27 outubro 2009

O flagelo das drogas

As drogas estão se tornando um flagelo no país. Sob o olhar cúmplice das autoridades brasileiras. Mais do que isso: há uma cultura de tolerância com o consumo — e, por conseqüência, com o tráfico. Quem usa drogas mata! No Ministério da Justiça, há um estudo, que deve se converter num projeto de lei assinado por um deputado do PT, que tira da cadeia o chamado "pequeno traficante". Um ministro de Estado, Carlos Minc, não só participou de uma tal "Marcha da Maconha" como subiu num palco e discursou em defesa da descriminação das drogas num ambiente visivelmente relaxado, descontraído… O vídeo foi públicado na sessão "vídeos" deste mesmo blog. Um ministro de estado é a representação do presidente da República. Minc continuou ministro.

No Rio, fica evidente que o narcotráfico domina vastos territórios, onde a polícia não entra a não ser em operações que lembram ações de guerra. O Complexo do Alemão — que articulistas como o Reinaldo Azevedo chamam de "Complexo da Ideologia Alemã" — não recebe a visita da Polícia há 13 meses para não atrasar as obras do PAC… O narcotráfico, como deixarei claro aqui nos próximos dias, desenvolveu até uma estética, que se confunde com uma ética, que chegou à industria do entretenimento: o funk. "O que o funk tem com isso, Thiago?" Ok! Tentar combater o mal exaltando os seus valores e sua visão de mundo é perda de tempo. Muitas ONGs, todo mundo sabe, mas ninguém diz, se tornaram fachadas legais do poder paralelo do tráfico. Estamos começando a colher os efeitos da incúria, da irresponsabilidade, do erro de análise e da ideologização do crime.

A droga é, sem dúvida, um flagelo. A maioria dos brasileiros acompanhou a história terrível de Bárbara, uma jovem de 18 anos, assassinada pelo namorado, Bruno Prôa, de 26, que havia acabado de consumir crack. Foi o próprio pai do rapaz, Luiz Fernando, quem chamou a polícia. Numa carta ao jornal O Globo e, ontem, no Jornal Nacional, ele reclamou da impossibilidade de se internar, contra a vontade, um viciado em drogas. A lei que força a internação existe, mas todos sabem que não é aplicada.

O Jornal Nacional resolveu debater o assunto com dois especialistas: o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, considerado uma das maiores autoridades sobre o assunto no país, e Pedro Gabriel Delgado, coordenador da área de Saúde Mental do Ministério da Saúde. Basta assistir à entrevista de ambos para se constatar que Laranjeira tem razão: “Essa lei não é seguida aqui no Brasil. O sistema público de saúde não tolera esse tipo de atitude. Então acaba desassistindo uma parte da população. O crack é uma doença grave, em que é preciso uma série de recursos, inclusive a internação involuntária, em que as pessoas que não têm recursos no Brasil estão sendo privadas de receber o tratamento necessário para essa doença tão incapacitante.

O representante do Ministério da Saúde tentou contestá-lo sem sucesso e só evidenciou que é mesmo impossível internar, contra a vontade, um drogado que esteja fora do controle. Sem ter saída, o valente se aproveitou do fato de Laranjeira ser de São Paulo e fez o quê? Ora, política!!! Atacou o sistema de saúde paulista, como se isso estivesse em debate. É com gente assim que o Brasil está lidando. Isso explica por que chegamos aqui.

O país brinca com fogo. Seja num drama quase privado, uma tragédia que colhe de modo avassalador duas famílias — mas que representam milhares —, seja no episódio do abate do helicóptero e das mais de 40 mortes do Rio, estamos constatando a falência do… Não! Estamos constatando a inexistência de políticas oficiais que cuidem do assunto, que abrange, como se nota, várias áreas: da segurança pública à saúde mental. E as falácias vão se acumulando.

Imaginar que se possa combater o grande tráfico de drogas sem combater o consumo e os pequenos traficantes é dessas bobagens que vão se tornando influentes apenas porque ganham uma roupagem de "progressismo". A tese prospera não porque comprovadamente eficiente, mas porque parece apelar a um senso de Justiça superior, que as pessoas comuns não alcançariam. Imaginar que se pode descriminar a maconha, por exemplo, mas manter na ilegalidade as demais drogas, é outra dessas vigarices influentes que adquirem ares de fina sapiência. Considerar que a política de redução danos — que levaria a um consumo mais "responsável" das drogas, com um manual de instrução — substitui a política de repressão é outra dessas vigarices que tentam ser convincentes. Lembro-me de uma discussão que tive com um grupo que dizia defender tal procedimento no consumo de ecstasy. Foram poucas às vezes em que li tanta bobagem.

Estudos demonstram, por exemplo, que boa parte dos moradores de rua de São Paulo — e isso deve ser verdade em todas as grandes cidades — são doentes mentais. Em alguns casos, a doença é efeito da droga; em outro, os males se conjugaram. Não há local para recolher e tratar essas pessoas ainda que a Prefeitura se dispusesse a tirá-las das ruas. Ao contrário: em São Paulo, certa Escatologia da Libertação, cobrindo o rabo do capeta com a batina, advoga justamente o contrário: o "direito" que essas pessoas teriam de morar nas ruas. ONGs chegam ao requinte de distribuir cachimbos para o consumo de crack e um kit com seringa, água esterilizada e outros apetrechos para o uso de drogas injetáveis. Só falta fornecer mesmo a droga. A suposição, sempre, é a de que, já que o consumo é inevitável, que seja feito de maneira segura. Iniciativas como essas costumam contar com ajuda oficial.

Entenderam a perversidade da coisa? Já que o Estado brasileiro não pode estatizar a segurança e o combate às drogas, então ele, na pratica, estatiza o drogado, a doença. Não deriva o Bem do Mal. Não há hipótese. Cedo ou tarde, o que se supõe um Bem, derivado do Mal, vai cobrar o seu preço. Estamos começando a pagá-lo agora. Os anos todos de tolerância com a cultura da droga já corroeram também as instituições.

A tolerância com o estado paralelo da droga e os flertes com a sua "cultura alternativa" não poderiam dar em outra coisa. Diante do crime, há duas alternativas: combatê-lo ou fazer com ele o pacto que o demônio costuma fazer com seus eternos subordinados. O Brasil tem escolhido reiteradamente o rabudo.

Mas Dilma disse que outros bairros ainda ficarão com inveja do Complexo do Alemão, lá onde a polícia não entra e onde o presidente, FB, nem precisa de eleição.


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