legou, nos espaços conquistados, graças ao seu servilismo, no Poder Judiciário, no Legislativo e na burocracia dos Executivos".
O jornal procura ainda associar o pré-candidato tucano José Serra, ao ambiente que resultou no golpe de 64. É verdade! Serra que foi presidente da UNE, que foi perseguido e exilado durante a ditadura, conspirou para... O surgimento da ditadura! É ou não é um petardo digno das mentes petistas mais brilhantes? E Dutra ainda manda ver na página 7 dizendo: "É Dilma ou barbárie"! Dessa forma ele ecoa, de modo bucéfalo, o "socialismo ou barbárie", da revolucionária Rosa Luxemburgo e estabelecve uma relação inequivoca com o socialismo. Com esse bordão, o jornal mostra a candidata petista como a última esperança socialista.
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