05 agosto 2009

The Animal Farm

por Thiago Nogueira

"No meu dicionário, socialista é o cara que alardeia intenções e dispensa resultados e prega a igualdade social, mas se considera mais igual que os outros..." Roberto Campos

Ao longo dos anos, os ideais disseminados através da Revolução Francesa fizeram inúmeros adeptos. Infelizmente, estes ideais – tão nobres em teoria – foram corrompidos pela própria natureza humana e deram lugar a horríveis tiranias. A Revolução dos Bichos, escrito na época da Segunda Guerra Mundial por George Orwell, fala exatamente sobre isso. O livro ataca o comunismo e satiriza a revolução socialista em uma narrativa sensacional.

A fábula se passa na Granja do Solar, onde os animais eram explorados por seu dono, o Sr Jones. Descontente com o tratamento que os humanos dispensavam aos animais, o velho porco Major fez um discurso que cativou a todos. Em seu discurso, o homem era o grande inimigo, o único inimigo. Retirando-o de cena, a fome e a sobrecarga de trabalho que afligia os animais desapareceriam para sempre. Nas palavras de Major: "Basta que nos livremos do Homem para que o produto de nosso trabalho seja só nosso". Num piscar de olhos, todos os animais seriam livres e ricos e a tirania seria abolida para sempre. No cenário idílico pintado por Major, todos seriam como irmãos. Todos seriam iguais!

Logo uma canção foi criada para transmitir a mensagem igualitária a todos os animais da granja. Os animais repetiam aqueles versos com profundo entusiasmo. Pareciam certos de que o futuro seria magnífico. Sansão, o forte cavalo, era o discípulo mais fiel. Não sabia pensar por conta própria e aceitava tudo que os porcos diziam com uma obediência exemplar. A figura de Sansão é o retrato perfeito do idiota útil, que bem intencionado, acaba servindo como massa de manobra dos oportunistas de plantão.

Graças às exortações de Major, os animais se revoltaram, e finalmente tomaram o poder da granja. Ao expulsar os humanos, criaram uma série de mandamentos (sete no total) que não poderiam ser infringidos ou alterados sob circunstância alguma. Alguns destes mandamentos merecem destaque: qualquer coisa que andar sobre duas pernas é inimigo; nenhum animal dormirá em cama; nenhum animal matará outro animal; e o mais importante, todos os animais são iguais. Mas o caráter imutável dos mandamentos não durou muito. Com o tempo, todos eles foram sendo devidamente ignorados pelos novos donos do poder, que os alteravam sem qualquer cerimônia.

O leite das vacas, por exemplo, desapareceu. Com o tempo, o mistério foi esclarecido: o leite estava sendo misturado à comida dos porcos. Felizmente, o discurso dos porcos era convincente e satisfez a todos que ansiavam por uma resposta: "Camaradas, não imaginais, suponho, que nós, os porcos, fazemos isso por espírito de egoísmo e privilégio" - Não, claro! Eles eram os intelectuais, e a organização da granja dependia deles. O bem-estar geral era o único objetivo dos porcos - "É por vossa causa que bebemos aquele leite e comemos aquelas maçãs".

É típico... O bom e velho discurso altruísta sendo usado para tapear, e dominar, os inocentes. Para que uma revolução de certo, deve haver um bode expiatório, um inimigo externo, ainda que fictício, que justifique os abusos cometidos. Logo, se os porcos falhassem nessa nobre missão, o antigo senhor voltaria ao poder, o terrível Sr. Jones. E isso ninguém queria. Portanto, tudo que os sábios porcos diziam e faziam deveria ser verdade. Afinal, era pelo bem da granja!

Durante uma batalha com invasores humanos, os porcos deixaram claro que não era para os animais terem qualquer tipo de "sentimentalismo". Guerra é guerra, e "humano bom é humano morto". Com essas palavras, George Orwell ataca com veemência a figura dos líderes soviéticos. Algumas declarações do líder da de Lênin demonstram que esta mentalidade violenta sempre caminhou lado a lado com a doutrina comunista: "Enquanto não aplicarmos o terror sobre os especuladores - uma bala na cabeça, imediatamente - não chegaremos a lugar algum". O objetivo dos revolucionários soviéticos era uma guerra civil, e ele deixava claro que este era o caminho que todos deveriam buscar. Suas palavras eram diretas: "É chegada a hora de levarmos adiante uma batalha cruel e sem perdão contra esses pequenos proprietários, esses camponeses abastados". Na verdade, os pobres kulaks não eram tão abastados assim. Mas eram os alvos (bodes) perfeitos para justificar a guerra civil que os bolcheviques tanto desejavam. Dito e feito!

O Stalin do livro é Napoleão, um porco esperto que criou em segredo uns cachorros amedrontadores (uma espécie de NKVD sobre patas). Chegada a hora de assumir o poder absoluto, Bola-de-Neve vira vítima dos cães adestrados de Napoleão, para o terror de todos os animais que olhavam a cena. Bola-de-Neve seria o Trotski no livro, iludido pela revolução, mas depois enganado. Daí em diante, a história é totalmente reescrita por Napoleão, que transforma Bola-de-Neve num espião, que desde o começo da revolução trabalhava para o inimigo. As regras mudam, as votações acabam, e as decisões passam a ser tomadas por uma comissão de porcos, presidida por Napoleão. Isso tudo é passado aos animais como um grande sacrifício de Napoleão, tendo que carregar o fardo da responsabilidade, em prol do bem-geral. Era isso ou o retorno do homem malvado. Esse "argumento" era infalível.

Dá-se início a um verdadeiro culto de personalidade, como costuma ocorrer em todos os países socialistas. Napoleão passa a dormir na cama, ignorando um dos mandamentos da revolução, que passa a contar com um adendo que diz que nenhum animal deve dormir em cama com lençóis. O mandamento de que nenhum animal mataria outro foi substituído, após uma chacina de alguns dissidentes do regime, para outro onde nenhum animal deveria matar outro sem motivo. Ora, não foi difícil, com tanto poder, achar motivos para justificar o massacre de Napoleão. A miséria se abateu sobre a granja, mas os porcos comiam cada vez melhor. O cavalo Sansão trabalhava cada vez mais, convencido de que Napoleão estava sempre certo. Acabou doente de tanto cansaço, e foi levado para um abatedouro, sem piedade alguma sob as ordens do "grande líder Napoleão".

Agora, os sete mandamentos davam lugar a apenas um: "Todos os bichos são iguais, mas alguns bichos são mais iguais que os outros". Os porcos ligados a Napoleão passaram a negociar com os homens de outras granjas vizinhas, algo totalmente condenado na revolução. Passaram a beber álcool, também condenado, e aprenderam a andar sobre duas patas. No fim, era completamente indistinguível quem era porco e quem era homem. Eis o destino inevitável dos igualitários revolucionários. Instalam um regime tão opressor ou mais que o anterior, tudo em nome do servilismo e da tal da igualdade.

Nota do Whats Up Brazil: se quiserem ler o livro na íntegra, acessem a sessão "biblioteca" e façam o download.

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