01 junho 2010

A arte da embromação

Há algumas semanas o governo anunciou que vai cortar R$10 bilhões nos gastos orçamentários. A mídia, obviamente, caiu no conto do vigário e divulgou a noticia com fidelidade canina. Ninguém questionou nada, ninguém comentou nada.

A notícia é boa? Seria ótima se fosse verdade. O fato é que estamos diante de uma empulhação grotesca.

Até onde se sabe, a palavra "corte" deveria significar exatamente isso: cortar gastos, reduzir o nível das despesas, fazer com que o orçamento deste ano seja menor que o do ano passado. Um sujeito acostumado a gastar R$ 3 mil por mês estará cortando gastos caso passe a gastar R$ 2 mil reais por mês. Isso, sim, é um corte real de gastos.

E o que o governo propõe? Simples. Reduzir os gastos previstos para esse ano, que são maiores que os do ano passado.

A vigarice funciona assim: no ano passado, a despesa total foi estimada em R$ 1.664.747.856.320,00. Para esse ano, o orçamento previsto, é de R$ 1.832.823.010.022,00. Ou seja: um aumento de módicos R$ 168.075.153.702 de um ano para o outro.

E o que o governo está dizendo? Que vai cortar 10 bilhões desse aumento de 168 bilhões. Ou seja: o tão propalado corte de gastos significa na verdade um aumento de gastos um pouco menor que o previsto. E a imprensa, burra como ela só, caiu na conversa dos governistas!

Ora, já que é assim, fica aqui a minha dica para o governo federal: planeje um orçamento de 5 trilhões e, logo em seguida, diga que vai fazer um corte de gastos de 3 trilhões, ficando, no final, com um orçamento ainda maior que o original, que é de 1,8 trilhão. Deta forma o governo estará aumentando os gastos e, de quebra, ainda ganhará a fama de ser fiscalmente responsável e inflexível com os gastos públicos.

Aposentados

Enquanto isso, o governo segue contigenciando custos em áreas em que não deveria contingenciar. Como, por exemplo, a previdência social. Pouco antes do senado aprovar o aumento de 7,7% para os aposentados, a candidata petista Dilma Rousseff, anunciou que o governo poderia vetar o aumento para manter o equilibrio das contas públicas.

Agora, os petistas acenam com uma nova reforma previdenciária que aumentaria ainda mais o período de contribuição dos cidadãos.
A pré-candidata do PT ao Planalto, Dilma Rousseff, defendeu ontem um aumento no tempo de contribuição para a Previdência.
A petista sugeriu que a terceira idade seja estendida "um pouco mais para lá", mas depois recuou e disse apenas que medidas terão de ser tomadas nesse campo, sem se comprometer com propostas específicas."
O tal do bônus demográfico nada mais é do que isso: a sua população em idade ativa é maior que sua população dependente - jovem, criança e velho. Mas a terceira idade, a terceira idade está ficando difícil... A gente vai ter que estender ela um pouco mais para lá", disse.
Questionada se, caso eleita, proporia a contribuição por mais tempo, Dilma recuou, dizendo que se referia à própria idade -ela tem 62 anos. "Eu acho sempre que vai ter de haver, você vai ter de olhar a questão etária do país e tomar providências para isso", acrescentou. (Continua, para assinantes).

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