21 maio 2010

Dilma e o discurso feito sob medida para os bocós do grotão lulista

do blog do Reinaldo Azevedo

Em Nova York, falando a investidores, a pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, afirmou que as virtudes da economia brasileira se devem às conquistas do Brasil NOS ÚLTIMOS 20 ANOS. Há exatos oito dias, no horário político do PT, ficamos sabendo, ao contrário, que o Brasil era um desastre antes da chegada de Lula à Presidência.

Uma coisa é o que o PT fala para os trouxas aqui dentro; outra é o que diz a investidores lá fora, que não têm tempo a perder com bravatas ou disposição para conversa mole. Não é a primeira vez que eles agem desse modo, não.

Em fevereiro do ano passado, o governo brasileiro, por intermédio de estatais, publicou um anúncio, na forma de reportagem, de 10 páginas na revista americana Foreign Affairs. A Petrobras, o BNDES e a Embratur pagaram a conta. O texto cobria a gestão Lula de elogios, destacava a atuação de Henrique Meirelles e, naturalmente, cantava as glórias de Dilma Rousseff. MAS ELOGIAVA, SIM, O GOVERNO FHC. Leiam um trecho:

"Os bancos brasileiros são sólidos e lucrativos graças à estabilidade criada pelo antecessor de Lula, Fernando Henrique Cardoso. De maio de 1993 a abril de 1994, FHC, como ele é conhecido, foi ministro da Fazenda do Brasil e introduziu o Plano Real para acabar com a hiperinflação. Embalado pelo sucesso de seu plano, ele foi eleito presidente em 1994 e reeleito quatro anos mais tarde. Cardoso foi sucedido em 2003 por Lula, que também foi reeleito; o mandato atual de Lula vai terminar em 2011".

Por que isso? Porque as pessoas que entendem do riscado sabem quem fez o quê. Dilma, agora, volta a reconhecer que Lula não inventou a roda. Isso quer dizer o seguinte: o discurso estúpido do "nunca antes na história destepaiz" foi feito sob medida para enganar os bocós do grotão lulista.

20 maio 2010

Porque uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa

Essa semana José Serra, Dilma Rousseff e Marina Silva foram à Marcha dos Prefeitos, em Brasília, onde fizeram exposições e responderam a perguntas. Os organizadores da marcha pretendiam exibir uma animação narrando a saga de um prefeito com um "pires na mão", em busca de verbas para o seu município. Mas, infelizmente, a fita não foi rodada. Por quê? Ora, porque a assessoria de Dilma Rousseff enxergou no enredo um quê de antigovernismo e bateu o pé: Ou Dilma ou a fita.

O famigerado vídeo pode ser assistido lá no alto. Ele expõe um flagelo comum a todos os governos, não apenas à gestão Lula. A película conta, passo a passo, a trilha que o prefeito tem de percorrer para obter verbas federais. Primeiro, o prefeito tem que recolher as demandas dos munícipes. Depois, precisa contatar seus aliados no Congresso, aguardar a aprovação de emendas no Orçamento da União, viajar para a Capital Federal "uma, duas, três vezes" para obter a liberação das verbas e por fim, entregar uma montanha de documentos na Caixa.

Na versão do vídeo, a primeira parcela da emenda parlamentar é retida. Exige-se do prefeito que renuncie a ações judiciais em que questiona dívidas com a União. Dívidas que, no dizer dos prefeitos, não existem ou já deviam ter caducado. Quem se submete a levar a primeira parcela da dívida, inicia a obra. Mas a bucrocia estatal não termina por aí! De súbito, o governo federal segura a segunda parcela e o prefeito se vê compelido a pagar à empreiteira com recursos das arcas municipais. No final, o prefeito é algemado e empurrado para dentro de um camburão.

Segue-se um letreiro com os nomes das diversas operações da Polícia Federal que resultaram em acusações de corrupção contra prefeitos e fim da exibição. Como podemos ver, o vídeo expõe um circuito que, entra governo, sai governo, é marcado pelo malfeito e só mesmo a assessoria da candidata petista para enxergar uma peça oposicionista em sua exibição.

A visão exposta na peça é simplória. O prefeito, de fato, é submetido a um calvário burocrático. Mas o grosso da corrupção não nasce aí. Começa na formação do caixa da campanha, cresce no relacionamento promíscuo do prefeito com o congressista, Viceja nas dobras de licitações manjadas de obras superfaturadas, prossegue no "quanto é que eu levo nisso" dos gabinetes da Esplanada e termina no grande "racha" que tunga as verbas que o Estado vai buscar no bolso do contribuinte brasileiro.

Ficou boiando no ar uma pergunta incômoda: por que diabos a turma de Dilma vetou o vídeo? E não adianta dizer que eles não tiveram nada a ver com isso, pois às 17h32 desta quarta (19): O presidente da Confederação Nacional dos Municípios, Paulo Ziulkoski, confirmou que a assessoria de Dilma havia vetado a exibição do vídeo.

Estou dizendo isso porque agora há pouco eu estava comentando com a minha namorada o infeliz episódio envolvendo o candidata tucano, José Serra, numa coletiva de imprensa. Segundo ela, a pergunta que fizeram ao candidato tucano se assemelhava a tentativa dos prefeitos de exibir o vídeo que mencioneu acima. Nas linhas que se seguem, vou demonstrar que não há nada em comum entre os dois episódios, exceto, talvez, a tentativa dos candidatos de se fazerem de vítimas todas as vezes que se deparam com algo capaz de por em xeque a sua credibilidade junto aos eleitores brasileiros.

Bom, voltemos a coletiva de imprensa com o candidato tucano, José Serra: Em um dado momento da entrevista, um reporter da Rádio Nacional, que pertence à Empresa Brasileira de Comunicação, pergunta ao candidato tucano se ele pretende acabar com o Bolsa Família. Quando indagado sobre a origem dessa informação, o reporter desconversa e, segundos depois, repete a mesma pergunta. Essa Empresa Brasileira de Comunicação é chefiada por Tereza Cruvinel, que por sua vez, obedece às ordens de Franklin Martins. Sendo assim, é um repórter cujo salário é pago com o dinheiro do contribuinte. Trata-se, portanto, do dinheiro público sendo usado para fins privados. Mas,infelizmente, nem todos os brasileiros conseguem compreender o absurdo que há por trás disso.

Como se não bastasse, a afirmação de que Serra pretende acabar com o Bolsa Família é falsa e carece de crédito até mesmo entre aqueles que estão menos comprometidos com a pré-campanha dos candidatos para a eleição que se avizinha. O reporter que fez a pergunta sabe disso, mas na certa estava fazendo aquilo que lhe foi recomendando pelos seus patrões. O nome disso é terrorismo eleitoral, não indagação jornalística. E sendo o repórter funcionário de uma emissora pública, a coisa fica ainda mais grave, pois se transforma em uma variante da mobilização da máquina oficial contra o candidato da oposição.

Serra já afirmou uma, duas, dez vezes que, se eleito, vai fortalecer o programa. Considerando a sua tragetória política, podemos dizer que não há nenhum indício de que ele esteja mentindo. Vejamos o que é o Bolsa Família? Um programa do governo petista que reuniu várias "bolsas" criadas pelo governo psdbista. Para falar a verdade, o único mérito que Lula teve na confecção do programa foi ter sido capaz de usar a mineirice do ministro da integração nacional, Patrus Ananias, para apresentar um produto velho em um pacote novinho em folha. Dito isso, vamos a pergunta que não quer calar: Por que José Serrá iria querer acabar com uma coisa que teve início no governo do qual ele fez parte? Maluquice? Destrambelhamento? Não sei! Isso só faz sentido no imaginário dos petistas.

Creio que a primeira diferença entre o vídeo que seria apresentando na reunião dos prefeitos e a pergunta sem nexo da qual José Serra foi vítima, está bastante clara: uma faz parte de uma iniciativa independente que contou com o opoio de todos os partidos e da iniciativa privada e a outra faz parte de um jornalismo subvencionado pelas verbas públicas que milita em prol de uma candidata. Mas e a segunda diferença? Calma, já chegamos lá...

A segunda diferença é, a meu ver, a mais grave. O vídeo que foi, sem ter sido, narra a tragetória de um prefeito às voltas com uma série de problemas reais. Pode até ser um relato muito simplista e, se me permitem dizer, com um quê de comédia dos costumes. Mas o fato é que os problemas ali apresentados são reais! E a pergunta que o jornalista da Radio Nacional fez ao José Serra? Está apoiada em quê? Suposições? Ora, o jornalismo não pode se pautar por suposições e ilações. Ele deve ter algo em que possa se fiar. Nesse caso, o que será? Alguma ata do PSDB revelando as suas intenções de acabar com o Bolsa Família? O comentário de um deputado ou senador do partido? Uma declaração do próprio Serra? Não, meu querido leitor! Não há nenhum indício de que o PSDB realmente esteja querendo acabar com o Bolsa Família. Isso é apenas um boato que vem sendo repercutido, ad nauseam, pela imprensa militante que trabalha para favorecer o partido.

Já imaginaram o que poderia acontecer se ao invés de investigar, a imprensa resolvesse aderir ao modo Franklin Martins de fazer jornalismo e passar apenas a insinuar? O resultado seria mais ou menos assim:

- Candidata Dilma, ouvi dizer que a senhora ficou com uma parte do dinheiro que foi roubado do cofre de Adhemar de Barros, isso é verdade?

Reparem que estou sendo gentil, pois Dilma pertenceu ao comando da organização que arquitetou o assalto à casa de Adhemar de Barros, em Santa Teresa e Serra... Bem, Serra nunca deu qualquer pista de que poderia acabar com o Bolsa Família.

Pode-se ainda perguntar a Dilma:

— É verdade que a senhora participou do assalto ao banco Andrade Arnaud, no Rio, feito por sua organização, episódio em que morreu o comerciante Manoel da Silva Dutra?

Sim, eu sei que ela já disse não ter participado de nada disso, embora pertencesse ao comando da organização. Mas, vocês sabem, uma pergunta é só uma pergunta. Imaginem um repórter da, sei lá, TV Cultura a fazer uma indagação dessas à candidata do PT. O mundo desabaria. E os colunistas engajados na mais pura isenção certamente ficariam indignados.

Aliás, Dilma diz que não mudou de lado, não é? Então aí vai outra:

— A senhora ainda é comunista ou renegou o passado?

Não é a primeira vez que um "repórter" ligado a veículo público faz uma pergunta "motivada" por uma fonte escusa. O que nos faz indagar: até quando vamos nos sujeitar a isso? Já não há ilegalidade demais nessa campanha?

14 maio 2010

A Espera de Godot?

De Caio Blinder a Mino Carta, creio que todos os analistas políticos concordam que a visita do presidente Lula ao Irã tem um caráter eminentemente conciliador. Washington tem olvidado todos os seus esforços numa espécie de guerra diplomática contra o regime dos aiatolás e uma boa parte do mundo ocidental acena com a possibilidade de impor sanções mais severas ao regime de Teerã.

Lula é um homem inteligente, não nego, mas por alguma razão misteriosa, prefere aprender como os índios (de ouvido), a passar algumas horas na Biblioteca do Palácio da Alvorada. É graças a esse péssimo hábito, de dar ouvidos ao que dizem os nambiquaras instalados no Itamaraty, que a nossa política externa se converteu nesse amontoado de besteiras marcadas pelo antiamericanismo mais rastaquera.

Haja vista o episódio mais recente protagonizado pelo nosso presidente, na Rússia. Em uma coletiva de imprensa, marcada pelas perguntas relacionadas ao Irã, Lula resolveu discursar acerca das relações do Ocidente com o Oriente Médio e desandou a falar sobre a invasão da Rússia [sic] ao Afeganistão.

No país de Dostoievski, autor do célebre “Os Idiotas”, Lula desempenhou o papel de um rotundo idiota. Mas por que, Thiago? Ora, não foi a Rússia que invadiu o Irã, mas sim a antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Pode parecer bobagem, mas há uma diferença e tanto entre as duas coisas. Esse pequeno tropeço histórico fez com que o presidente russo, Dmitri Medvedev, encerrasse a entrevista aos atropelos.

Fico imaginando o que um homem como Lula, que sequer atinou para o fato de que o Afeganistão não fica no Oriente Médio, pretende fazer para selar a paz na região? Não estou querendo menosprezar a importância do nosso presidente no cenário internacional, mas é preciso salientar que outros, tão ou mais populares do que ele, já se dispuseram a mediar o conflito e avançaram pouco ou quase nada.

O Oriente Médio não está à espera de um Godot salvador capaz de solucionar os seus problemas e, ainda que estivesse, Lula não seria o escolhido para desempenhar esse papel. Os iranianos, que não são bobos, estão se aproveitando da política externa translocada do nosso país para ganhar tempo e, num futuro próximo, se converter numa nova Coréia do Norte. Verdade seja dita, não falta muito para isso, pois o país dos aiatolás é tão severo no trato com os dissidentes políticos quando a de Kin Jon Il.

13 maio 2010

Erros da Câmara impõem prejuízo aos aposentados

Do blog do Josias de Souza


Os aposentados ficaram sabendo, na noite de terça-feira (11), que a Câmara lhes pregara uma peça. Os deputados haviam cometido um erro trivial no projeto que eleva o valor das aposentadorias.


A proposta que saíra do plenário na semana anterior continha dois percentuais de reajuste: Num artigo, anotava 7%. Num parágrafo, 7,72%. A pretexto de corrigir a lambança, o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), recorreu a uma manobra.


Em “correção” de última hora, Temer apagou do texto o percentual menor. Manteve os 7,72%. E enviou o projeto ao Senado. Pois bem, descobriu-se nesta quarta (12) que, entre o certo e o errado, há sempre espaço para mais erros na Câmara.


Mesmo depois da alteração feita por Temer à margem do plenário, o projeto continuou apinhado de equívocos. Se mantidos, os desacertos vão impor perdas financeiras aos aposentados. Vai abaixo um resumo da encrenca:


1. Temer adotou o aumento de 7,72%, mas manteve no projeto o teto previdenciário que considera o reajuste de 7%: R$ 3.444,22.


2. Aplicando-se os 7,72%, o teto deveria ser de R$ 3.467,40. Ou seja, só nesse tópico, os aposentados foram tungados em R$ 23,18 por mês.


3. Parece pouco, mas, projetada no tempo e suprimida dos cálculos de reajustes futuros, a cifra deixa de ser negligenciável.


4. Não é só: o projeto está repletos de erros também numa planilha que carrega como anexo.


5. Essa planilha contém os percentuais de reajuste conforme a data da concessão das aposentadorias.


6. Quem se aposentou até fevereiro de 2009, recebe o aumento integral: 7,72%. A partir daí, o percentual vai sendo reduzido mês a mês.


7. De março de 2009 em diante, os cálculos estão todos equivocados. Sempre em prejuízo dos aposentados. A perda aumenta conforme evolui o calendário.


8. O brasileiro que se aposentou em março de 2009, por exemplo, deveria receber aumento de 7,39%. Pela planilha, receberá 7,31%. Tunga de 0,08%


9. O aposentado de abril de 2009, deveria embolsar reajuste de 7,31%. A planilha dá-lhe 7,18%. Perda de 0,14%. E assim sucessivamente.


10. O dano começa em 0,08% no mês de março e chega a 0,80% em dezembro de 2009.


11. Submetidos à proposta lesiva, os senadores podem agir de duas maneiras. Ou aprovam tudo como está ou modificam o teto previdenciário e a planilha.


12. Aprovando com os erros, darão a Lula justificativa adicional para vetar o projeto. Modificando, terão de enviar a proposta de volta para a Câmara.


13. Se optarem pela segunda hipótese, os senadores estarão como que condenando os aposentados à ausência de reajuste.


14. Por quê? A encrenca das aposentadorias chegou ao Congresso a bordo de uma medida provisória de Lula. Um documento cuja validade expira em 1º de junho.


15. Devolvida à Câmara, ainda que corressem contra o relógio, os deputados não teriam tempo de votar antes do prazo fatal.


16. Líder de Lula na Câmara, o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) cogitou recorrer contra a alteração redacional promovida por Temer no projeto.


17. Antes, Vaccarezza questionou Temer, no microfone do plenário, acerca dos erros que sobreviveram na proposta.


18. Em resposta, Temer reconheceu, primeiro, que os erros, de fato, existem. Depois, admitiu que o problema não é de redação, mas “de mérito”.


19. Significa dizer que, havendo alterações no Senado, a proposta terá mesmo de retornar à Câmara.


20. Diante dessa resposta, Vaccarezza decidiu dar meia-volta na decisão de recorrer contra o “ajuste” de Temer.


21. Concluiu que é mais negócio para o governo deixar que os senadores descasquem o abacaxi. Se a medida provisória expirar, Lula editará outra.


22. A nova MP virá não com os 7,72% pretendido pelos congressistas, mas com os 6,14% propostos originalmente pelo governo. Na melhor das hipóteses, Lula comete a benevolência de conceder os 7% que Vaccarezza tentara, sem sucesso, negociar.

10 maio 2010

As carpideiras

Ontem o programa Canal Livre, da Rede Bandeirantes, exibiu uma entrevista com o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra. Na entrevista, Dutra falou sobre as reiteradas tentativas do PT de limitar o exercício da liberdade de expressão e expôs fatos importantes acerca da "doutrina" do partido. O presidente também aproveitou a oportunidade para justificar as bravatas do PT enquanto estava na oposição dizendo que naquela época, o partido não sabia o que era governar e agora que está no governo, sabe que o buraco é bem mais embaixo.

Estamos vivendo dias de madalenas arrependidas. Os jornais têm as páginas coalhadas de críticos do PT, mas quando olhamos suas biografias... Surpresa! Os críticos mais ferozes são justamente aqueles que ajudaram a fundar o partido; ativistas cujas barbas embranqueceram na militância e que só adiquiriram auguma relevância no cenário político brasileiro graças ao PT. O fato dos ratos estarem dando no pé é um sinal inequívoco de que o barco está afundando. Que o diga a revista Veja, que vem promovendo uma verdadeira guerra contra aqueles que até outro dia, se julgavam os únicos portadores autorizados da bandeira da ética.

- É que o partido, ao tomar o poder, mudou – gemem as madalenas.

Mudou coisa nenhuma! Como Dutra ressaltou em sua entrevista, o partido nunca teve uma identidade política definida. Sua sobrevivência sempre dependeu, e continua a depender, do seu caráter fisiologico. Desde sua origem, a legenda petista exibe um vasto leque de salafrários, que vai desde católicos a trotskistas, passando por marxistas soviéticos, maoístas, polpotistas, castristas... Enfim, todo aquele rebotalho do século passado.

A união de pessoas com pontos de vista tão distintos só pode ter acontecido em função de um único objetivo: a conquista do poder. Acontece que o partido chegou lá e agora fará de tudo para não ter que largar o osso. Encurralados pelas sutilezas da democracia representativa, os petistas não se pejam de acionar a máquina colossal do Estado para esmagar seus desafetos. Nem mesmo um simples caseiro, que teve a desgraça de ser testemunha das reuniões da máfia petista, foi poupado o que dirá aquelas pessoas digamos, mais audaciosas e cheias de si mesmas.

Em geral, as carpideiras são as viúvas do muro de Berlim que hoje atacam o partido com uma fúria ímpar, porque não admitem o desvio de tragetoria dos seus líderes. Ocorre que essas pessoas não podem alegar que se enganaram e afetar uma suposta indignação contra tudo isso que está aí, pois Lula e o seu partido são apenas um reflexo, pra lá de embotado, do socialismo do século passado. Além do mais, mesmo naquela época os dirigentes socialistas não eram exemplos de lisura. As primeiras denúncias da tirania e da corrupção soviética surgiram em 1929, com Panaïti Istrati. Continuaram nos anos 30, com Koestler, Orwell, Camus, Gide, Sábato, Ignazio Silone, Richard Wright, Louis Fischer, Stephen Spender e outros tantos, que foram imediatamente denunciados pelos comunistas como agentes do imperialismo. A denúncia maior ocorreu em 1949, com a affaire Kravchenko. Em 1956, há mais de 50 anos, tivemos o relatório Kruschev. Naturalmente, nem todos os petistas estão, como direi... Carpijando cadáveres. Alguns estão felizes com os rumos do seu partido, mas estes são mais lulistas do que petistas.

Aqueles que se julgam enganados, injustiçados, não tem razão de reclamar. Afinal, foram enganados porque quiseram, porque consentiram. Aqui, pelo menos, escolheram conscientemente um desqualificado, que passou boa parte de sua vida sustentado por um empresário, que como paga recebia favores das prefeituras petistas. Ninguém ignorava isto. Aliás, ninguém ignorava que o candidato à Suprema Magistratura da nação morava em uma cobertura, sem ter condições para tanto. Todos os eleitores de Lula fizeram ouvidos moucos às denúncias que salpicavam as páginas dos jornais e o resultado está aí.

Mas isso é só um detalhe. Digam, vocês não acham curioso que um partido composto majoritariamente por universitários tenha escolhido como líder um operário analfabeto? Eu acho, mas sei que a escolha não foi gratuita. Desde fins do século XIX, os europeus vem cultuando o mito de uma classe operária redentora e mitos, como bem sabemos, costumam ser mais fortes que as pessoas. Dotado de um arcabouço de ideias criados por homens como Antonio Gramsci e Theodor Adorno e tendo a tiracolo o apoio da Igreja Católica e das universidades, não é de se admirar que o partido tenha eleito um candidato como Lula.

E Dutra nisso tudo? Bem, Dutra parece não se ressentir do papel de porta-voz dessa camarilha e segue repetindo que nenhuma das sordidezas que a imprensa vem urdindo contra os petistas é verídica. Por exemplo: quando foi questionado pelo jornalista Fernando Mitre sobre o tal plano que pretende limitar a liberdade de expressão impondo uma forma de controle a industria da comunicação, o petista respondeu célere: "nada disso é verdade... se você ler o programa do partido, verá que não é isso que está escrito". Segundo ele, não há uma única palavra no programa de governo elaborado pelo partido para a candida Dilma Rousseff, que atente contra a democracia.

Eu bem que gostaria de crer nisso, mas infelizmente não posso. A frequência com que o partido avança contra as garantias fundamentais da democracia é espantosa. Recentemente a direção nacional do PT editou um jornal chamado "Movimentos", cujo editorial é assinado por ninguém menos que o próprio José Eduardo Dutra.

Lê-se lá, segundo informa na Folha Ranier Bragon:

"Os movimentos sociais organizados precisam se manter atentos, pois o 'ovo da serpente' está intacto e as mesmas elaborações teóricas, sentimentos de superioridade e defesa de privilégios que animaram os golpistas de 1º de abril de 1964 ainda estão presentes nos corações e mentes da elite".

E onde estariam os golpistas? A turma de Dutra explica, ainda segundo a Folha:

O texto principal do jornal, de 12 páginas, fala que "os articuladores e reais mentores da ditadura" estão "encastelados em entidades patronais, nos meio de comunicação que a ditadura lhes legou, nos espaços conquistados, graças ao seu servilismo, no Poder Judiciário, no Legislativo e na burocracia dos Executivos".

O jornal procura ainda associar o pré-candidato tucano José Serra, ao ambiente que resultou no golpe de 64. É verdade! Serra que foi presidente da UNE, que foi perseguido e exilado durante a ditadura, conspirou para... O surgimento da ditadura! É ou não é um petardo digno das mentes petistas mais brilhantes? E Dutra ainda manda ver na página 7 dizendo: "É Dilma ou barbárie"! Dessa forma ele ecoa, de modo bucéfalo, o "socialismo ou barbárie", da revolucionária Rosa Luxemburgo e estabelecve uma relação inequivoca com o socialismo. Com esse bordão, o jornal mostra a candidata petista como a última esperança socialista.

Ao atentar contra a democracia insinuando que o adversário representa a volta aos anos de chumbo que ele próprio ajudou a combater, o PT capitaliza a luta contra a ditadura e exclui o direito democratico dos outros partidos de se oporem a ele. O eleitor brasileiro não pode permanecer indiferente a essa táctica suja de reivindicar as glórias para si e atribuir os fracassos aos outros. A estratégias das carpideiras não pode prevalecer, do contrário eu e você é que nos tornaremos as carpideiras!