30 novembro 2009

Fazendo jabá

O jabá dessa semana vai para o nosso querido Tio Rei, Reinaldo Azevedo, e seu texto "Brindemos Honduras, o país que venceu Chávez e tipos como Amorim, Garcia e Insulza".

Brindemos Honduras, o país que venceu Chávez e tipos como Amorim Garcia e Insulza

por Reinaldo Azevedo

Cinco meses sob uma pressão que ouso dizer inédita em tempos modernos, e Honduras deu a volta por cima e realizou eleições limpas e transparentes, endossadas por centenas de observadores internacionais. A democracia vence no país, apesar do governo brasileiro — que hoje lidera, com mais estridência do que Hugo Chávez, os protestos delinqüentes contra a vontade inequívoca das urnas e das instituições. “Manuel Zelaya também foi eleito!”, grita o petralha, ousando tirar do chão os membros dianteiros. Mas tentou fraudar a Constituição, a exemplo do que fazem os bolivarianos e amigos. E foi posto pra fora. Honduras recusou o chavismo. Que as instituições fiquem atentas porque a canalha não vai sossegar.

Até quando escrevo este post, com mais de 60% dos votos apurados, Porfírio Lobo (foto) , do Partido Nacional, liderava com 55,9% dos votos; já é o virtual presidente eleito. As eleições transcorreram numa clima de calma. Em San Pedro Sula, cerca de mil zelaystas entraram em confronto com a polícia, o que não altera o clima geral da eleição. Para quem prometia guerra civil…

Sim, leitores, cinco meses durou uma farsa de dimensões verdadeiramente planetárias contra aquele pequeno país. Vocês conheceram cada passo dessa história, nos mais de 130 posts deste escriba a respeito. Nem as nações mais delinqüentes da Terra — cujos governos financiam o terrorismo, matam por empresa, esfolam os adversários, calam a Justiça, fecham o Congresso, ameaçam outros países — foram alvo da pressão que se abateu sobre Honduras. E tudo assentado numa mentira básica, essencial, escandalosa, que procurava negar que a deposição de Zelaya tivesse sido constitucional, legal, democrática. Já está provado hoje, evidenciado pela ONG Human Rights Foundation, que a Organização dos Estados Americanos, presidida por José Miguel Insulza, era uma espécie de co-patrocinadora do golpe que Zelaya pretendia dar no país.

Mas Honduras venceu, realizando eleições limpas e respeitando a Constituição, o exato oposto do que fazem vândalos da democracia como Hugo Chávez, Rafael Correa e Evo Morales. Honduras venceu e expôs de modo dramático, vexatório, escancarado, a ruindade da diplomacia brasileira e a vigarice de sua política externa. Nas várias declarações que deram a respeito, autoridades do Brasil trataram Honduras como um não-país, como um quintal de suas ambições ridiculamente subimperialistas. E agora o megalonanico Celso Amorim resta com um Manuel Zelaya na mão e palavras indecorosas voando por aí. Não custa lembrar que o tal Ruy Casaes, embaixador do Brasil no OEA, chamou o presidente legal de Honduras de “palhaço” — termo que, na diplomacia, não se dispensa nem a inimigos.

O emblema da bufonaria brasileira foi receber um bandido internacional como Ahmadinejad, que tem um ministro diretamente envolvido com um atentado terrorista ocorrido na vizinha Argentina, enquanto atacava a solução democrática encaminhada em Honduras. Isso diz muito dessa gente que está no poder e deixa claro com quem estamos lidando.

As Fadas Sininho de Lula, devidamente pautadas pelo jornalismo franklinstein, agora antevêem uma lenta mudança de posição do Brasil e são capazes de escrever que o Brasil perdeu, sim, mas teria sido uma perda que depõe a seu favor, que honra seu apego à democracia. Não é o caso mesmo de esperar pudor dessa gente — por que o teriam agora? Não! O governo brasileiro perdeu porque a democracia ganhou. O governo brasileiro perdeu porque se alinhou com um notório golpista, que agia contra a Constituição, e os democratas venceram. Não há matizes nem lado positivo na opção feita pelo Itamaraty. A escolha, como Ruy Casaes deixou claro numa entrevista, era mesmo de natureza ideológica.

Zelaya, segundo a imprensa hondurenha, pode pedir asilo na Nicarágua. Talvez se junte a outro golpista, o orelhudo Daniel Ortega, e tente, de lá, desestabilizar a democracia de Honduras. Chávez também não vai se conformar. E cumpre ficar atento ao comportamento do Brasil. Na surdina, como vimos, o país se meteu na conspirata que instalou o maluco Manuel Zelaya na embaixada. Não tenham qualquer receio de esperar o pior de Amorim e seus aloprados.

Por enquanto, façamos um brinde simbólico à democracia. Honduras venceu Hugo Chávez e a diplomacia megalonanica. E, por que não?, brindo também a saúde mental e moral deste blog — o que os inclui, é claro! Folgo em saber que jamais, mesmo quando tudo parecia perdido, abstivemo-nos de dizer a coisa certa.

Um brinde também a nós, bravos! Sozinhos, sim, por um longo tempo. Mas convenham, dada a realidade de então, quem precisava de companhia?

A verdade enfim apareceu

Quem me conheçe pessoalmente sabe das minhas divegências com o deputado Raul Jungmann (PPS-PE). Apesar de Jungmann não estar envolvido em nenhum escândalo, como a imensa maioria dos petistas, não consigo ser simpático as idéias dele. É simples! Eu não quero o mundo que ele quer, pois abomino o coletivismo e costumo de dizer que esse negocio de mente coletiva não existe (sim, às vezes eu me sinto como John Galt). Felizmente, não tenho problemas em elogiar os acertos do outro, tanto quanto crítico os seus defeitos e é aí que entra o nome do Sr. Jungmann.

Eu explico: o deputado Raul Jungmann é membro da Comissão de Relações Exteriores da Câmara e um dos mais de 300 observadores estrangeiros que acompanharam a eleição em Honduras neste domingo. Abaixo, ele conta o que viu e ouviu em Honduras quando esteve lá em setembro e agora.

***

Estive em Honduras no fim de setembro chefiando uma missão parlamentar da Câmara dos Deputados. Naquela oportunidade, encontrei-me com toda a cúpula política do país - Corte Superior de Justiça, presidente, mesa diretora e líderes da Assembléia Nacional, Comissão Nacional de Direitos Humanos, presidente da República e presidente deposto, além de diplomatas, sociedade civil e jornalistas. Agora, estou de volta à capital hondurenha, Tegucigalpa, como observador internacional do processo eleitoral, o único do Brasil.

Acho que aprendi algo sobre o que se passou e se passa aqui e me chama atenção a repetição, como um mantra, de erros grosseiros, factuais ou de interpretação, sobre a crise em que foi mergulhado esse país. Resolvi então selecionar os dez mais comuns e contestá-los no intuito de desfazer equívocos e informar corretamente.

01. EM HONDURAS OCORREU UM GOLPE
Se, por um golpe, tomamos algo que se dá contra a Constituição de um país ou à margem dela, certamente não. A deposição do Presidente Zelaya e a posse do presidente Roberto Micheletti se dão de acordo com a Carta hondurenha. Todas as instâncias legais foram observadas, e todas as instituições - Corte Suprema, Procuradoria Geral, Advocacia da União e Congresso - se manifestaram como manda o rito constitucional. E, em todas elas, o sr. Zelaya foi condenado jurídica e politicamente.

02. MICHELETTI É UM PRESIDENTE DE FACTO E GOLPISTA
O Sr. Micheletti é o presidente constitucional de Honduras e não de fato ou interino. Ele chegou à Presidência por comando claro da Constituição, dado que era o sucessor legal e que o vice se afastara para concorrer às eleições. Ele deverá passar o cargo ao seu sucessor no prazo previsto, 27 de janeiro de 2010. Golpista nenhum torna-se presidente e deixa de sê-lo de acordo com o que manda a Constituição.

03. O PRESIDENTE ZELAYA NÃO TEVE DIREITO DE DEFESA
Sigamos a cronologia dos fatos. Em fevereiro de 2009, o Sr. Zelaya torna pública a sua intenção de realizar um plebiscito, o que feria a letra da Constituição. Em abril, a Fiscalia de la Republica (Procuradoria Geral) lhe manda uma primeira carta alertando-o para a flagrante inconstitucionalidade de tal ato. Zelaya desdenha. Ainda em abril, uma segunda carta pública lhe é enviada pela Fiscalia com o mesmo resultado, pois o presidente, também publicamente, reitera suas intenções. Então, a Fiscalia oficia, em maio, para que se pronuncie o Advogado Geral do Estado, e este o faz reforçando a tese da inconstitucionalidade. Nesse momento, a Fiscalia requer à Justiça de primeira instância que instaure processo, do qual resulta a condenação de Zelaya, que recorre ao Tribunal de Apelação, que igualmente o condena, com novo recurso à Corte Superior de Justiça - com o mesmo resultado dos anteriores. É então que, no dia 23 de março, o presidente Zelaya publica um decreto convocando uma Constituinte, o que colide frontalmente com um outro artigo da Carta.

Entra em cena o Congresso Nacional, que usando de suas prerrogativas, julga a conduta do presidente e, por 123 votos a 5, inclusa a maioria do seu partido, decide afastar o presidente Zelaya. Duplamente julgado e condenado, tendo tido amplo direito de defesa, ele é afastado, tem os seus direitos políticos cassados e sua prisão decretada pelo presidente da Corte Superior de Justiça no dia 28 de junho. Onde, portanto a ausência de contraditório e o amplo direito de defesa?

04. ZELAYA É UM HOMEM DE ESQUERDA E POPULAR
Nada, na biografia e trajetória do presidente deposto, autoriza essa constatação. Filho de um rico fazendeiro (envolvido em uma chacina de camponeses), eleito pelo Partido Liberal, de direita, privatista e antiestatista, o Sr. Zelaya se elegeu com um programa pró-mercado e de reformas. No poder, cai nas graças de Hugo Chávez, ingressa na ALBA, a Alternativa Bolivariana Para as Américas , assumindo posturas e projetos populistas e assistencialistas. Por essa “conversão”(?!), torna-se um ídolo para uma certa esquerda de pouco tino e senso histórico.

05. ZELAYA NÃO VOLTOU AO PODER POR CONTA DA DITADURA GOLPISTA
Nada mais falso. Em primeiro lugar, todas as instituições hondurenhas estão abertas e funcionando normalmente, o que, convenhamos, é esquisitíssimo em se tratando de um golpe de Estado. Em segundo, contando com o esmagador apoio de toda a comunidade internacional, da OEA e a ONU, e se dizendo popular e com o apoio dos hondurenhos, por que “Mel” não retorna ao poder? Por dois motivos: a totalidade das instituições de Honduras está definitivamente contra ele, e a maioria do seu povo, também. Tivesse esse último a seu favor, manifestações de massa - inexistentes - e uma greve geral, mais o apoio externo, teriam derrubado o atual governo.

06. O RESULTADO DAS ELEIÇÕES NÃO SERÁ ACEITO DEVIDO À DITADURA
As atuais eleições foram convocadas e datadas antes da atual crise. Todos os partidos puderam apresentar candidatos e debater seus programas nas praças, rádios e TVs. Os hondurenhos podem votar livremente, e o Tribunal Superior Eleitoral, órgão independente, supervisiona e fiscaliza o pleito.

Apenas 0.5% dos mais de 15 mil candidatos inscritos atenderam ao apelo do Sr. Zelaya para boicotarem as eleições, e o principal partido de esquerda, a UD, está na disputa, rachando e minguando a base de apoio do ex-presidente deposto. Se o povo hondurenho acorrer às urnas e se o pleito for limpo, segundo os mais de 300 observadores internacionais, as eleições e seu resultado serão legítimos.

07. O RESULTADO DAS ELEIÇÕES NÃO SERÁ RECONHECIDO NO EXTERIOR
Será por uns e por outros. Do lado do reconhecimento, estarão os EUA, Colômbia, Israel, Peru, Panamá, Canadá, Alemanha e Itália até o momento. Contra, teremos o Brasil, a Argentina, Venezuela, Equador, Uruguai, Chile, Paraguai, Bolívia, Suriname e, certamente, os demais países da comunidade européia. Porém, com o passar do tempo, caso as eleições sejam limpas, o primeiro grupo irá paulatinamente crescer, e o segundo, minguar. Lembrando que aqui o voto não é obrigatório e a abstenção é costumeiramente altíssima, atingindo mais de 50%.

08. O GOLPE EM HONDURAS AMEAÇA A DEMOCRACIA NA AMÉRICA DO SUL
Como espero haver demonstrado, não houve golpe em Honduras. Houve, sim, e isso não pode ser esquecido ou tolerado, uma abominável agressão ao Sr. Zelaya. Quando ele já não era mais presidente, foi retirado de sua casa de madrugada e enviado para fora do país. Os responsáveis por isso têm de ser exemplarmente punidos, na forma da lei, para que tal crime jamais se repita, em Honduras ou qualquer lugar.

Agora, o que ameaça a cláusula democrática no subcontinente é o meio compromisso com a democracia. Se o Sr. Zelaya foi apeado do poder segundo as regras constitucionais do país, e foi sucedido em linha com as mesmas regras pelo Sr. Micheletti, chamar a isso de golpe de Estado é atentar contra a democracia. E isso vale, em especial, para uma certa esquerda, para a qual, sendo o atual governo de direita, ele é inaceitável, como se a esta não fosse permitido chegar ao poder, no que incorre em duplo erro.

Em primeiro lugar, porque foi a Constituição, que colocou a “direita” na presidência. Em segundo, é o Sr. Manuel Zelaya o golpista de fato, ao atentar contra a Carta Constitucional e as instituições hondurenhas. Portanto, é ele quem ameaça a democracia na America do Sul, e não o contrário.

09. LULA ERROU AO RECEBER ZELAYA NA EMBAIXADA BRASILEIRA
Não, ele agiu certo. É tradição humanitária do Brasil receber em nossas embaixadas quem nos procura em situação de risco. O erro foi dar status de “abrigado” ao Sr. Zelaya quando o correto, jurídica e diplomaticamente, seria lhe conceder asilo. Ao lhe dar abrigo e não asilo, o ex-presidente pôde legalmente usar a embaixada brasileira como palanque político, interferindo na política hondurenha, o que constitui gravíssimo erro e desrespeito à soberania hondurenha.

Imaginem se, ao ser deposto, o presidente Collor se abrigasse numa embaixada de um país qualquer e de lá convocasse uma insurreição contra o governo de Itamar Franco. Como nos sentiríamos?

10. A POSIÇÃO DO BRASIL FOI CORRETA DIANTE DA CRISE
Antes de mais nada, a América Central, e Honduras em particular, jamais foi importante ou área de influência do Brasil, donde resulta em erro o calibre e engajamento da resposta. Em duzentos anos de relações diplomáticas, um único presidente nosso esteve lá, Luis Inácio Lula da Silva. Nossas relações comerciais são irrisórias, e a região tem com os EUA 70% da sua pauta comercial. Sendo que Honduras fecha as suas contas nacionais com remessas que lhe são enviadas dos Estados Unidos pelos que para lá imigraram.

Ao ver golpe aonde houve desrespeito aos direitos humanos e, em seguida, ao defender o retorno do Sr. Zelaya ao poder, erramos de novo. Por fim, ao dar a este a condição de abrigado e não de asilado, permitimos o uso da nossa embaixada como palanque. Com essa seqüencia de equívocos, perdemos a condição de mediadores, deixando de ser uma fonte de soluções para nos tornarmos parte do problema.

Caso as eleições de hoje sejam limpas e o Brasil teime em não reconhecê-las, erraremos de novo e em definitivo.

***

Como disse no título desta postagem, "finalmente a verdade apareceu". E apareceu por onde eu menos esperava! O deputado Raul Jungmann, que foi o único brasileiro a atuar como observador das eleições em Honduras, fez uma avaliação justa e imparcial. Acertou, portanto, o parlamentar brasileiro!

28 novembro 2009

Bantustões ou Bantustolas?

Essa semana eu interrompi a leitura de "Memórias de um Gueixa", de Arthur Golden, para me dedicar ao livro de Nelson Ramos Barreto, "A Revolução dos Quilombolas". Há tempos estou querendo escrever algo sobre a política de distribuição de terras do nosso governo, mas a falta de tempo e conhecimento específico sobre o assunto vinha fazendo com que eu adiasse esse empreitada. Pois bem! O dia de descer o malho nas ONGs e Associações Cívis que defendem esse despaltério chegou; e aqui estou eu.

O livro de Nelson Ramos Barreto, A Revolução Quilombola (Artpress, São Paulo, 2007), narra as maracutaias feitas pela tróica da malandragem "bantustola" (os quilombolas dos bantustões racistas): Fundação Palmares, Incra e falsos quilombolas. Como se sabe, bantustões eram áreas criadas pelo regime do Apartheid, na África do Sul, em que os negros eram confinados como animais e de onde só podiam sair com autorização do governo.

A Constituição Federal, em seu Art. 68, prevê que terras ocupadas por antigos descendentes de quilombos, os quilombolas, tenham os devidos registros cartoriais:"Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras, é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos". É importante atentar para as palavras escritas pelo constituinte: "que estejam ocupando suas terras", não "que ocupavam", "que tinham ocupado" ou "que irão ocupar".

O que ocorre, no entanto, é que o Incra e a Fundação Palmares estão aceitando qualquer sujeito que se indentifique como quilombola (a tal "auto-atribuição" ou "autodefinição") e, a partir daí, vem concedendo terras a falsos quilombolas em áreas onde nunca havia existido o menor sinal da existência de um quilombo. Basta o bantustola dizer que tinha um tataravô escravo que andou por tais e tais terras ou serras, que pescou em tais e tais rios, que caçou em tais e tais matas, que procriou em tais e tais campos, que o pedido de bantustola é imediatamente aceito e protocolado, sem direito de contestação do legítimo proprietário.

Em Joaçaba, Santa catarina, nem a Mitra Diocesana escapou da sanha quilombola. Seria o caso de implantar um "bantustola carola" no progressista município do Vale do Rio do Peixe?

Ainda em Santa catarina, em Campos Novos, na Invernada dos Negros, ocorreu outra patifaria. Um antigo fazendeiro doou cerca de 1/3 de suas terras a antigos escravos, depois de serem devidamente alforriados. Hoje, cerca de 32 famílias vivem naquelas terras. óbviamente, essas famílias nunca foram quilombolas, mas o Incra, baseado no laudo de uma antropóloga catarinense, decidiu aumentar o tamanho daquelas terras para pelo menos 8.000 hectares "numa primeira etapa" (outras etapas com certeza aparecerão mais adiante), para que sejam assentados cerca de 1.000 bantustolas na região! Como foi feito o milagre da multiplicação dos bantustolas? Com a distribuição de cestas básicas feitas pelo Incra, como isca, apareceram muitos espertalhões vindos de outras regiões do Estado, os quais, na maior cara-de-pau, se "identificaram" como bantustolas, assinando uma lista que não tem nenhum valor jurídico em um país sério, o que não é o caso do Brasil. O interessante é que a maioria desses picaretas importados pelo Incra nem sabe o que significa "quilombola", pois alguns deles falam em "quirombolas" e até "carambolas"...

No Rio de Janeiro, no bairro da Saúde, um espertalhão chamado Damião Braga Soares dos Santos ocupou irregularmente um imóvel da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência e, posteriormente, identificou-se como sendo também um bantustola, junto com sua mulher, Marilúcia da Conceição Luzia, e mais três picaretas. Até aí tudo bem, tem sem-vergonha em toda parte. Porém é assombroso que a Fundação Palmares e o Incra tenham aceitado tal absurdo como uma prova de existência bantustola. Logo lá, no centro do Rio, na região portuária, próximo de um antigo Forte Militar.

Dentro dessa loucura bantustola, o município de São Mateus, ES, deverá ser desapropriado em cerca de 80% de seu território, para doação a falsos quilombolas! Para onde mandar toda essa gente que lá habita há séculos, que produz um dos agronegócios mais diversificados do País?

No final da Ilha da Marambaia, existe uma unidade de Fuzileiros Navais, onde Lula gosta de passar suas férias. Além dos fuzileiros, habitam a região cerca de 106 famílias, que vivem basicamente da pesca, da aposentadoria e da Bolsa Esmola. Uma Ong inventou que essas famílias são bantustolas, a malandragem foi aceita pela Fundação Palmares e pelo Incra, que deseja que a metade da ilha (16 milhões de m²) se torne propriedade bantustola!

Antropólogos da Universidade de Brasília (UnB) criaram um mapa do Brasil com a existência de 2.228 quilombos. A Fundação Palmares, ONGs e bantustolas já aumentaram esse número para próximo de 5.000. FHC concedeu, em oito anos, um Estado de São Paulo inteiro ao messetê, a um custo de cerca de R$ 25 bilhões. Nesse favelão apocalíptico, somente 9% dos assentados conseguem viver de seu próprio trabalho, 91% vivem de passeatas e cestas básicas. O insumo agrícola que esses falsos trabalhadores rurais recebem não é grão de milho ou de soja, mas pano vermelho, para confecção de bandeiras, bonés e camisas. Os 5.000 bantustões negros requeridos pelos bantustolas têm uma área superior a cinco Estados do Rio de Janeiro. E assim, de "carambola" em "quirombola", os quilombolas criados pelo Incra deitam e rolam. Felizes bantustolas!

Barreto lembra como o movimento negro substituiu a bondosa Princesa Isabel por Zumbi, um escravocrata que espalhava o terror nas populações vizinhas a partir do Quilombo dos Palmares. O autor apresenta uma prova de que "Zumbi mantinha escravos de tribos inimigas para os trabalhos do quilombo", tirada do livro Divisões Perigosas, de José de Souza Martins (Ed. Civilização Brasileira, Rio, 2007, pg. 99): “Os escravos que se recusavam a fugir das fazendas e ir para os quilombos eram capturados e convertidos em cativos dos quilombos. A luta de Palmares não era contra a iniqüidade desumanizadora da escravidão. Era apenas recusa da escravidão própria, mas não da escravidão alheia. As etnias de que procederam os escravos negros do Brasil praticavam e praticam a escravidão ainda hoje, na África. Não raro capturavam seus iguais para vende-los aos traficantes. Ainda o fazem. Não faz muito tempo, os bantos, do mesmo grupo lingüístico de que procede Zumbi, foram denunciados na ONU por escravizarem pigmeus nos Camarões” (pg. 20).

O racismo quilombola teve grande impulso com FHC que na deliberação do Programa Nacional dos Direitos Humanos, criado em 1996, deu início à divisão do Brasil em um país bicolor: "Determinar ao IBGE a adoção do critério de se considerar os mulatos, os pardos e os pretos como integrantes do contingente de população negra". Assim, os negros mestiços, ainda que tenham 50% de sangue europeu, passam a ser tratadas como africanos puros, um absurdo! Com uma penada, FHC pretendeu acabar com uma instituição nacional, a "mulata". Dúvido que o Lan saiba disso, do contrário estaria protestando até agora.

"Com este jogo de conceitos, o censo, que apresentava 51,4% da população brasileira como sendo branca, 5,9% como negra e 42% como parda, com o advento da nova expressão fez com que a população negra passasse a constituir 47,9% dos brasileiros. Diante dos números aima, foi criado o slogan: 'No Brasil a pobreza tem cor, e ela é negra'. A causa da pobreza dos negros seria um 'racismo escondido'. O governo, em vez de combater a pobreza com os instrumentos clássicos de educação de qualidade, geração de emprego, fortalecimento da família e de valores morais, com amor ao trabalho e à poupança, vem criando uma série de programas de incitamento à revolta, resultando em invasões de propriedades e desrespeito às decisões judiciais" (pg. 11-12).

O racismo quilombola tenta se aperfeiçoar ainda mais, com base no Projeto de Lei do Senado (PLS) nº 213/2003, de autoria do senador Paulo Paim (PT/RS), que "institui o Estatuto da Igualdade Racial", uma constituição paralela para os negros, como diz Barreto, um verdadeiro Apartheid: “Não se trata de igualar os direitos para todas as raças, mas de fazer uma divisão, um verdadeiro Apartheid, separando os negros em seus direitos à educação, à saúde, ao trabalho, ao lazer, à cultura, e em todos os demais, como se isso já não fosse garantido na Constituição a todos os brasileiros sem distinção de raça” (pg. 33). Um desses projetos segregacionistas já em vigor é o sistema de "cotas raciais", em que estudantes têm direito a ingressar na universidade por conta apenas da cor de sua pele negra ou nem tão negra assim – um ato inconstitucional que os juízes do STF já deveriam ter derrubado logo no início, caso não estivessem comendo moscas e aceitando a demagogia e a pilantragem do movimento negro.

Vale lembrar que, em março deste ano, a ministra Matilde Ribeiro, da Secretaria Especial de Promoção e Igualdade Racial, afirmou que “não é preconceito negro odiar branco, é uma coisa natural”. Imagina se eu afirmasse que é natural o branco escravizar o negro, por ser superior intelectualmente. Eu seria imediatamente preso, por "prática de racismo". E o que aconteceu com Dona Matilde? Nada, como nada aconteceu com o ministro de propagação da subversão continental, Marco Aurélio Garcia, com seu famoso "top-top" na ocasião do acidente do avião da TAM, que deixou 199 mortos. Ah... Na ocasião o Marco Aurélio "Top-Top" Garcia, foi devidamente acompanhado por um aspone fazendo gestos ainda mais obscenos.

É assim que funciona o movimento bantustola: de mentira em mentira, de safadeza em safadeza, de malandragem em malandragem, vai levando a "revolução quilombola" para o campo e a cidade, de modo a trazer preocupação e desespero à população legalmente estabelecida há séculos.

Inegavelmente, a "revolução quilombola" é o messetê dos negros, como disse Nelson Barretto. Os bantustões dos quilombolas estão sendo moldados dentro dos mesmos conceitos das fazendas coletivas soviéticas, os kolkhoses, que levaram a fome à antiga URSS. Ninguém é dono de nada, já que apenas a "comunidade quilombola" é proprietária das terras. Assim, galinha d’angola em terreno bantustola não tem dono porque é comunitária a caçarola... Favelas e mais favelas serão criadas por conta desse movimento racista só visto nos bantustões do Apartheid sul-africano de triste memória. Quem é que vai querer trabalhar para progredir na vida, se tudo é distribuído a todos, mesmo para os vagabundos que não são chegados ao trabalho, nada produzem, e que preferem fazer passeatas pelas cidades do País?

Algumas dúvidas já se impõem: só "beiçola" pode ocupar terra de bantustola? Branquelo azedo e "pindirriga", como eu, pode se casar com mulher bantustola, viver no bantustão quilombola e procriar filhos bantustolas? Ou isto será proibido, para preservar o código genético dos negros, para que não tenha nenhum tipo de "contaminação" de sangue branco? Se for assim eu juro que entendo, pois depois que publicaram The Bells Curve, tem um monte de teorias esquisitas circulando por aí.

Dentro desse princípio, deveriam também ser criados "branquelolas", os "quilombolas de brancos", nas cidades de origem alemã e italiana de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Se Lula já criou até uma moeda para os bantustolas de Alcântara, MA, o "Guará", que tal criar também uma moeda exclusiva para os alemães de Blumenau? Poderia ser "Pila", palavra que no Sul significa "dinheiro" ou "Fritz". Os habitantes de Pomerode, a cidade mais alemã de Santa Catarina, iriam adorar...

25 novembro 2009

Ainda o tal do "aquecimento global"

Os leitores assíduos deste blog sabem do meu ceticismo quanto ao "aquecimento global". Fiz questão de deixar a minha posição clara no texto "O aquecimento global é uma fraude", em que comento a pesquisa do professor Demmings sobre o assunto.

Essa semana o tema voltou à baila graças a um hacker que revelou uma série de emails suspeitíssimos que supostamente - vejam bem: eu disse "supostamente" - foram obtidos após uma ivasão aos computadores da Universidade de East Anglia. Essa história já está circulando há alguns dias, mas nenhum jornalista brasileiro se dignou a publicá-la, à exceção, é claro, do nosso digníssimo Tio Rei!

Reza a lenda que um grupo de hackers invadiu os computadores da Universidade de East Anglia, na Inglaterra, e piratearam nada menos de 6 mil e-mails trocados entre cientistas especializados em clima. East Anglia é um dos mais respeitados centros de climatologia do mundo, e seus estudos são um dos pilares que sustentam a tese de que o aquecimento global é provocado pela ação do homem.

Esse negócio de piratear dados de onde quer que seja não é bonito. Que os responsáveis sejam punidos etc etc etc. Mas o fato é que alguns dados que vieram a público parecem indicar que os especialistas em clima que sustentam a tese antropogênica para o aquecimento global são chegados a uma mentira. Pois é! Eu também fiquei pasmo quando descobri que a propaganda enganosa não é privilégio apenas dos inescrupulosos empresarios em busca de lucro. á mensagens que sugerem manipulação de dados. A história, em detalhes, com vários trechos dos e-mails pirateados, pode ser conferida no blog do James Delingpole, do Telegraph.

Num deles, Phil Jones, chefão de East Anglia, diz a seus pares, nos Estados Unidos, que tinha recorrido aos mesmos "truques" de Michael Mann, da Universidade da Pensilvânia, para "esconder o declínio" de uma série de temperaturas num período de 20 anos, de 1961 a 1981. No original:.

I’ve just completed Mike’s Nature trick of adding in the real temps to each series for the last 20 years (ie from 1981 onwards) amd [sic] from 1961 for Keith’s to hide the decline.

Phil Jones se defende e diz que, quando os cientistas da área empregam a palavra "truque", eles não querem dizer "truque". Entendo… E que não falava de temperatura, mas da copa das árvores… Há outros emails que sugerem supressão de informação e debate sobre como tornar o aquecimento algo mais convincente, mais "quente", entendem?

Os emails pirateados foram hospedados num servidor da Rússia, e não se tem idéia da origem da invasão. A direção de East Anglia já confirmou que são verdadeiros. Mas, é óbvio, nega que revelem manipulação. Atribui-se tudo à gritaria dos "céticos" — que, aliás, são tratados com bem pouca lhaneza nas mensagens. Da vontade de dar uns sopapos nos adversários à alegria porque um dos inimigos morreu — John Daly —, a ciência do aquecimento global demonstra que quente, mesmo, naquele universo, é o gosto pela fofoca e pela desqualificação de tudo o que não concorra para a tese do grupo.

Bom vamos ao que interessa: os e-mails são provas irrefutáveis de que há manipulação? Não! Mas que cheiram mal, ah, isso é inegável. Esse negócio de que "truque", lá entre eles, não é "truque". Bem… Com efeito, "truque" é a versão benevolente de "trick", que quer dizer "embuste", "fraude" e etc.

Sabem o que é mais interessante? Há um troço chamado Oscilação Decadal do Pacífico (PDO, na sigla em inglês). Não tenho como resumir. Está devidamente explicado aqui. Em suma, a temperatura do Pacífico tem grande influência na temperatura do planeta. Justamente entre 1961 e 1981, período a que se refere o tal e-mail, o Pacífico havia esfriado, assim como havia esquentado entre 1920 e 1940, depois esfriou de novo…

E como isso poderia ter sido evitado? Bem, isso não poderia ter sido evitado ainda que os seres humanos renunciassem à sua cultura e voltassem à fase da coleta — e, suponho, da antropofagia…Ai os bobalhões logo dizem: "Ah, você quer poluir tudo!!!" Não! Quero é que parem com o papo terrorista, escatológico, para que se estabeleçam metas realistas.

Quem quiser obter mais informações sobre este assunto pode visitar o site da foz news e dar uma conferida na matéria
intitulada "Climate Skeptics See 'Smoking Gun' in Researchers' Leaked E-Mails".

Ah... Aproveito para recomendar a entrevista dada pelo professor José Carlos Parente de Oliveira deu ao jornal Diário do Nordeste de 15 de novembro. Ele é Doutor em Física com Pós-doutorado em Física da Atmosfera e ensina na Universidade Federal do Ceará (UFC). Gostaria de adiantar alguns trechos importantes que podem ajudar a esclarecer a posição do professor Parente:

"DN - Por que o senhor caminha na contramão do ambientalmente correto e proclama que o planeta não está aquecendo, mas esfriando?

A busca da verdade deve ser o norte, o foco da atividade em ciências. E penso que não é isso o que ocorre com o tema aquecimento global. A sociedade está sendo bombardeada por notícias, reportagens na tevê, filmes e tudo isso com a mensagem de que as atividades humanas relacionadas às queimas de combustível fóssil (petróleo, carvão e gás) são as culpadas pelo aquecimento da Terra. O grande responsável por esse bombardeio é o Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas (IPCC na sigla em inglês), que é um órgão da ONU.

DN - Então, em vez de estar aquecendo, a Terra está esfriando agora? Mas isso é o contrário do que proclamam as ONGs, os cientistas, os jornais. Quem está errado?

No ano de 1998, houve um fenômeno atípico: um super El Niño aqueceu a terra quase um grau acima da média em que ela se encontrava. Desde esse fenômeno do El Niño, a temperatura da Terra, sistematicamente, vem diminuindo, conforme os dados coligidos pelos satélites. Esses dados, porém, não são aceitos e nem utilizados pelo IPCC nos seus documentos".

A armadilha do "bem comum"

Há algumas semanas eu comentei a relutância do governo federal em aprovar a CPI do MST e a defesa que alguns intelectuais fizeram do movimento através de um manifesto. Os que não estão a par desse assunto podem ler o texto, "A Intelektualia e o MST".

Pois bem! Na próxima semana o líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza, vai indicar os nomes do partido para compor a CPI do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST). Os deputados petistas titulares já estão escolhidos, mas as vagas de suplentes, que serão divididas com partidos da base aliada, ainda não foram definidas. Presume-se que o partido indicará os deputados Jilmar Tatto, Dr. Rosinha e Dalva Figueiredo. O nome do paulista para a relatoria já havia sido anunciado em plenário e os outros, apesar de definidos, só serão apresentados na próxima semana. Como previsto, o PT apresentou nomes de parlamentares que estão diretamente ligados ao MST.

Estou voltando a falar sobre este assunto, porque tudo indica que o PT e os movimentos de esquerda de modo geral farão de tudo para impedir qualquer forma de investigação. Mais do que isso: está em curso uma campanha de desmoralização das razões que motivaram a comissão. Tenta-se, a todo custo, descaracterizar os atos criminosos enquanto tais, de modo que o repasse de dinheiro público e os recursos oriundos de entidades estrangeiras que financiam o bando de Stédile nada mais seriam do que um suporte a atividades que buscam o "bem comum".

Os sem-terra vendem a si mesmos como promotores deste famoso "bem comum", uma expressão que, historicamente, costuma servir como apanágio para os piores tipos de crimes e criminosos. O Brasil é um país onde o liberalismo tem raízes superficiais, quase sempre fincadas em solo arenoso. Mesmo os partidos e agremiações que se colocam mais à direita no espectro político têm grandes dificuldades de imaginarem a si e a seus propósitos sem o concurso da máquina estatal.

Os tempos são um tanto rombudos para tocar em palavras como "liberalismo" porque as esquerdas logo sacam da cintura o prefixo "neo", usado como uma pistola, para assaltar a razão e a verdade... Coisa em que os movimentos de esquerda já se tornaram especialistas. Basta que alguém cite as palavras de homens como Mises ou Hayek para que os socialistas gritem: "Mãos ao alto, liberal! Nós estamos com tudo. Nós, os estatistas, contornamos a crise". É mesmo? Conversa! E o fizeram com os recursos gerados pelo Estado ou pelo mercado? É preciso dizer aos vigaristas que o capitalismo salvou o capitalismo, como sempre aconteceu. Mas, durante algum tempo, será preciso atravessar o deserto. E vamos atravessar. Faz parte do jogo.

A disputa de fundo da CPI é aquela existente entre os chamados "direitos coletivos" — ou o tal "bem comum" — e os "direitos individuais". Para que fique mais claro, gostaria de traduzir um parágrafo do ensaio What Is Capitalism, da brilhante Ayn Rand, uma liberal convicta, radical, de raízes solidamente fincadas em solo fértil, que está no livro Capitalism - The Unknown Ideal.

Quando, numa sociedade, o "bem comum" é considerado algo à parte e acima do bem individual, de cada um de seus membros, isso significa que o bem de alguns homens tem precedência sobre o bem de outros, que são relegados, então, à condição de animais prontos para o sacrifício. Presume-se, nesse caso, implicitamente, que o "bem comum" significa o "bem da maioria" tomado como algo contrário à minoria ou ao indivíduo. Observe-se ser esta uma suposição implícita, já que até mesmo as mentalidades mais coletivistas parecem perceber a impossibilidade de justificá-la moralmente. Mas o "bem da maioria" é nada mais do que uma farsa e uma fraude: porque, de fato, a violação dos direitos de um indivíduo significa a abolição de todos os direitos. Isso submete a maioria desamparada ao poder de qualquer gangue que se autoproclame a "voz da sociedade", que passa a subjugá-la por meio da força física, até ser deposta por outra gangue que empregue os mesmos métodos.

É isso aí. Reitere-se: trata-se do "bem da maioria" que só se define como algo "contrário à minoria ou ao indivíduo". Sempre que esta contradição estiver estabelecida — ou, mais do que uma contradição, sempre que o "bem comum" for visto como algo que casse os direitos individuais ou que sacrifique o indivíduo em nome do coletivo —, estamos, certamente, diante de uma fraude, de uma mistificação, da justificação do crime. E a sociedade termina, então, refém das tais gangues, que tomam para si o papel de justiceiras sociais. Se o fazem num estado democrático e de direito, só podem fazê-lo ao arrepio da lei; se o fazem numa sociedade mobilizada por demagogos comuno-fascistas, tornam-se braços do mandatário, suas milícias ou falanges.

Voltaremos muitas vezes a este tema. Mas o debate real, de fundo, é este que sintetizo aqui. A nossa tarefa é justamente denunciar e desmoralizar as gangues que falam em nome deste "bem comum" que se oporia aos direitos individuais — entre eles, é evidente, o direito à propriedade. Supor que este debate já está superado corresponde a subordinar-se à pregação das gangues.

21 novembro 2009

Cuba nunca foi mais castrista

Creio que todos os leitores do meu blog conhecem a cubana Yoani Sanchez, autora do blog Generación Y. No ano passado, o blog Generación Y foi eleito como um dos 25 melhores do mundo pela revista americana Time. Sanchez já recebeu diversos prêmios, entre eles o Ortega y Gasset de jornalismo, na Espanha. Infelizmente, a autora foi impedida de deixar a ilha para comparecer a entrega do prêmio, porque o governo cubano acredita que ela é uma espécie de "agente à serviço do capitalismo".

Mas não é sobre isso que eu quero falar. Recentemente, Sanchez afirmou em uma entrevista à BBC Mundo, que no último dia 6 de novembro ela foi detida durante quase meia hora e espancada por um grupo de homens que tentavam impedir que ela chegasse a uma manifestação pública. No blog, ela acusou autoridades de segurança que a teriam espancado por criticar o governo de Raúl Castro.

De acordo com o correspondente da BBC em Cuba, George Ballantine, os blogueiros cubanos "estão promovendo debate longe da doutrina oficial para explorar assuntos sociais e econômicos". "Sem dúvida, a atual tolerância do governo poderia mudar, na medida em que cresce o número de blogueiros que estão começando a condenar a perseguição aos escritores independentes e a exigir reformas estruturais", afirmou.

Essa semana o site Notalatina voltou a falar da ilha comandada pelo ditador Raul Castro e do sofrimento que é imposto aos seus dissidentes. Quando li a notícia, acreditei que se tratase de mais uma nota a respeito da prisão da blogueira Yoani Sanchez, mas não. A matéria falava sobre a ilustre economista Martha Beatriz Roque cabello e outros nove jornalistas independentes.

Martha Beatriz é uma economista cubana, fundadora do Instituto de Economistas Independentes de Cuba e líder da Assembléia para Promover a Sociedade Civil. Martha foi presa pela segunda vez durante a "Primavera Negra de Cuba", em março de 2003, sendo a única mulher condenada a 20 anos de prisão e confinada à Prisão de Mulheres "Manto Negro" em Havana. Pode-se ler a súmula do processo condenatório aqui. Insisto para que leiam, pois todos devem conhecer os "argumentos" utilizados para condená-la e o material de sua propriedade confiscado dentro de sua residência, tidos como "peças do crime".

Chamo a atenção, também, para este trecho do processo que informa acerca de sua testemunha de acusação (textualmente):

"...conclusões que coincidem plenamente com o expressado no relato fático e na declaração de Aleida de las Mercedes Godinez que foi agente secreta do Departamento de Segurança do Estado infiltrada como funcionária do Escritório de Estatísticas do chamado Instituto de Economistas Independentes de Cuba e da Assembléia para promover a Sociedade Civil em Cuba".
Esta agente trabalhou no instituto dirigido por Martha Beatriz durante 13 anos como secretária, ouvindo conversas íntimas e confidenciais e retransmitindo para o órgão represor. Como ela existem incontáveis outros agentes, se passando por dissidentes, falando a mesma linguagem, fazendo as mesmas críticas e queixumes, até a hora do bote final. Qualquer semelhança com o que aconteceu durante o Desabrochar das Cem Flores, na China de Mao Tse, não é mera coencidência.

Depois de meses sem receber assistência médica para seus problemas de saúde, incluindo tonturas, paralisia do lado esquerdo do corpo, dores no peito, desorientação, vômitos, diarréia e sangramentos pelo nariz, e graças à pressão internacional, Martha foi finalmente transferida para o Hospital Militar Carlos J. Finaly em Havana, em agosto de 2003, onde foi diagnosticada com diabetes e outros problemas graves. Diante do debilitamento de sua saúde, Martha foi excarcerada em 22 de julho de 2004. Hoje Martha vive com uma "licença extra-penal por motivos de saúde", como outros tantos presos-políticos que foram libertados da prisão em circunstâncias semelhantes.

Já em sua casa, Martha resolveu criar um blog para publicar todo tipo de informação, artigos, denúncias e reflexões. O endereço do blog é este: http://marthabeatrizinfo.blogspot.com/. Graças a essa "liberdade", Martha criou a Rede Cubana de Comunicadores Comunitários, cujos jornalistas reportam os problemas pelos quais atravessam os cidadãos cubanos que não têm uma atividade político-partidária a favor ou contra o regime, mas que padecem os abusos ou a perseguição das autoridades. O trabalho da Rede é reportado para um blog que foi adquirindo prestígio e, ao mesmo tempo, granjeando o ódio e a perseguição por parte do regime.

Desde o dia 10 de outubro, Martha e outros nove jornalistas cubanos encontram-se privados da liberdade, cercados pela polícia política na casa de Vladimiro Roca Antúnez em Havana.

O conflito começou com ameaças de um oficial da Segurança a Martha e com o confisco da máquina fotográfica de um dos jornalistas da entidade, alegando que não devolveriam seu equipamento porque iam realizar "uma perícia", pois havia mais duas fotos além das que ele havia declarado. Que delito monumental! No dia seguinte, os onze se reuniram na casa de Vladimiro Roca para protestar contra essa flagrante violação da liberdade de expressão. Eram apenas 11 pessoas desarmadas e pacíficas exigindo que uma máquina fotográfica fosse devolvida a seu proprietário. A casa foi imediatamente cercada pela Segurança do Estado que interceptou ao menos 36 pessoas que se dirigiam para lá para se solidarizar com eles. Grupos dissidentes de toda a Ilha apoiaram o protesto, mas isto não é do interesse da mídia brasileira, afinal, Martha Beatriz não tem um Franklin Martins à sua disposição.

Outros fatos degradantes seguiram-se a esse acosso. Os familiares dos jornalistas foram procurados pela polícia política para obrigá-los a pressionar os manifestantes a "desistir de sua posição". A filha da jornalista Niurka de la Caridad Ortega Cruz, de 15 anos, foi expulsa do colégio por causa das atividades de sua mãe e a filha de Elizabeth de Regla Alfonso Castellanos foi interrogada na rua pela polícia. Durante cinco dias a polícia usou alguns estudantes de uma escola primária e de uma secundária básica próximas da casa, para que fustigassem os jornalistas insultando-os, jogando pedras e fazendo gestos obscenos com as calças abaixadas. Outros estudantes passaram correndo pela frente da casa, com medo de serem agredidos, pois a polícia lhes disse que aquelas pessoas eram, na verdade, terroristas.

No dia 14, quando Vladimiro saiu para conseguir alguma comida para o grupo que se encontrava retido em sua casa, foi novamente agredido pelos policiais e um homem disse que ele seria apunhalado. O "terrorismo" que esses onze opositores praticavam se resumia aos cartazes que eles seguravam na frente da casa com os seguintes dizeres: "SOMOS CUBANOS. EXIGIMOS NOSSOS DIREITOS"; "O POVO NECESSITA O QUE LHE PROMETERAM"; "NÃO DIREITOS - NÃO PESSOAS"; "LIBERDADE, LIBERDADE, LIBERDADE" e "VAMOS RESISTIR".

Em um comunicado emitido à comunidade internacional o grupo faz um chamado para a grave situação em que estes dissidentes se encontram. Nele, além do que já foi relatado acima, eles denunciam que esses "Mitines de Repúdio" chegaram a durar até 7 horas diárias e que foram trazidas pessoas até de ônibus para pressioná-los e intimidá-los. Grupos que chegaram a ter até 200 pessoas, utilizavam-se de crianças para proferir palavras e gestos obscenos, ameaças verbais, jogaram ovos, paus, pedras, preservativos cheios de líquido. Nesta turba encontram-se vários oficiais da Segurança do Estado, não só instigando mas também participando das agressões.

25 dias este grupo permanece protestando pelos direitos mais elementares de todos os cubanos - e não apenas de si próprios - mas estão ameaçados de não poder sair da casa para comprar comida porque são agredidos a pedradas na rua. A luz, o gás e a eletricidade foram cortados. Fotos deste episódio degradante que, se me permitem dizer, ainda não acabou, podem ser vistas aqui.

No dia 10 de novembro os membros da Rede Cubana de Comunicadores Comunitários resolveram fazer uma grave de fome e emitiram um comunicado onde responsabilizam o Estado cubano pelo que possa acontecer às suas vidas. Martha Beatriz é diabética e está em jejum (bebendo apenas água). O marido de uma das jornalistas é medico e a examinou, dizendo que apesar dos desmaios e da fraqueza que a mantém na cama, seu quadro é "clinicamente estável mas que essa estabilidade poderia mudar e, além disso, não se podia fazer provas laboratoriais para medir o nível de açúcar no sangue". O padre de sua paróquia foi chamado e lhe deu a Extrema Unção, pois não se sabe até onde esta guerreira vai resistir. Esperemos que a imprensa internacional dê a ela o mesmo destaque que vem dando ao terrorista Cesare Bastisti; esse sim um criminoso costumaz.

Fico triste em saber que apesar deste fato ter sido divulgado pelo jornal "El Nuevo Herald", não se ouve uma mísera palavra de apoio dos grupos de "direitos humanos"; da "Anistia Internacional" ou da CIDH (Comissão Internacional de Direitos Humanos) que age com muita celeridade para condenar o "embargo norte-americano" a Cuba, mas insite em fazer vista grossa para um embargo inúmeras vezes pior. Aquele que é imposto pelo maldito regime a seus cidadãos. O ditador hereditário Raúl utiliza a estratégia das tesouras: enquanto "tolera" que alguns blogs novatos divulguem as mazelas da Ilha e até permite manifestações públicas. Enquanto vende a ilusão de que está começando uma abertura política, continua a governar a ilha com mão de ferro esmagando a verdadeira oposição. Em outras palavras: Cuba nunca foi tão castrista!

No dia 10 de novembro a Rede emitiu uma nota de imprensa informando do jejum e explicando seus motivos. Preferi traduzi-la abaixo para que seja lida na íntegra e para que se conheça o que é DE FATO ser perseguido por ter idéias diferentes e ter a ousadia de se crer um cidadão livre como qualquer outro filho de Deus. Divulguem, para que todos possam conhecer aquela realidade omitida, escondida, negada, menosprezada.

JEJUM VOLUNTÁRIO - NOTA DE IMPRENSA

Os membros da Rede Cubana de Comunicadores Comunitários, resistentes na casa situada em 36, nº 105, entre 41 e 43, Nuevo Vedado, para exigir seus direitos e os do povo, infringidos por um governo que detém o poder, queremos dar a conhecer que a Polícia Política, mão negra da ditadura totalitária, intensificou com seus controles sobre as únicas duas linhas de possibilidade de pequenos fornecimentos que tivemos em todo este tempo, 33 dias de resistir a repressão, ameaças e intimidações de todo tipo, provados através de fotos, gravações e vídeos, localizáveis na Internet no blog: http://redcubanacc.blogspot.com.

Esta última arremetida tem como objetivo nos render pela fome, já que não puderam dobrar a vontade dos que nos encontramos resistindo. O governo cubano demonstrou uma vez mais seu caráter violador dos direitos do povo, exercendo pressão inclusive sobre pessoas não vinculadas à oposição interna.

Nos próximos dias, este grupo de comunicadores se verá forçado a fazer jejum, o que implica ingerir liquido sem açúcar, utilizando para isso a vegetação do jardim da casa onde se leva a cabo o plantão. É por isso que decidimos - a partir de hoje - começar um jejum voluntário, antes que se submeter aos desígnios do regime.

Alguns dos membros do plantão, devido a suas enfermidades crônicas, não poderão resistir muito tempo a esta falta de alimentos, pelo qual responsabilizaremos o governo cubano pelo que possa suceder nos próximos dias aos membros da Rede que se encontram nesta situação.

Assinam: Elizabet de Regla Alonso Castellanos, Zoila Hernández Diaz, Heriberto Liranza Romero, Yasmany Nicles Abad, Yuniet Reina Hernández, Armando Rodríguez Lamas, Martha Beatriz Roque Cabello y Lazaro Yuri Valle Roca.

Cidade de Havana, 10 de novembro de 2009.

Está comprovado: bolivarianos são péssimos administradores

No momento em que outras nações deixam para trás a crise financeira ou fazem as contas para sair dela, a Venezuela de Hugo Chávez segue na direção contrária e entra oficialmente em recessão. Na semana passada, o Banco Central venezuelano anunciou que, pelo segundo trimestre consecutivo, houve recuo na produção de riquezas no país. O PIB dos últimos três meses está 4,5% abaixo do registrado no ano passado. Até meados do ano, esperava-se que o encolhimento fosse de 1% a 2%. Praticamente todas as atividades se contraíram. A indústria desabou 9,2%. O comércio, 11%. A produção de petróleo caiu quase 10%. Em dez anos de governo bolivariano, as políticas socialistas arruinaram o setor privado, enquanto o estatal passou da mera ineficiência à total paralisia.

Diante das más notícias na economia, todas elas de confecção caseira, Chávez fez o de sempre, para desviar a atenção: apontou o dedo para um suposto inimigo externo. Ele elevou o tom das ofensas ao presidente colombiano, Álvaro Uribe, a quem chamou de "desgraçado" e "cínico". Também ordenou que membros do exército explodissem duas pequenas pontes pênseis de madeira em um local ermo da fronteira entre as duas nações. Os militares venezuelanos entraram no país vizinho e, após serem recebidos a pedradas por agricultores, dinamitaram as passagens.

As razões que empurraram a Venezuela para a atual situação são muito diferentes das que detonaram a crise financeira no mundo. A principal delas é a diminuição na produção de petróleo, responsável por mais de 90% das divisas externas. Há um ano, mais de 3 milhões de barris eram diariamente eram produzidos no país. Agora, são apenas 2,2 milhões de barris. Motivo: a PDVSA, estatal petrolífera e maior empresa do país, cancelou investimentos na perfuração de poços.

Com o encolhimento da economia, o sapientíssimo Hugo Chávez teve a brilhante idéia de rever a forma como se calcula o PIB. É típico do socialistas, ao invés de tratarem a causa da doença, concentram-se em mascarar os sintomas. Brilhante!

18 novembro 2009

New Castro, Same Cuba

O presidente cubano, Raúl Castro, irmão de Fidel Castro, intensifica a repressão em Cuba e aumenta as violações dos direitos humanos no país. Os dados são do relatório da organização não governamental Human Rights Watch (HRW), publicado nesta quarta-feira.

Segundo o documento, cerca de 40 pessoas foram presas sob a acusação de serem perigosas à sociedade. Também foram registradas agressões a dissidentes e condições inapropriadas nas carceragens do país.

Batizado de "Um novo Castro, a mesma Cuba", o relatório descreve o temor de quem se opõem ao governo do país, entregue a Raúl pelo seu irmão, Fidel. De acordo com o levantamento da ONG, a ilha ampliou o uso de leis que permitem a punição de quem burlar as normas socialistas, "capturando a essência do pensamento repressivo do governo cubano de anos atrás".

Cuba se defende e diz utilizar o sistema comunista para garantir à população saúde pública gratuita, educação, moradia e alimentos básicos. Raúl Castro ainda lembra que não há no país presos políticos e que os ativistas detidos foram acusados por razões legítimas, como traição.

Faz-me rir...

17 novembro 2009

Joaquim Barbosa, o Pacheco de toga

Li agora há pouco que o ministro Joaquim Barbosa renunciou a vaga para presidir o Supremo Tribunal Eleitoral em função de problemas de saúde. Barbosa ficou famoso após aquele qui pró có com o ministro Gilmar Mendes em que ele disse, entre outras baixarias, que o seu colega devia ir as ruas e ouvir o que povo tem a dizer.

"Saia à rua, ministro Gilmar!", exortou Joaquim Barbosa no bate-boca famoso com o presidente do Supremo Tribunal Federal. "Saia à rua, faça o que eu faço!". Barbosa não esclareceu se, antes de cada sessão, circula por aí perguntando aos transeuntes o que acham do tema que será discutido. O que se sabe é que sempre gostou de andar pelas ruas e prefere ir pessoalmente a mandar emissários. Foi graças a esse hábito que, em dezembro de 2002, apareceu na agência da Varig em Brasília. Queria comprar um bilhete aéreo. Acabou ganhando um ingresso para chegar ao STF pela via expressa.

Esperava sentado a chamada do atendente quando a mão do destino abriu a porta da agência para dar passagem a Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, amigo e confessor do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. "Fui lá tratar do meu retorno a São Paulo, após a posse presidencial", revela num trecho do livro Calendário do Poder. Enfrentou a fila enorme, pegou uma senha e procurou um lugar para acomodar-se.

Instalei-me no primeiro banco vazio, ao lado de um cidadão negro que nunca vira.

- Você é o Frei Betto? - indagou-me.

Confirmei. Apresentou-se: Joaquim Barbosa… Trocamos ideias e, ao me despedir, levei dele o cartão e a boa impressão.

Para concluir…

Em março, Márcio Thomaz Bastos indagou se eu conhecia um negro com perfil para ocupar vaga no STF. Lula pretendia nomear um para a suprema corte do país. Lembrei-me de Joaquim Barbosa”.

Procurador-regional da República no Rio de Janeiro, informava o cartão de visitas que repassou imediatamente ao ministro da Justiça. No dia seguinte, Márcio Thomaz Bastos também sabia que Barbosa nasceu em 1954, é mineiro de Paracatu, sabe tocar piano e violino desde os 16 anos, formou-se em Direito pela UnB, fez mestrado e virou doutor pela Universidade de Paris, deu aulas no Brasil e nos Estados Unidos e é fluente em inglês, francês, alemão e espanhol.

O bom currículo não teria serventia se não tivesse causado "boa impressão" a Frei Betto, que foi assessor especial de Lula nos dois primeiros anos de governo. "Temos um modo muito parecido de ver as coisas", contou a um amigo. Decerto disse isso a Lula. Doutor em povo, o chefe nem precisou sair às ruas para resolver que o advogado que nunca julgara um processo seria juiz da corte suprema. O indicado já estava de toga quando emergiu a informação ausente do currículo: é um brigão vocacional.

Antes da discussão com Gilmar, desentendeu-se com quase todos os outros. Impaciente com quem dele diverge, capaz de descobrir provocações por trás de cumprimentos banais, pronto para enxergar relâmpagos racistas em céu de brigadeiro, vive à beira de um ataque de nervos. "Ô, Joaquim, tu tem de superar essa mania de perseguição", aconselhou-o Lula, rindo, num jantar na casa do ministro Eros Grau. "Bola pra frente e para de se sentir vítima porque tu foi o primeiro negro a chegar lá. Eu só tenho quatro dedos, não tenho diploma universitário e não sou perseguido".

Como Lula não lê, não sabe que o "primeiro negro a chegar lá" foi o terceiro. Antes dele, passaram pelo STF Hermenegildo de Barros (1919 a 1937) e Pedro Lessa (1907 a 1921). Isso também é bem menos relevante que a decisiva cadeia de amizades: Lula confia em Frei Betto, e Frei Betto se entende muito bem com o ministro. O ex-assessor criticou severamente o escândalo do mensalão. Relator do caso, Barbosa processou todo mundo. Frei Betto é contra a extradição de Cesare Battisti. O mais veemente defensor do bandido foi Barbosa.

Esse é nosso excelentíssimo Joaquim Barbosa, um verdadeiro Pacheco de toga. Para quem não leu "A Correspondência de Fradique Mendes", de Eça de Queiroz, Pacheco é um personagem de cuja única competência era convencer as pessoas que era mesmo competente. Assim como Barbosa, Pacheco era uma fraude colossal cuja única sorte foi estar na hora certa, no lugar certo!

Quem pariu Mateus, ops, Zelaya que o embale

Essa semana o bigodudo com chapé de cawboy a là John Wayne disse que não queria mais brincar. É isso mesmo! Manuel Zelaya - Lembram-se dele? - disse que desistiu da sua restituição. Finalmente, o Maluco de Tegucigalpa tomou juízo e leu uma carta aberta a Obama em que diz não aceitar mais a sua recondução ao poder. Pare de rir, leitor! Que coisa! Ele não quer mais brincar! E diz que também não reconhece as eleições vindouras — que, não obstante, acontecerão.

Zelaya também lastima o que considera mudança de posição dos EUA, que já começam a admitir a possibilidade de reconhecer o governo que sair das urnas, ainda que o Malucão não seja reinstalado simbolicamente no poder.

O chato para Zelaya é que tudo segue conforme ele exigiu. A pendenga final da negociação era quem decidiria o seu retorno: a Corte Suprema, como queria Roberto Micheletti, ou o Congresso, como ele queria. Ficou decidido que seria o Congresso. Só que o acordo não previa data para a decisão e, como estava redigido lá, não tornava obrigatória a sua volta.

Estabelecia prazo, sim, para a formação do governo de unidade nacional — para o qual Zelaya não quis indicar representante. Sendo assim, está implicito que quem desrespeitou o acordo foi ele. Pelo visto, o homem vai ficar na embaixada brasileira como "hóspede" por um bom tempo. Agora, sim, a coisa está mais perto de sua real natureza: uma piada.

Pegue aí Celso Amorim, que o Bigodão é seu!

Tinha que ser o Chávez

Depois de eliminar a liberdade de cátedra, abolir o golfe (eita esportezinho burguês), recomendar que os cidadãos tomem banhos de apenas três minutos e poupem energia elétrica usando uma lanterna para ir ao banheiro, o nosso querido Chavito decidiu perseguir os venezuelanos que estão acima do peso. É isso mesmo! O imperialismo americano continua em questão, mas Hugo Chávez identificou uma nova ameaça à revolução socialista da Venezuela: a obesidade. Segundo o jornal britânico The Guardian, com a expansão das cinturas de seus compatriotas, Chávez os convocou para uma batalha contra a gordura, dizendo que a revolução precisa deles fortes e em forma.

"Há muitas pessoas gordas", disse, num discurso na televisão, e elas precisam de dieta e exercícios. "Fazer exercícios abdominais. Comer bem. É preciso aprender a comer". A intervenção de Chávez foi provocada por um estudo sugerindo que nas duas últimas décadas o sobrepeso médio dos venezuelanos passou de 6,3 para 14,5 quilos.

O mesmo estudo mostra que a nutrição no país melhorou e o presidente disse que a revolução assegurara três refeições diárias até para os pobres. "Agora estamos comendo melhor, mas precisamos ser cuidadosos", disse ele. Chávez, de 55 anos, declarou ter perdido quase 20 quilos com exercícios e dieta, embora permaneça nitidamente mais corpulento do que era quando assumiu o cargo há uma década. Chávez recomendou leite de soja e pasta de arroz em vez de macarrão de trigo.

Em discursos na TV, Chávez com frequência mistura os insultos contra o "império ianque" com conselhos para seus concidadãos lerem livros, evitarem o consumismo, pouparem água com banhos de três minutos, e economizarem eletricidade usando uma lanterna para as visitas noturnas ao banheiro. Combater a obesidade pode ser uma luta condenada ao fracasso, contudo.

Os venezuelanos são fanáticos por pratos que engordam como chicharrón (torresmo de porco) e gostam de encher arepas, uma espécie de empada de milho, com carne assada de porco e boi e de queijo. As refeições não são completas sem refrigerantes, cervejas ou rum com Coca-Cola.

Apesar das exortações do governo, a Venezuela é uma sociedade americanizada que vê nos jogos de beisebol um pretexto para comer cachorros-quentes e batatas fritas. As cadeias de restaurantes fast-food não encorajam a moderação. "Chega de dietas!", proclama um campanha publicitária em outdoor em Caracas, seduzindo motoristas com imagens de hambúrgueres, milk-shakes e bolos de chocolate.

A América Latina já sofreu com a desnutrição, mas o crescimento da renda e uma mudança nos estilos de vida - especialmente uma tendência ao consumo de comida de baixo valor nutritivo - produziram uma epidemia de obesidade. Na Venezuela, muitos dos que estão na mira de Chávez não veem nenhum problema na sua corpulência. Na praia, biquínis fio-dental são comuns até em mulheres visivelmente fora de forma. Uma das mais famosas misses da Venezuela, Alicia Machado, quase perdeu seu título de Miss Universo de 1995 por ganhar peso. Donald Trump, organizador do concurso, a chamou de uma "máquina de comer". Chávez tomou o cuidado de não se indispor com as mulheres e referiu-se mais aos "gordos" que às "gordas". "Não estou falando das mulheres, porque elas nunca ficam gordas." E acrescentou: "As mulheres às vezes encorpam".

Claro, a mais nova exortação de Hugo Chavez não tem absolutamente nada a ver com a crise no sistema de abatecimento venezuelano. Não é a falta de comida que inspirou o seu súbito ataque aos gordinhos, mas sim o sentimento altruísta de ver todos os seus cidadãos bonitos e saudaveis. Valha-me Deus! O que mais o paraíso socialista criado pelo Simon Bolivar do século XXI reserva aos venezuelanos? Digestão coletiva, como na Alemanha Oriental?

É como eu disse: o socialismo começa propondo a salvação da humanidade e termina numa grande mer... Bem, você sabem.

13 novembro 2009

O que os britânicos da The Economist realmente disseram sobre o nosso país

Ontem a noite o Jornal Nacional apresentou uma matéria de capa da revista The Economist que dizia, em letras garrafais, "Brazil Takes Off". Pois é! Bastou isso para que os petistas ficassem alvoroçados e começassem a torrar a paciência.

Além das reportagens sobre o Brasil, a revista dedica também ao país o seu editorial. É uma pena que os petistas não consigam ler o que está escrito lá e se conformem com alguns resumos edulcorados e devidamente filtrados pelo jornalismo militante do nosso grandioso - na circunferência é claro - Franklin Martins, o ministro da verdade.

Logo na linha fina, no subtítulo do editorial, a revista adverte que o novo risco para o maior caso de sucesso na América Latina é a "hubris". A palavra não costuma freqüentar os dicionários de inglês, mas está no Aurélio e no Houaiss, com acento — "húbris" —, que é como o termo grego chegou ao português. O que é a tal da "húbris"?

O termo poderia ser definido como "insolência", "orgulho excessivo", "arrogância" ou até mesmo mesmo "bravata" (lembram-se dela?). Para quem conhece um pouco de tragédia grega, a "húbris" é o que faz o herói quebrar a cara, se ferrar. Funciona mais ou menos assim: no auge da sua "húbris", o herói começa a entoar loas a sua vitória... Começa então uma reviravolta que, na maioria absoluta das vezes, culmina em um desfecho trágico. Os discursos de Lula, companheiros, são a mais notória expressão da "húbris". Vamos torcer para que o país continue no caminho certo — afastando, então, a insolência e a arrogância e, quem sabe, evitando o desfecho trágico que mencionei agora há pouco.

Mas, voltando a matéria da revista Economist... O editorial começa lembrando que, quando os economistas do Goldman Sachs afirmaram, em 2003, que o Brasil era o "B" dos Brics, o grupo de países que passariam a liderar a economia mundial, houve desconfiança. Éramos conhecidos por nosso futebol e nosso Carnaval, e não parecia que poderíamos ser um dos gigantes da economia mundial. Mas, sustenta o texto, a desconfiança se revelou errada.

A China lidera a recuperação da economia mundial, mas o Brasil está junto, "o último a entrar em crise e o primeiro a sair". O texto ainda lembra as vantagens que o nosso país tem em relação aos outros membros do BRIC:

“Diferente da China, é uma democracia. Diferente da Índia, não tem conflitos religiosos ou étnicos e vizinhos hostis. Diferente da Rússia, exporta mais do que petróleo e armas (…)”.

A Economist lembra ainda que a estabilidade do Brasil é fruto da sua disciplina, não veio de repente. Observa que essa trajetória começou nos anos 90, quando a inflação foi domada, os bancos foram saneados (é uma referência ao Proer, que o PT combateu tanto) — bancos que quebraram os EUA e a Grã-Bretanha, nota a revista —, e o país se abriu aos investimentos estrangeiros. Sim, a Economist se refere a medidas do governo FHC, todas elas rejeitadas por Lula e seus petistas até hoje!!!

E vem a tal "hubris". Se seria um erro subestimar o novo Brasil, afirma a Economist, também seria um erro ignorar suas fraquezas. E ela as lista:

“Os gastos do governo estão crescendo mais do que a economia como um todo, e os investimentos públicos e privados ainda são pequenos, o que lança dúvidas sobre as previsões mais róseas para a economia. Muito dinheiro público está indo para coisas erradas. A folha de pagamento do governo federal cresceu 13% desde setembro de 2008 (…) Apesar de avanços, a educação e a infra-estrutura ainda estão muito atrás das China e Coréia do Sul (como o apagão desta semana lembrou aos brasileiros). Em algumas áreas do país, a criminalidade é alarmante”.

E o editorial prossegue:

“O governo nada está fazendo para eliminar os obstáculos que existem para os negócios, especialmente a antiquada legislação que taxa a contratação de trabalhadores. Dilma Rousseff, candidata de Lula nas eleições de outubro próximo, insiste em que a reforma da arcaica legislação trabalhista é desnecessária.”

E na conclusão no editorial:

“E, talvez, este seja o maior perigo que o Brasil enfrenta: a húbris. Lula está certo ao dizer que seu país merece respeito, como ele merece muito da adulação que tanto o agrada. Mas ele é também um presidente de sorte, colhendo o resultado do boom das commodities e governando numa plataforma de crescimento construída por seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso. Manter essa boa perfomance num mundo que enfrenta tempos difíceis significa que o sucessor de Lula terá de tentar resolver alguns problemas que ele fez questão de ignorar. O resultado da eleição pode determinar a velocidade com que o Brasil avança na era pós-Lula. O caminho do Brasil, no entanto, parece definido. Seu salto é ainda mais admirável porque foi dado por meio da reforma e da construção de um consenso democrático. Quem dera a China pudesse dizer o mesmo”.

E esse é o espírito do especial da Economist sobre o Brasil: exalta as conquistas do país, aponta os acertos de Lula, mostra seus erros e seus limites, aponta o risco da arrogância e torce para que seu sucessor possa enfrentar desafios que se negou a enfrentar.

O resto é conversa fiada dos petista.

Para quem lê inglês, a íntegra está aqui, em link aberto. E noto: os elogios a FHC na reportagem são ainda maiores. Se tiver tempo, escrevo a respeito.

O apagão e a escola austríaca

Depois do apagão da última terça-feira, a revista Veja resolveu consultar um especialista no setor. O convidado foi Ernesto Cavasin, chefe do serviço de mudança climática da PricewaterhouseCoopers. Cavasin afirmou que a alternativa seria investir em pequenas e médias empresas capazes de produzir regionalmente energia alternativa como a biomassa, aeólica (dos ventos), e de outros recursos naturais. "Mesmo que essa energia esteja ligada ao atual sistema de transmissão interligado, esses pólos geradores seriam capazes de assumir sozinhos o abastecimento de uma determinada região, evitando um apagão geral".

Em outras palavras: devíamos descentralizar a geração e o fornecimento de energia a fim de evitar novas e maiores crises. Engraçado! Por que eu não estou surpreso?

É isso aí pessoal! Todas às vezes que falamos em diminuir o poder do Estado, seja através de privatizações ou da redução dos gastos públicos, somos taxados de malucos e antipatriotas. Felizmente, o tempo se encarrega de jogar luz sobre determinadas questões e creiam, ele tem sido muito generoso com liberais como nós. Mais tarde eu vou escrever um texto falando sobre o apagão da Era Lula, o nosso querido Rei Sol.

Ah... A matéria completa da revista Veja está aqui.

11 novembro 2009

Ainda sobre o muro

A revista Dicta & Contradicta, um dos poucos sites que ainda vale a pena ler, fez um especial sobre o muro de Berlim. O resultado ficou simplesmente fantástico!

Quem quiser conferir deve visitar o site da Dicta, clicando bem aqui.

O muro da vergonha

Há 20 anos, no dia 9 de novembro de 1989, uma multidão gritava em uníssono as palavras que poriam fim a Guerra : "Abram! Abram!". Eram os alemães do lado oriental, exigindo o direito de atravessar para o lado ocidental. O guarda responsável da fronteira finalmente cedeu, e ordenou: “Abram tudo”. Os portões escancararam-se. Era o fim do Muro de Berlim, ícone do regime socialista que vinha mantendo o próprio povo em cárcere desde 1961.

O muro foi construído para acabar com o êxodo dos alemães do lado oriental para o ocidente. O governo comunista justificou a decisão de construí-lo dizendo que esta era a única forma de acabar com "o contrabando de divisas e a atividade dos espiões". Para se conseguir atravessar de um lado a outro, era preciso passar por 18 operações de controle alfandegário, incluindo a revista das malas e bagagem, da carteira de dinheiro, do carro, além de um estudo minucioso do passaporte – tudo sob a mira de um guarda com o dedo no gatilho da metralhadora. De tempos em tempos, o governo comunista fechava a única porta entre os dois territórios, juntamente com todas as ferrovias, rodovias e linhas fluviais que ligavam as duas capitais.

Nos 28 anos de existência do Muro de Berlim, 809 pessoas foram mortas enquanto tentavam transpô-lo para fugir do comunismo. Em 1984, o governo comunista chegou, inclusive, a erguer uma segunda muralha na capital alemã. Mas nem isso conseguia impedir as pessoas de arriscarem a vida pela liberdade. Documentos dos arquivos da polícia secreta da Alemanha comunista, a Stasi, revelaram, em 2001, que mais de 75 000 alemães foram presos tentando escapar entre 1961 e 1989. Dos mortos, 250 foram baleados junto ao muro, 370 ao longo do que então era a fronteira entre as duas Alemanhas e 189 na região do Mar Báltico.

Diante de um cenário como este, é óbvio que a queda do Muro de Berlim representou uma vitória, não apenas do capitalismo como também de todo o mundo civilizado. Ela é digna, portanto, de todas as celebrações pelo que significou, mas pode contribuir um bocado, caso não se tome o devido cuidado, para obscurecer o presente e criar uma névoa que nos impede de ver o futuro com mais clareza. Explico-me.

A queda do muro e o fim da União Soviética jogaram luzes sobre o horror e, em boa medida, o surrealismo socialista. Tudo aquilo que a propaganda anticomunista mais vagabunda plantou sobre o socialismo real — e é, felizmente, o único tipo de socialismo que existe — era pura falta de imaginação! A realidade era muito pior. E a antiga Alemanha Oriental, onde o regime adquiriu o, digamos assim, rigor germânico, era a prova da inviabilidade do modelo. Afinal, convenham: quanto mais disciplinado for o socialismo, menos ele funciona, não é mesmo? Só para citar um exemplo ideológico-escatológico: escolas eram dotadas de latrinas coletivas, um imenso galpão, onde os estudantes, na hora certa, tinham que defecar, todos ao mesmo tempo. Era a chamada digestão coletiva. O socialismo é assim: começa propondo a salvação da humanidade e termina numa grande… Bem, você sabem.

Os que ainda se dizem socialistas têm razão em dizer que o fim da União Soviética e a queda do Muro de Berlim marcam a morte do socialismo real, restando apenas alguns mortos-vivos como Cuba e Coréia do Norte. É verdade! Só o socialismo real morreu. O socialismo ideal — infelizmente — continua vivo na mentalidade daqueles que ainda deliram com a engenharia social, que seria capaz de produzir, a partir da ação do estado, o tal "bem comum" a despeito, muitas vezes, da vontade dos próprios homens. Os socialistas idealistas têm certeza de que a única coisa que afasta os homens da felicidade coletiva são seus maus sentimentos, que devem ser exorcizados pela luta política, a ser conduzida por um guia ou por um partido. Ainda voltarei a falar deste assunto em um texto sobre o tão propalado “bem comum” dos socialistas.

O Muro caiu sobre a cabeça dos "planejadores" de futuro e engenheiros de gente. Mas, se olhamos a realidade aqui e alhures, tem-se, muitas vezes, a impressão de que ocorreu o contrário. Não há dúvida de que a economia socialista entrou em colapso, mas é inegável que foi a pressão por democracia e por liberdades públicas que fez dissolver o modelo. Essa pauta, no entanto, voltou a ficar acanhada nos dias que correm. O debate sobre a democracia, vital para a morte do socialismo real, desapareceu sob a imponência do crescimento chinês, por exemplo. O mundo, inclusive o Ocidente ainda democrático, olha para aquela tirania com os olhos entre tímidos e gananciosos do realismo político. "Tímidos" porque parecemos ter abraçado a tese de que a democracia vai bem para nós, mas eles lá podem ter descoberto a sua própria maneira de fazer as coisas. E "gananciosos" porque, afinal de contas, o capitalismo à moda chinesa, que se chama "socialismo" por lá, é uma fonte e tanto de lucro. E, querem alguns, livrou o mundo do caos — e a China cresceu, ela própria, na crise porque exerce a economia de mercado sem obedecer as suas regras: do comezinho desrespeito ao direito de patente ao dumping mais descarado. Vinte anos depois da queda do muro, a democracia universalista, que não deixou pedra sobre pedra por lá, cedeu a esse realismo tosco.

Ao longo de vinte anos, o "socialismo ideal" foi se reciclando e se insinuando nos espaços decisórios das sociedades de mercado, tornado influente a sua pauta e substituindo o valor supremo da liberdade — que foi a força que realmente derrubou o muro — pelos chamados "direitos coletivos" (seja lá o que esse troço signifique), que podem, a depender do caso, sufocar e esmagar os direitos individuais.

Na Europa e nos Estados Unidos, onde, por ora ao menos, as instituições são menos permeáveis à ação de aventureiros, a pressão dos "socialistas idealistas", dos vendedores do sonho coletivista, se expressa no universo da cultura e, eventualmente, das políticas educacionais e sociais. O Ocidente aprendeu a odiar a si mesmo, vendo-se como matriz de todos os desatinos. Certa cultura acadêmica pretende, por exemplo, que foi o Ocidente que inventou o terrorismo islâmico. Alguns celerados se juntariam com o intuito de destruir os valores ocidentais porque não saberíamos compreendê-los e ver o mundo segundo a sua ótica… Não é mesmo uma graça?

Na América Latina — e o Brasil não está imune a este mal —, além da contaminação da esfera cultural, há também a pressão sobre as instituições, exercida por minorias militantes (e o "idealismo socialista" ainda é o norte) que pretendem impor a sua vontade em nome do bem coletivo, do chamado "bem comum". Tentam jogar no lixo os princípios liberais, que respondem pelo bom progresso da humanidade, em nome de sua pauta de particularismos disfarçados de universalismo. Para descer ao chão: os Kirchner, na Argentina, incentivam bandidos de um sindicato a impedir a livre circulação de jornais. No Brasil, Lula pretende criar um órgão paralelo ao TCU porque não aceita que seu governo seja submetido às regras da vigilância e transparência — ao menos as possíveis. Chávez, por óbvio, é o melhor exemplo de como usar instrumentos da democracia para solapá-la. Estão tentando ressuscitar na América Latina o que foi devidamente enterrado no Leste Europeu. A diferença é que agora o socialismo real aparece travestido de “socialismo do século XXI”, mas isso é apenas um truque de retórica. O que eles, os socialistas, querem é seguir os mesmos passos fracassados do passado. Se olharmos com a devida atenção, veremos que pouca coisa mudou nesse período. Ao invés das prédicas e discursos do partido bolchevique (com letra minúscula mesmo), surgiu o discurso hipócrita da "revolução bolivariana", com que se pretende mascarar a ditadura, dando-lhe uma roupagem democrática. Trata-se do uso da "democracia" para destruir as nossas liberdades individuais mais básicas.

Vinte anos depois da queda do Muro de Berlim — e, na verdade, do fim da União Soviética —, saudemos, sim, a exposição da verdade sobre aquele modelo. O homem NÃO cabe naquela engenharia. Mas também não vamos nos dar por satisfeitos. Não é verdade que o regime de liberdades individuais e que a democracia política encontraram ali a sua vitória definitiva.

Ainda que sob nova roupagem, a ameaça à liberdade está mais presente do que nunca. O antigo e suposto universalismo socialista — "construir o novo homem" — manifesta-se, hoje em dia, nos particularismos influentes que, deixados à vontade, corroem o sistema que garante as liberdades individuais. E pouco importa qual seja a pauta dessa gente: os pobres, o "povo" (ainda ele), as ditas minorias raciais, a ecologia…

Viva o fim do muro, que iluminou o passado! Agora é preciso que o regime democrático recupere a iniciativa para demonstrar que é o único futuro que vale a pena ser vivido. No momento, aqui e alhures, ele está em baixa.